PAULO FERRER vai informar, em primeira mão, direto da Eternidade
O
Jornalista e Radialista PAULO FERRER morre após sofrer um AVC, Conhecido por seu bom humor, Ferrer estava aposentado há
seis anos
Um dos maiores nomes da história do rádio paraense, o radialista Valter José da Conceição, mas conhecido por 'PAULO FERRER', morreu nessa segunda-feira/30, aos 71 anos.
Ferrer foi
internado na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) de um hospital particular no
bairro do Marco, em Belém, ainda na noite do domingo. De acordo sua esposa,
Ruth da Conceição, ele sofria com complicações da diabetes, doença que o
afligia há12 anos. 'Ele teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral) e não resistiu
após uma parada cardíaca na tarde de hoje', afirmou aos jornalistas.
O
corpo do radialista de Paulo Ferrer está sendo velado na Igreja dos Capuchinhos.
O enterro acontece, nessa terça-feira/31, às 10h, no Cemitério Santa Izabel.
Esse era o PAULO FERRER, repórter amarelinho
Valter
José da Conceição, ou PAULO FERRER começou no rádio em 1964, na Rádio
Imprensa em Anápolis, Goiás, seu estado natal. Sua função era plantonista do
setor esportivo. Mudando para Belém, o radialista iniciou sua trajetória em 1969,
na então Rádio Difusora do Pará (ZYE-25), em uma época em que o forte da Rádio
era a programação musical, com Jovem Guarda, Bossa Nova, e predominância de
músicas românticas.
Na
Rádio Liberal AM, que a substituiu com nova denominação, trabalhou durante os
anos de 1990 até 2002 no esporte, onde era setorista da Tuna Luso Brasileira,
seu time do coração que adotou desde o início da sua transferência para Belém;
Ferrer
ficou conhecido também como o repórter 'Amarelinho', quando apresentava um
programa ondee noticiava ao vivo os fatos de qualquer ponto da capital
paraense. E foi muito conhecido por ter uma vasta lista de 'fontes'.
Nas redes
sociais, várias pessoas fazem menções sobre o radialista, um exemplo é um
twitter da Tuna.
Na Rádio
Marajoara Paulo Ferrer se notabilizou como o Repórter Amarelinho que falava “ao
vivo” de todos os lugares utilizando uma engenhoca eletrônica – parecida com os
primeiros celulares – importado pela emissora. A novidade deixava os ouvintes
na rua impressionados, não apenas pelo alcance da transmissão, como também pela
qualidade e a nitidez.
O
equipamento “Motorola” foi adaptado também ao veículo de transporte da
emissora. Era um carro amarelo com as cores e o nome da Marajoara.
Primeiramente um fusca e logo depois um kombi . Como o Paulo Ferrer era o único
que andava no carro, além do motorista ficou conhecido como “repórter
amarelinho”.
O “repórter
amarelinho” descreve um episódio curioso do qual participou com a ajuda do
Motorola. Houve uma fuga de presos para a cidade de Barcarena, no interior do
Estado.
No município
havia apenas um telefone, que funcionava das 15 às 18 horas somente. Naquela
época, quando os 16 bandidos fugiram para o município, todas as emissoras
seguiram para o local, munidas apenas de gravador. Os repórteres gravavam
sonoras com os moradores e a polícia e tinham que mandar o material por
telefone.
O problema é
que a Telepará tinha horário e tempo estabelecido, quem os ultrapassasse,
corria o risco de perder a notícia para as outras emissoras. Por causa desses
problemas, muitos repórteres tiveram que voltar para Belém. Foi quando o
repórter Paulo Ronaldo teve a ideia de bloquear o único telefone da cidade para
a empresa dele, deixando as outras emissoras para trás.
A Rádio Marajoara,
onde Paulo Ferrer,trabalhava decidiu mandar o “amarelinho” para Barcarena e lá
perceberam que, com o Motorola, era possível manter contato direto do município
com a rádio em Belém.
