Gurijuba ou Pescada Amarela?
Os secadores de plantão têm que dar a mão à palmatória: o Fórum Social Mundial trouxe benefícios inestimáveis a nossa cidade. Durante uma semana, Belém tornou-se vitrine nacional e internacional. Pessoas de todas as etnias aqui vieram, com o intuito de debater, decidir políticas públicas para o bem da Amazônia, do Planeta. Concomitantemente, queiramos ou não, auferimos dividendos. A segurança melhorou 1000%. O turismo idem. Vias foram asfaltadas. O comércio vendeu como se estivéssemos no Natal. Pelas beiradas, mesmo sem estar oficialmente incluído no roteiro dos visitantes, o cronista também se beneficiou (e como!) com o evento.
Minha livraria e meu Restô – literalmente – bombaram! Teve noites em que fui obrigado a recusar clientes. Numa memorável incursão gastronômica, a filha de Che Guevara detonou meu estoque de unhas de caranguejo. Uma troupe de Panamenhos fez o mesmo com a Tequila. Finda a Tequila, passaram a tomar rum. Americanos e Canadenses esvaziaram hectolitros de Bourbon. Assim foi com os pastéis, os bolinhos de bacalhau, os sanduíches de rosbife, o chope, as cervejas… Quase tudo se esgotou, graças ao voraz apetite dos visitantes. Mas nem tudo foi um mar de rosas.
Na terça, um grupo de nativos chegou esfomeado: Tem macaco torrado?
Acho que eles tavam a fim de horrorizar. Macaco velho do rabo pelado, não me fiz de rogado.
- Me perdoem. O macaco torrado, o guisado de preguiça e o ensopadinho de jacaré acabaram agorinha. Se vocês tivessem chegado mais cedo… Mas ainda temos filé, picanha, frango, camarão, peixe, bacalhau…
Comeram, beberam e se fartaram, Na hora da dolorosa, a tentativa do aplique.
- Não temos grana. Somos índios. Somos inimputáveis.
- Não sei o que é isso. Mas vocês vão pagar! Ah vão!
- Brincadeirinha…
Pagaram em euro. De quebra, deram uma polpuda gorjeta pros garçons. É mole!
De outra feita, um grupo de franceses pediu o cardápio e perguntou o que era farofa. Vai um beócio como eu traduzir farofa. Meu francês é cametaense. Já me vu. Merci bocu… Sou ignorante, mas não sou burro. Fui à cozinha e retornei com um prato da dita cuja. Eles adoraram!
Mas o melhor (ou pior) depende do ponto de vista, estava por vir. Lá pelas tantas, me aparece um sujeitinho pra lá de circunspeto. Como pouco ou nada falou, era humanamente impossível definir sua origem. Podia ser português, italiano, espanhol, argentino… Como saber? Sentou no balcão e pediu uma Devassa geladéssima. Calma! Trata-se de uma espetacular cerveja. Beberica a loura com vagar, mordisca uma nigérrima e suculenta azeitona, enquanto espalha uma porção generosa de gorgonzola no crostine. Momentaneamente, deixo de lado o solitário e enigmático cliente. O dever me chama. Paulo Lazera e seu séqüito chegam a fim de uma mesa. Edson Salame idem. Os pedidos se avolumam na cozinha. Bacalhau à lagareira, Escalopinho à Mauro Guimarães, penne com camarões, arroz de pato…
Mesmo sem possuir o dom da ubiqüidade, me desdobro para atender a todos. Esgotado após a maratona culinária, tiro o avental e me quedo exausto no quintal. Nem deu tempo de relaxar o esqueleto. Sabem aquele cliente? Pois é.
- O senhor tem pescada amarela? Só aí descobri que o cara não era turista, era daqui.
- Temos sim!
- Manda uma na chapa. Purê de batatas e arroz.
Retorno pra cozinha e capricho no prato. Como todo gourmet, fico à espreita, esperando a reação do cliente. Acho que ele gostou. Afinal, raspou o prato e pediu um sorvete. Só então eu me cheguei. Como estava a pescada?
- Aquilo não era pescada, era gurijuba. Mas o sorvete de açaí estava divino. De onde é?
- É do Bode.
O cliente sempre tem razão.
