ROMULO MAIORANA,
que falta você faz
Pelo menos para mim, que sou
ainda considerado uma das viúvas do Romulo, expressão carinhosa que
Ossian Brito dizia para aquelas pessoas a quem RM ajudou.
Romulo Maiorana nesta quarta-feira/23
completa 28 anos de morto. Faleceu em São Paulo e foi inhumado em Belém, na
necrópole de Santa Izabel.
Romulo Maiorana, criador do sistema que
leva o seu nome e um dos maiores grupos de comunicação do País.
Eu fui um dos amigos que fui
receber o ataúde contendo os restos mortais desse grande homem, trazido pela
Transbrasil.
Romulo Maiorana, que se notabilizou pela
sigla RM, nasceu em
Recife/Pernambuco/RN - dia 20 de outubro de 1922 – filho do casal Francisco
Maiorana e Angelina Chiappeta Maiorana, de origem italiana.
Após servir à Pátria – como se
dia antigamente - foi estudar em Roma. No retorno ao Brasil, passou por Natal
no Rio Grande do Norte.
Fez tanto bem à cidade potiguar que a municipalidade homenageou
o ilustre filho que revolucionou a comunicação na Amazônia, dando o seu nome a
uma rua: Jornalista Rômulo Maiorana, no Conjunto Morada Nova – Bairro: Felipe Camarão • CEP: 59074-027.
Mas foi o amor pelo Pará que o transformou, se apaixonou. Foi um amor à primeira vista que se manifestou assim que pôs os
pés em Belém, no ano de 1953, aos 31 anos.
Perspicaz, como demonstraria
ser ao longo de sua vida e empreendedor dos mais notáveis. RM tentou alguns negócios comerciais,
como fabricar placas indicativas de ônibus, flâmulas e painéis luminosos,
através da Duplex Publicidade, montada numa bela área na Avenida Senador Lemos,
entre as Travessas D. Romualdo de Seixas e D. Romualdo Coelho.
Com o fechamento da Duplex Publicidade,
passou a fazer corretagem de anúncios para os três principais jornais da época: O Liberal, Folha do
Norte e A Província do Pará.
Posteriormente criou uma rede
sete lojas de vestuário e calçados, que inovaram em vendas e marketing, uma revolução
na época, - com as iniciais do seu nome RM – as famosas Lojas RM.
Mas o irrequieto “italiano” –
que sempre teve inclinação para jornalismo -, aliás, a sua verdadeira paixão -,
iniciou nos anos 60, a publicação de uma coluna social na Folha do Norte,
o maior jornal no estremo norte.
Antes já havia escrito algo
semelhante n´O Liberal –
à época porta-voz Partido Social Democrático (PSD), orientado pelo general
Joaquim de Magalhães Cardoso Barata, um dos maiores, senão o maior, caudilhista
do Pará. Foi interventor federal no Pará em 1930, voltou a ser interventor
durante a grande guerra e em 1953 foi eleito senador, preparando-se para
disputar – e vencer – a primeira disputa como governador eleito pelo voto
popular, em 1955.
O Liberal já não era mais do PSD:
fora adquirido pelo engenheiro e empresário Ocyr Proença. Todavia, o jornal
estava desacreditado e tirava 500 exemplares em 1966 e estava prestes a fechar.
Romulo
resolveu adquirir o jornal.
Fechou abruptamente sua famosa cadeia de lojas, na cidade, e comprou, em
1966, O Liberal. Ele teve de trabalhar dobrado para conseguir que a
velha e precária impressora – rotoplana -
funcionasse, imprimindo o velho diário.
Meses após
adquiriu uma rotativa que imprimia um jornal que havia fechado no Maranhão. O
Liberal passou a ser impresso um pouco melhor, com uma nova
diagramação, logomarca em azul, assim como as chamadas da primeira página. De
oito páginas passou para 16/10 páginas.
Romulo, inteligentemente, conquistou,
de saída, os jornaleiros com propostas vantajosas e presentes para que
apregoassem prioritariamente O Liberal. Dobrou as comissões dos
“baderneiros” e os vendedores de rua. Oferecia jornais de cortesia. Renovava
empréstimo, que por vezes eram esquecidos, oferecendo permuta de publicidade,
divulgando, com destaque, os nomes dos benfeitores.
Enquanto
isso comprou o passe de Cláudio de Sá Leal – que esteve à frente da Direção de O
Liberal há alguns anos passados, até a sua morte - e Eládio Bastos
Ribeiro (Eládio Malato) que trabalhavam já mais de 30 anos n´A Província do
Pará, que não abalava a circulação do jornal.
Em 1972,
já consolidado sua liderança, deu um golpe mortal na concorrência: adquiriu nos
Estados Unidos uma moderna rotativa offset “Goss
Comunity”, zerada.
Foi uma
festa.
