O
Alquimista
Foi
em março que meu paciente favorito me presenteou O Mago – A Incrível
História de Paulo Coelho, de Fernando Morais. Além de terapeuta em Medicina
Tradicional Chinesa, sou escritor, e meu paciente favorito é mestre em Teoria
Literária pela Universidade de Brasília. Antes de começarmos o tratamento, já
costumávamos nos encontrar no Conjunto Nacional para almoçar ou simplesmente
tomar café, mas, sobretudo, bater papo durante horas sobre literatura. Somos
apaixonados por literatura. Eu também atendo a filha do meu paciente favorito,
uma princesa de 16 anos que a mim lembra anjos do cinema, e que me deixa em
dúvida sobre quem se beneficia mais da terapia: ela ou eu. Talvez ambos, porque
ela também é leitora inveterada e sua alegria, seu riso, funciona em mim como
injeção que vai lavando impurezas da minha alma. As crianças são poderoso
combustível para a luz. Quando conversamos com elas com o coração limpo,
ouvimos os sons da alma.
Eu morava em Manaus e já era
jornalista quando li A Ilha, de Fernando Morais, uma reportagem
sobre Cuba, publicada em 1976, e que se tornou, imediatamente, um ícone da
esquerda brasileira. Comunismo é, hoje, sinônimo de crime organizado, mas
Fernando Morais continua sendo um dos mais talentosos jornalistas brasileiros.
A biografia que ele escreveu de Paulo Coelho é da estirpe dos biógrafos
ingleses e americanos. Nada da apologia dos biógrafos brasileiros, que erigiam
monumentos. Fernando Morais vai fundo, observa o biografado inclusive
fornicando, extrai-lhe os pensamentos mais íntimos, leva o leitor a enxergar
com lupa as entranhas do objeto biografado, não poupa nada que possa elucidar
qualquer dúvida.
E quando uma dupla como Fernando
Morais e Paulo Coelho se junta o efeito é espetacular. Até março passado, Paulo
Coelho era um escritor que eu acompanhava de longe, lendo entrevistas suas
como, por exemplo, a da Playboy de agosto de 2008. Aqui e ali,
nas minhas expedições às livrarias, folheava algum livro de Paulo Coelho,
talvez movido pela curiosidade, pois como um escritor tão chicoteado pela
crítica pode ter se tornado o maior best-seller do mundo, e ser amado inclusive
pelos franceses, que são amantes dos grandes escritores?
Depois que li o extraordinário texto
de Fernando Morais, resultado de minuciosa investigação, Paulo Coelho se
revelou inteiro para mim, e pude compreender tudo. Entendi, prontamente, seu
sucesso. A alquimia do ficcionista carioca combina marketing, hermetismo e
criatividade.
Como disse, durante muitos anos a
paixão dos franceses por Paulo Coelho foi para mim um enigma, daí porque logo
depois que li O Mago parti para O Alquimista, o
primeiro livro do mago traduzido para o francês, e que alçou Paulo Coelho ao
Olimpo das mais badaladas celebridades mundiais.
Tenho uma amiga jornalista de quem
pude observar a trajetória profissional e passei a admirá-la pelo seu sucesso.
Ela me contou que era garota, no interior de Goiás, quando, ao ler O
Alquimista, descobriu que poderia vir para Brasília e encontrar seu tesouro
pessoal.
O Alquimista é uma parábola. Talvez queira dizer que no momento em que entramos
em harmonia com o universo o relicário que todos nós temos no coração se
revela, e o Universo conspira para que realizemos nosso desejo. E também
encontrei em O Alquimista um riacho tão cristalino quanto o
que jorra na alma do Santiago de O Velho e o Mar; a mesma pureza da
minha paciente, que é a pureza do Pequeno Príncipe; a mesma sabedoria do
alquimista.
Soube também que venho praticando
alquimia sem o saber, pois o que é alquimia senão trilhar o caminho,
despindo-se de apegos, procurando ser útil, até poder ouvir o som da Terra no
espaço, o choro dos jasmineiros, o hálito das rosas?
Só tenho a gradecer ao meu paciente
favorito e à sua princesinha, ao Fernando Morais e ao Paulo Coelho por
descobertas tão importantes. Obrigado por tudo!
♦♦♦ RAY CUNHA – Escritor e Jornalista
baseado em Brasília-DF, Brasil, e o mais antigo colunista do Jornal
do Feio
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