Os secadores de plantão têm que dar a mão à palmatória: o Fórum Social Mundial trouxe benefícios inestimáveis a nossa cidade. Durante uma semana, Belém tornou-se vitrine nacional e internacional. Pessoas de todas as etnias aqui vieram, com o intuito de debater, decidir políticas públicas para o bem da Amazônia, do Planeta. Concomitantemente, queiramos ou não, auferimos dividendos. A segurança melhorou 1000%. O turismo idem. Vias foram asfaltadas. O comércio vendeu como se estivéssemos no Natal. Pelas beiradas, mesmo sem estar oficialmente incluído no roteiro dos visitantes, o cronista também se beneficiou (e como!) com o evento.
Minha livraria e meu Restô – literalmente – bombaram! Teve noites em que fui obrigado a recusar clientes. Numa memorável incursão gastronômica, a filha de Che Guevara detonou meu estoque de unhas de caranguejo. Uma troupe de Panamenhos fez o mesmo com a Tequila. Finda a Tequila, passaram a tomar rum. Americanos e Canadenses esvaziaram hectolitros de Bourbon. Assim foi com os pastéis, os bolinhos de bacalhau, os sanduíches de rosbife, o chope, as cervejas… Quase tudo se esgotou, graças ao voraz apetite dos visitantes. Mas nem tudo foi um mar de rosas.
Na terça, um grupo de nativos chegou esfomeado: Tem macaco torrado?
Acho que eles tavam a fim de horrorizar. Macaco velho do rabo pelado, não me fiz de rogado.
- Me perdoem. O macaco torrado, o guisado de preguiça e o ensopadinho de jacaré acabaram agorinha. Se vocês tivessem chegado mais cedo… Mas ainda temos filé, picanha, frango, camarão, peixe, bacalhau…
Comeram, beberam e se fartaram, Na hora da dolorosa, a tentativa do aplique.
- Não temos grana. Somos índios. Somos inimputáveis.
- Não sei o que é isso. Mas vocês vão pagar! Ah vão!
- Brincadeirinha…
Pagaram em euro. De quebra, deram uma polpuda gorjeta pros garçons. É mole!
De outra feita, um grupo de franceses pediu o cardápio e perguntou o que era farofa. Vai um beócio como eu traduzir farofa. Meu francês é cametaense. Já me vu. Merci bocu… Sou ignorante, mas não sou burro. Fui à cozinha e retornei com um prato da dita cuja. Eles adoraram!
Mas o melhor (ou pior) depende do ponto de vista, estava por vir. Lá pelas tantas, me aparece um sujeitinho pra lá de circunspeto. Como pouco ou nada falou, era humanamente impossível definir sua origem. Podia ser português, italiano, espanhol, argentino… Como saber? Sentou no balcão e pediu uma Devassa geladéssima. Calma! Trata-se de uma espetacular cerveja. Beberica a loura com vagar, mordisca uma nigérrima e suculenta azeitona, enquanto espalha uma porção generosa de gorgonzola no crostine. Momentaneamente, deixo de lado o solitário e enigmático cliente. O dever me chama. Paulo Lazera e seu séqüito chegam a fim de uma mesa. Edson Salame idem. Os pedidos se avolumam na cozinha. Bacalhau à lagareira, Escalopinho à Mauro Guimarães, penne com camarões, arroz de pato…
Mesmo sem possuir o dom da ubiqüidade, me desdobro para atender a todos. Esgotado após a maratona culinária, tiro o avental e me quedo exausto no quintal. Nem deu tempo de relaxar o esqueleto. Sabem aquele cliente? Pois é.
- O senhor tem pescada amarela? Só aí descobri que o cara não era turista, era daqui.
- Temos sim!
- Manda uma na chapa. Purê de batatas e arroz.
Retorno pra cozinha e capricho no prato. Como todo gourmet, fico à espreita, esperando a reação do cliente. Acho que ele gostou. Afinal, raspou o prato e pediu um sorvete. Só então eu me cheguei. Como estava a pescada?
- Aquilo não era pescada, era gurijuba. Mas o sorvete de açaí estava divino. De onde é?
- É do Bode.
O cliente sempre tem razão.
cronista9@hotmail.com
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N. da R. – Por motivos técnicos a crônica de Dênis Cavalcante não pode ser atualizada. A partir da próxima, esse problema será regularizado.
Agradeço as mensagens. (A.F.)
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