Eu estava
presente no dia em que o garoto Romulo
Maiorana Jr apertou o botão que acionou a engrenagem da rotativa
amarela cheirando a leite!
O Liberal foi o primeiro jornal do
Norte a adotar o moderno sistema de impressão em off-set, que garantia rapidez,
nitidez, limpeza e qualidade na impressão.
Dois anos
depois, RM comprou a Folha, já decadente.
Ao invés
de tentar reanimar o glorioso jornal do passado, RM decidiu fecha-lo
preservando o titulo.
Paulo Maranhão - morto aos 96 anos, 18 anos
antes - diretor presidente da Folha do Norte, que comandara o maior jornal da Região mais
de meio século, - certamente estaria orgulhoso de ver o jornalismo paraense
ganhar nova roupagem, após longo tempo de estagnação.
O Liberal deixou a tradicional sede
da Rua Santo Antônio com a Praça D. Macedo Costa, onde nasceu, e passou a
ocupar o majestoso edifício da Rua Gaspar Viana, com fundos para a Boulevard
Castilhos França - onde em breve será ocupado por uma entidade de ensino.
Nesse
período adquiriu dos descendentes do ex-governador Luiz Geólas de Moura
Carvalho, o controle acionário da Rádio Difusora do Pará (ZYE-25) – que depois
passou a chamar-se Rádio Jornal Liberal e, finalmente, Rádio Liberal AM (1.330
Khz), como fora inicialmente registrada no então Dentel.
Dez anos após no dia 27 de abril de 1976, inaugurou a TV
Liberal – Canal 7 (VHF) e 21UHF (digital), montada em apenas
oito meses, com equipamento importado, moderníssimo, que passou ser afiliada da
TV Globo, em substituição a TV Guajará – Canal 4 – atual TV Boas Novas.
Pelos 10 anos seguintes Romulo não
pararia mais de investir, crescer e expandir seu poder. Seu jornal se tornou o
segundo maior consumidor de papel de imprensa do Norte e Nordeste, com tiragem
em torno de 60 mil exemplares, quase dobrando aos domingos. De cada 10 leitores
de jornal no Pará, quase nove liam O Liberal, uma proporção sem igual no
país na época. Seus outros veículos de comunicação eram, todos, líderes em seus
respectivos setores.
Com uma nota
na coluna principal do jornal – Repórter 70, título
criado desde que assumiu definitivamente o controle do jornal -, que ele
escrevia ou supervisionava, com o apoio de Hélio Gueiros, Ossian Brito e Newton
Miranda, podia fazer o sucesso ou o desastre de uma pessoa, empresa ou governo.
Quando morreu, exatamente num dia
como hoje, 23 abril de 1986, aos 64 anos, de leucemia, RM estava adquirindo um novo
e moderno parque gráfico para o jornal, além de equipamentos de ponta para as
emissoras de rádio e televisão, além de montar um novo tipo de negócio, a produtora
de vídeo, que deu origem tantas outras empresas das “ORM - Organizações Romulo
Maiorana”
Os sete filhos, que o
sucederam, sob a presidência honorária da mãe, Lucidéa Maiorana, encontraram
uma máquina azeitada, em pleno movimento e com um apreciável estoque de capital
líquido, os elementos que respondem pelo poder sem igual que O
Liberal tem exercido na história da imprensa do Pará.
Romulo Maiorana em
vida ajudou muita gente. Dentre eles o jornalista Guaracy de Brito – de saudosa
memória, pernambucano como ele e que “importou” do Jornal do Dia -
veículo que circulou por algum tempo em Belém; assim como Walter Guimarães – falecido
no ano passado -, também do Jornal do Dia, especialmente o jornalista
Odacyl de Souza Catette, funcionário de O Liberal por
muitos anos. Originário da Rádio Guajará – descoberto por Linomar Bahia - onde
fazia escuta de emissoras do Rio e São Paulo para abastecer os noticiosos da
emissora, Odacyl formou-se advogado.
Pena que
já se foi.
Romulo Maiorana foi
o paraninfo e forneceu-lhe o anel e a toga.
Eu também fui ajudado por RM.
Eu escrevia
uma página de Icoaraci aos domingos na Folha do Norte. Um dia
recebi um convite - através do Malato – para falar com o “italiano"
Numa
quarta-feira de março, por volta das 10 horas, estive lá.
Escoltado
pelo Malato e pelo Walter Guimarães, fui introduzido no gabinete de RM. Ele – elegantíssimo, num
conjunto bege e usando um sapato mocassin branco e sem meia, me encarou
fundo e disse. “Ah, então
é você é o Feio? Moço sei tudo sobre você. Fiz uma devassa na sua vida. Estou
com vontade enorme de conquistar o mercado de Icoaraci... por sugestão do
Malato quero saber se você quer trocar a Folha pelo nosso jornal?”