A concorrente, que havia se apropriado do
único telefone da cidade, foi deixada para trás. Com o Motorola era possível ir
atrás da notícia onde quer que ela estivesse, enquanto isso a emissora
concorrente gravava e passava o material por telefone. A Marajoara entrevistou
bandidos e polícia ao vivo durante a programação.
Nos 15 dias que passou em Barcarena, até ser
preso o último bandido, o “repórter amarelinho” deu um “show de notícia”, e de
Ibope, segundo Paulo Ferrer.
Ferrer trabalhou mais de 20 anos como
“Amarelinho”, um quadro da Rádio Marajoara em que eram noticiados fatos ao
vivo, de qualquer lugar de Belém. O “Amarelinho” tinha uma fonte de informações
muito grande: motoristas, policiais, membros da justiça estadual e federal. As
reivindicações junto ao Governo eram permanentes, e os problemas eram sempre
solucionados.
O nosso grande morto viveu num período
do rádio que a Marajoara passou 15 anos seguidos como líder do IBOPE. Entre os
programas de sucesso dessa época, estiveram o “Show da Cidade” e o “Antena
Policial”. Entre os fatos marcantes na carreira de Ferrer estão as entrevistas
com Pelé e com o ex-presidente da República João Batista Figueiredo.
Valeu
até sapo no gramado
Num texto retirado da internet e
publicado no dia 17 de janeiro último, Harold Lisboa lê-se que Paulo Ferrer, um dos maiores adeptos da Tuna Luso e
a entradas de sapo no gramado para ajudar o time...
E mais:
Faça chuva, faça sol, se a Tuna Luso está em campo, pode ter
certeza, o radialista aposentado Paulo Ferrer, 70 anos, está nas arquibancadas
ou melhor, com a cara colada no alambrado empurrando o time do coração e, em
alguns momentos, "elogiando" árbitro e assistentes. O ritual acontece
desde que esse goiano desembarcou em Belém vindo de sua cidade de Anápolis/GO. Wálter José da Conceição, este é seu nome
verdadeiro, é, talvez, o mais folclórico dos torcedores tunantes.
Só para se ter uma ideia, ele já chegou a levar um saco cheio de
sapo para assustar o goleiro do time adversário, que ele soube ter pavor ao
anfíbio.
Amor à
primeira vista
O amor à
Lusa nasceu em 1969, quando ele desembarcou em Belém. "Foi a amor a
segunda vista. Antes de me decidir pela Tuna, assisti a um Re x Pa, mas os
times não mexeram com o meu coração. Só na segunda vez que foi ao estádio para
ver Tuna e Sport tomou a decisão de ser tunante. "Para o resto da
vida", como diz. "A Tuna venceu o jogo por 5 a 0. Sai do estádio entusiasmado
com a equipe da Tuna. Era um timaço", recorda.
A história
dos sapos é contada por Ferrer em detalhes. "A Tuna precisava vencer o
Fortaleza/CE para ir para o triangular final da Taça de Prata", lembra.
"Soube dias antes que o goleiro deles, o Salvino, que era um grande
arqueiro, tinha repulsa a sapo. Contratei um garoto para me arrumar um sapo,
que eu pretendia soltar atrás do gol do time deles. O moleque apareceu com um
saco cheio e jogou por cima do alambrado. O gramado estava molhado e quando o Salvino
viu aquilo ficou apavorado. Ganhamos o jogo por 5 a 1 e fomos à fase
seguinte", recorda.
Sofrendo
de diabetes, Ferrer quase não tem ido aos estádios. Mas com a Lusa classificada
para a fase principal, ele promete voltar a incentivar seu time e, de quebra,
perturbar árbitros e bandeirinhas. "Agora volto a ter mais
motivação", revela. Em tantos anos de arquibancada, ou melhor, de
alambrado, Ferrer diz ter visto uma série de grandes jogadores com a camisa
lusa. "Mas os melhores mesmos foram o Omar (goleiro) e o Mesquita
(meia)", aponta.
