FELIZ NATAL, MAS NÃO ESQUEÇA O DONO DA FESTA
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ias atrás, fui até a Casa Porto comprar refrigerante. Havia um freguês
sendo atendido, mais um homem alto e forte e comigo chegou um taxista, jovem,
30 anos, atarracado, que foi logo estendendo dinheiro e pedindo uma draft. O
homem alto disse, cortesmente, que estava na sua vez de ser atendido. O taxista
disse que o atendente é que decidiria isso. Ah, é? Pois vamos ver. Senti a
tensão do ambiente. O rapaz da Casa Porto serviu primeiro quem estava na vez. Quando
se retirou, o taxista resmungou, pegou sua draft e saiu cantando pneus.
O que leva uma pessoa a estar com a paciência assim, no limite? Bem,
não faltam razões. E eu preocupado com o Natal. Gosto do Natal. Gosto de Papai
Noel. Minha lembrança é de momentos maravilhosos com minha família, quando
éramos todos crianças. Já contei, aqui, do Papai Noel que descia no edifício
Renascença e que passava de apartamento em apartamento, indo até o terraço e
jogando bombons para a multidão. E que já chegava meio bêbado, pedindo whisky,
levando meu irmão Edgar a nos dizer que Papai Noel bebia e era amigo do papai.
Também contei do “Papafilas” que ganhei de Natal e troquei com meu amigo
Cícero, por um caminhão feito de lata de óleo de cozinha e tampas de
refrigerante.
Não tenho problemas com o consumismo da época, tenho minhas tarefas
natalinas, e espero a data com alegria. Ouço Beatles. Os presentes, dou com
alegria. Compro pensando naquele que vai receber. E gosto de Papai Noel. A
recordação é essa imagem linda, do bom velhinho, bochechas rosadas, padrão
europeu, mas com rosto bondoso e feliz. Deixo de lado todas as outras
intepretações, desde a idéia do Noel ser negro. É outra discussão. A imagem é
que está gravada na memória. Me faz bem pensar nele.
Mas há exageros como a decoração do shopping Boulevard, que inclui um
iglu, em meio a branco total de neve. Um iglu? Isso em contraposição ao calor
senegalesco que temos lá fora. Também não entro nessa de Saci Pererê e
precisamos lutar contra o sistema. Mas não forcem a barra, também.
Lembro também de uma crônica de Carlos Eduardo Novaes, sobre o almoço
da família, no dia 25. Em um quarto, as mulheres mostram umas às outras os
vestidos ou mimos recebidos, com graves queixas contra os maridos. No quarto
das crianças, os adultos disputam acirradas partidas de Fifa 2016, enquanto os
moleques estão em um canto, aplicados no what’s up. Fantástico.
Publiquei no facebook um grafite que penso ser de autoria do excelente
Banksy, onde a imagem de Jesus Cristo, crucificado, tem a pender, de cada
braço, sacolas de compras. Grande idéia. É bom festejar o Natal, dar presentes,
confraternizar. Mas não podemos esquecer do dono da festa. Sou cristão e
duramente procuro seguir a filosofia desse cara que, em uma época bem
conturbada, com os judeus aguardando a chegada de um grande herói e seus
exércitos para expulsar os romanos e os levar de volta à glória, receberam um
homem, pescadores analfabetos e uma mensagem de paz, mansidão e bondade.
Pode nem ser a data verdadeira de seu nascimento. Na tv, pesquisam se
ainda está por ser descoberta a gruta onde nasceu. Mas para mim, a cada 25 de
dezembro, há um renascimento da minha fé, uma alegria por estar por aqui e
principalmente, ao lado de minha mãe, que me fez amar a data. A mensagem do
Cristo cabe em qualquer das religiões que hoje são motivo para brigas e mortes
absurdas. Hoje, adulto, sou eu quem compra presentes e vibro com os olhos
acesos das crianças. E quero estar, ainda, por muito tempo, sempre ao lado da
minha mãe querida, meu grande presente. Feliz Natal a todos.
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Transcrito do tdb-tudo de
bom/Diário do Pará
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