Pô, um
convite para escrever n´O Liberal, ademais feito pelo próprio
dono
Era a
glória!!!
Diante da
minha afirmação RM rezou o “padre
nosso"; ou seja, como seria o meu procedimento, como deveria me
comportar como colunista d´O Liberal; notícias quentes; texto leve
de modo que todos pudessem entendem “sem desprezar o vernáculo”.
Ele não
era de muitas palavras. Era prático e visionário.
Em seguida
mandou que o Walter Guimarães providenciasse a minha contratação e preparasse imediatamente a minha carteirinha... para facilitar as coisas.
Preparado
o documento, na mesma máquina elétrica IBM que utilizava, RM assinou e me entregou
dizendo feliz: “Agora.
Feio, você é dos nossos, Quero receber boas notícias. Confio em você”.
Ao lembrar
esse episódio me arrepio todo. A carteirinha, eu a conservo até hoje.
Sete anos
após, ao me transferir para o Rio de Janeiro, onde permaneci por 15 anos,
procurei Romulo Maiorana. Ele
me disse que não poderia de imediato me ajudar no Rio, pois dispunha dos
serviços das agências de notícias.
No entanto, como forma de reconhecimento pelo meu trabalho e dedicação a O
Liberal, eu poderia ser uma espécie de correspondente
mandando informações sobre os paraenses radicados no Rio, substituindo Martins
e Silva, falecido dois meses antes, e que fazia este trabalho para Folha
do Norte.
Disse-me, também, que ao chegar ao Rio procurasse a SITRAL –
representante de O Liberal – e que “o Guilherme
poderá facilitar as coisas e você pode usar o nosso serviço de malotes”.
Ao chegar
ao Rio, procurei a SITRAL e me tornei amigo da tchurma.
Nas correspondências
via Malote, facilitada pela SITRAL, manifestei o desejo de concluir o meu Curso
de Direito.
Três dias
após recebi um telefonema para ir a SITRAL. RM - via Ossian Brito – tinha enviado
uma correspondência para mim pelo malote da SITRAL/ Liberal.
No texto
havia uma série de recomendações e uma solicitação: se não conseguisse vaga nas
faculdades oficias (Federal e Estadual) que eu procurasse uma faculdade séria e
que terminasse Direito, mas que não deixasse de mantê-lo informado de tudo.
Inclusive
das notas!!! Muito importante!!!
Após algum
tempo, fui para a Artplan Publicidade, de Roberto Medina - a empresa que trouxe
Frank Sinatra ao Brasil, Barry White e que criou o Rock i Rio.
RM me encarregou de adquirir
ingressos para a apresentação da “Voz” no Rio Palace Hotel. Ele recomendou, ainda, que
procurasse o empresário Wandevelde Xavier Pereira, - um dos “cap" da então
Tranzamazon - seu compadre – que pagaria a despesa.
Deu tudo
certo.
RM se deslocou com a família
de Belém. Levou alguns convidados, inclusive o Abílio Couceiro, da Mercúrio
Publicidade, de saudosa memória.
No meu
regresso a Belém, RM me prestigiou.
Com o apoio de Fernando Negrão e José Croelhas, foi instalada a segunda
Loja de Classificados de O Liberal, que funcionou por algum tempo
no térreo do Pinheirense Sport Clube, graças, também, a Alfredo Coimbra,
presidente do clube, falecido em 2011.
RM me convidou para voltar
a´O
Liberal, mas... não deu: eu já tinha compromisso com outro veículo.
Existem
muitos outros aspectos que me ligam a Romulo Maiorana que foi, sem dúvida, meu
grande benfeitor, um amigo como poucos... que acho desnecessário contar.
Romulo
Maiorana não morreu
vive.
Tem escola
com o seu nome na Cidade Nova 8 - WE 87 – 171; Residencial no Tapanã - próximo
ao Conjunto Cordeiro de Farias - e rua; a 25 de Setembro agora se chama Avenida Romulo Maiorana, “como reconhecimento aos
serviços prestados pelo empresário, que contribuíram para o desenvolvimento do
Pará”.
A via está
localizada no bairro do Marco, alguns quarteirões da sede do jornal. Tem 2.780
metros de extensão e é cortada por 16 travessas.
Em 2003 RM
foi tema do Rancho Não
Posso Me Amofiná, cujo
samba foi defendido pelo Silvinho da Beija Flor. A escola foi campeã do
Carnaval daquele ano.
Romulo Maiorana nunca será esquecido. Pelo
menos por mim que sinto muito a sua falta.
Ah, sim, o
seu o jazigo no Cemitério Santa Izabel necessita de mais atenção. A frase Senhor fazei-me instrumento da
vossa paz – de
São Francisco de Assis seu Santo de Devoção - em bronze, que encima a campa,
cuja assinatura em bronze parte desapareceu.
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