♦ Nildo
Lima do Amazonia Jornal
“PAULO FERRER – Repórter das Rádios Cultura e
Liberal”
Para
concluir que essa pequena homenagem ao amigo e colega PAULO FERRER, o JORNAL DO FEIO
republica um trabalho de Mônica Maia, aluna do curso de Comunicação Social da UFPA, habilitação
jornalismo, em 1999 , pinçado do blog O pará nas ondas do Rádio.
O texto é parte integrante da
pesquisa “Os Setenta Anos de Rádio Em Belém”, coordenada pela Professora Drª
Luciana Miranda Costa, do Departamento de Comunicação Social da UFPA, e também
fez parte do TCC de Mônica,“O Rádio na
década de 70 – Relatório Conclusivo”, cuja Orientadora foi a Professora Drª
Luciana M.Costa.
Resumo
Paulo Ferrer
começou a trabalhar em rádio em 1964, no ano em que o Brasil passava pela
Revolução. Iniciou sua carreira como repórter na Rádio Imprensa
(Anápolis-Goiás). Depois disso passou por outras rádios até chegar em Belém em
1969, onde trabalhou na Rádio Difusora, que anos depois se tornaria Rádio
Liberal.
Em Belém, Paulo
começou cobrindo o setor de esporte, mas o forte da Rádio Difusora na época era
a programação musical, com Jovem Guarda, Bossa Nova, e predominância de músicas
românticas.
Entre os
programas de sucesso da década de 70, Paulo cita o “Show
da Cidade” , o “Antena
Policial” , o “Dona da
Noite” e o Programa
Eloy Santos . O radialista afirma que naquela época as emissoras de
rádio tinham mais facilidade para conseguir anunciantes, até porque ainda não
existiam as rádios FM.
Sobre os
fatos marcantes de sua carreira, Paulo Ferrer destaca os personagens ilustres
que já entrevistou, como o Pelé e o ex-presidente da República João Batista
Figueiredo. Ele fala ainda sobre o mercado de trabalho do rádio-jornalismo e da
permanência da mídia como quarto poder em nossa sociedade.
Paulo Ferrer - Foi no ano de 64, 31 de março de
1964. Foi quando estourou a Revolução, eu estava em Brasília e alguém se
comunicou comigo e pediu para que eu fizesse para a rádio a notícia, porque até
então, em Goiás, ninguém sabia o que estava acontecendo. Eu mesmo pouco acesso
tive porque eu estava muito preocupado, eram muitos tanques nas ruas. Na
capital Federal, tropas da polícia mineira, tropas do exército, das três forças
armadas, então eu pouco sabia. Mas com o auxílio de alguns jornalistas eles me
passaram que aquele era um novo poder que estava assumindo o país a partir
daquele momento. Então, aí eu passei o boletim para minha cidade (Goiânia), e
fiquei três dias ainda em Brasília detido porque na fronteira não entrava, não
saía ninguém, a não ser as forças armadas. Aí então quando retornei eu tive
sérios problemas com a reportagem que eu fiz, pois nem eu mesmo tinha
consciência do que estava acontecendo. Eu falava só aquilo que eu via, que eram
as prisões, as agressões, aquelas coisas que aconteceram no dia da Revolução.
♦ Tu tinhas quantos anos nessa
época?
PF - Eu estava com 24 anos, e eu tinha sido contratado para o
departamento de notícia a partir daquele momento, mas seria o plantonista
esportivo. Depois eu passei por várias emissoras do Estado, como Rádio Santana,
Rádio São Francisco e com algumas participações na Rádio Brasil Central, de
Goiânia, que é uma das maiores rádios do Planalto Central.
♦ Essa primeira rádio que tu
trabalhaste ficava lá em Goiânia?
PF - Não, em Anápolis, que é uma cidade que fica a 50 km , como
fosse Belém - Castanhal. Anápolis é o maior pólo industrial do Estado, é a chamada
capital econômica do Estado, Goiânia era a capital administrativa, até porque
Goiânia é muito jovem, ela foi fundada em 1945, tendo, portanto 54 anos, não é
mesmo? E Anápolis já tem quase 75 anos, 80 anos, por aí. De modos que até
clima, os climas são muito diferentes: Goiânia é um clima forte, torrencial
como o de Belém, e Anápolis é um clima frio, como Brasília faz lembrar muito,
São Paulo, essas cidades de clima muito frio. E na época existiam quatro
emissoras de rádio, sendo a Rádio Carajás a sexta emissora mais antiga do país,
ela que foi fundada em 1940, estando, portanto, com 59 anos atualmente.
♦ Qual era o nome da primeira rádio
que tu trabalhaste?
PF - Trabalhei na Rádio Imprensa, mas já existia na minha cidade a
Rádio Carajás que existe até hoje. Agora o rádio sempre foi o meio mais rápido
de comunicação, pessoas que não se conhecem, mas sabem tudo da outra pessoa
porque o rádio é muito dinâmico, ele entra na porta da frente, na porta dos
fundos, pelo telhado, ele entra na casa, ele dá o recado, as pessoas ficam
sabendo dos costumes, dos hábitos, das virtudes, dos defeitos das pessoas que é
como se as conhecessem pessoalmente. Haja vista que, por exemplo, aqui no Pará,
o rádio exerce uma função muito grande. Eu inclusive, fazendo uma vez uma reportagem
com um índio, no Dia do Índio, dia 19 de abril, ele me dizia que a tribo dele
não ouvia a minha rádio que achava graça porque aqui me chamavam de “o
amarelinho”, achavam que eu era bem magrinho, bem franzino, quando eu era
forte, gordão.
♦ Quando foi que tu vieste
trabalhar em rádio aqui em Belém? Em que ano foi e qual foi a rádio?
PF - Foi em março de 1969, na Rádio Difusora, depois passou a ser
Liberal. Portanto, vou fazer, só no Pará, trinta anos de moradia, trinta anos
de rádio.
♦ Lá na Rádio Liberal qual era a
tua função?
PF - Era no esporte, como setorista da Tuna Luso Brasileira. Quando
aqui cheguei, a Tuna tinha 17 anos que não ganhava um campeonato. Eu cheguei e
não sei, trouxe sorte e naquele ano ela foi campeã. A Rádio Liberal era considerada
a força jovem. Havia a Rádio Clube, a pioneira, a quarta emissora do país.
Depois havia a Rádio Marajoara, a Rádio Guajará e a quarta a Rádio Liberal que
já estava na administração da família Maiorana.
♦ Nessa época, como é que era a
programação da Rádio Liberal? O que era mais forte, era esporte, era jornalismo
mesmo, era informação, era música?
PF - A rádio era musical, musical muito forte. O esporte comandava
com quatro programas: um pela manhã, um no almoço, um à tarde e outro à meia
noite. As notícias eram intercaladas, de hora em hora. Isso na década de 70.
Agora, as músicas eram da Jovem Guarda, da Bossa Nova, músicas românticas da
época, estava chegando o rock na época.
♦ Nessa época, já não tinham mais
as rádio-novelas, que já eram até...Eu acho que em 60, eram forte ainda nas
rádios. Não tinha mais na década de 70 isso?
PF - Não porque não havia mais os elencos, você sabe que uma
rádio-novela tem que ter bastante gente, uma equipe muito forte para fazer, a
não ser um ou outro que fazia duas vozes, mas sempre é um elenco de mais de dez
pessoas fazendo. Novela a Marajoara fez, a Rádio clube fez durante muito tempo
e a Rádio liberal não chegou a fazer.
♦ Tu te lembras de alguns programas
que existiam nessa época na década de 70? Programas famosos que tiveram muita
audiência?
PF -“Show da
Cidade” , das nove
ao meio dia, era José Travassos que apresentava. Era um programa em que a dona
de casa, dizia o que ela pensava, o que ela precisava. Ele era direcionado à
dona de casa. Havia um programa policial muito forte, o “Antena Policial” ; e havia
programas à noite de músicas como “Falem-me” .,
“Dona da Noite” , muito
romântico, muito ouvido.
♦ Tem algum outro que tu lembras?
PF - Ah, sim. Tinha o Programa
Eloy Santos , de muita audiência e o programa das nove às onze
horas, Programa Almir Silva ,
era mais música de forró e músicas de quadrilha, porque a época junina era
muito comentada aqui, então tinha esse programa.
♦ Agora, tinha um público certo pra
esses programas? O público de vocês era mais jovem, era mais idoso ou era
assim...Geral mesmo?
PF - O público era de 25 anos pra cima. O público jovem tinha
também, mas eles pouco participavam dos programas. A não ser as mulheres
telefonavam, pediam as músicas da época; agora uma coisa impressionante era que
as festas juninas eram feitas no meio das ruas, cercavam as ruas e as emissoras
transmitiam às vezes essa festa, entende? E era uma coisa muito boa realmente;
e tinha também um carnaval que era um carnaval que explodiu depois da década de
40, de 50, de 60 ele deu uma paradinha e explodiu em 74 com uma série de
blocos, como: “Chavante” , “Os Bandalheiras ”, “Filhos da Fruta” e outros blocos
que realmente foram sensacionais. Trouxe um carnaval muito forte, movimentando
as escolas que estavam paradas, como é o caso do “Rancho”
(“Rancho não posso me amofiná”), da “Embaixada
Pedreirense ”, do “Quem são
eles” . As escolas passaram a ficar dinâmicas até que surgiu também
uma escola mais na onda do rádio que foi a “Arco Iris” .
♦ Nessa época, tu lembras como é
que acontecia a publicidade em rádio? Quem anunciava mais, era comércio, lojas,
empresas grandes?
PF - Todo mundo anunciava. As emissoras de rádio, porque não tinha
ainda FM, as emissoras de rádio estavam assim...Colocando na fila de espera
firmas que queriam anunciar, mas já tinha firmas. Por exemplo, naquela época
apareceu o grupo Xerfan, e muitas lojas, a Tecidos Povo e outras, aquelas lojas
tradicionais: Lojas Brasileiras, Lojas Americanas, então havia muitas lojas que
faziam seus anúncios; e as rádios tinham uma receita em cruzeiro que era uma
beleza, faturavam mesmo. Além desse faturamento, as rádios tinham uma
programação endereçada ao interior, é o caso da Marajoara: “Alô, alô interior”, mensagens
que, naquela época, ela cobrava cinco cruzeiros e era meia hora. Houve a
necessidade de aumentar mais meia hora, uma hora para que, na época de dia dos
pais, dia das mães, Círio, as pessoas pudessem mandar mensagens para o
interior. Também eram muito procuradas mensagens desse tipo no rádio.
♦ Na década de 70, existiam
políticos que eram radialistas ou radialistas que se tornavam políticos?
PF - Radialistas que se tornavam políticos. Na época, pelo menos, as
pessoas ficavam famosas, como Paulo Ronaldo, uma votação de Deputado Federal
estrondosa, José Guilherme. O Thompson Mota se elegeu em dois dias de rádio.
Dois dias ele ficou no rádio fazendo um programa, conscientizando a juventude
que eles tinham direito do voto e acabou se elegendo vereador. E outros, como o
mais recente caso do Edson Matoso; Adamor Filho eleito vereador; Oséas Silva,
eleito deputado por três vezes; Costa Filho eleito deputado estadual; e tinha
Joaquim Antunes, cuja irmã foi eleita por ele praticamente, que comandava um
programa muito interessante...
O Joaquim
Antunes tinha um programa “Bolso do
repórter” . Ele levava uns 20 bilhetes dentro do bolso, aí tirava:
“A dona Maria tá reclamando que a rua dela não tem água”; rasgava o bilhete e
tirava outro. Então dava 20 recados tirando bilhetes do bolso. Aonde ele
passava na rua o pessoal dava bilhete e ele botava no bolso. Um dia aconteceu
uma coisa gozada, uma pessoa estava reclamando do clube que ele gosta, que é o
clube o Remo, e ele chegou na hora pra reclamar e começou a falar, quando ele
viu que era do Remo ele falou: “Não, não, não foi algum engano”, que ele não
queria falar mal do clube dele. Na década de 70, dos anos 73 pra frente, surgiu
uma nova comunicação aqui no rádio. Era a “Motorola”, considerada a FM. A
Marajoara foi a pioneira, foi a primeira emissora a lançar a “Motorola”. Ela
era diferente porque, até então, só se fazia reportagem por telefone, adaptando
microfone nas tomadas telefônicas, aí veio a Marajoara com a Motorola. Era um
carro amarelo com as cores da rádio, escrito o nome da rádio e eu então era o
repórter “Amarelinho”. Falava de bairros, falava de qualquer lugar, isso então
tornou-se uma coisa impressionante. “Como que esse rapaz está em Icoaraci, no
meio da rua, falando com os ouvintes, sem fio, sem nada?”. Através da Motorola.
E quando houve uma fuga de presos para Barcarena. Havia um telefone só em
Barcarena, esse telefone funcionava das 15 horas às 18 horas, quem falava nesse
horário falava, quem não falava ficava sem falar. Naquela época, quando esses
16 bandidos fugiram para Barcarena, todas as emissoras foram levando gravador.
Gravava com os moradores, chegava num horário na Telepará e passava. Foi quando
um repórter muito sabido, um dos maiores repórteres, o Paulo Ronaldo, bloqueou
o telefone só para a empresa dele, então comprou o horário todo e as outras
ficaram sem funcionar. Muitos voltaram, porque não adiantava você gravar pra
com dois dias, você vinha a Belém e passar a reportagem, e ele passava todo dia
à tarde com a defasagem de oito, nove horas, mas ele passava. Foi quando nós
tivemos a idéia de levar o “Amarelinho” para Barcarena. E qual a surpresa
nossa? Chegando lá dentro de Barcarena eu chamei a torre e a torre falou: “De
onde está falando, é aqui de Belém?” E eu: Não é de Barcarena. “Ó, mas tá
local”. Aí acabou, destruímos a outra rádio. Aonde nós íamos entrávamos na
mata. A polícia prendia um bandido, agente entrevistava a polícia, o bandido,
ouvia os moradores. Então o “Amarelinho”, naqueles 15 dias que ficou na mata
até ser preso o último bandido, então todo mundo ficou admirado, e todo mundo,
quando chegava via o “Amarelinho” na rua, olhava pra ver o que tinha no
“Amarelinho”. Era um aparelho de um palmo de comprimento por meio de largura e
atrás um aparelho grande que é onde saía o som para a antena que era jogado (o
som era jogado) para a outra antena que estava no Manoel Pinto da Silva, então
esse era o segredo. E até hoje as emissoras usam o Motorola, como por exemplo,
na Liberal usam, aqui na Cultura usam, mas hoje tem o celular que veio melhorar
muito a nossa vida, é mais caro, mas é mais prático.
♦ Naquela época, o Motorola era o
que tinha de mais moderno?
PF - Inclusive nas jornadas de futebol de campo havia aqueles
Motorolas grandes, pesados, que a gente tinha que pegar com duas mãos pra
entrevistar. Colocava na cara do jogador, o jornal batia a foto e só aparecia o
aparelho. Depois foi ficando mais sofisticado, aparelhos menores Motorola.
Esses aparelhos vinham dos Estados Unidos, custava em dólar, então ficava
difícil para as emissoras. Daqui só quem tinha era a Marajoara, depois a
Liberal, posteriormente o Rádio Clube, aí foi, todo mundo passou a ter esse
aparelho.
Até mesmo o
gravador só veio surgir do meio pro final, porque no início da década de 70
ainda não tinha o gravador.
Havia
gravadores, mas gravadores grandes, muito antigos, mais usados nas redações. O
gravador pequeno, o gravador de bolso, começou a surgir nos anos 75, daí pra
frente. Abriu-se a Zona Franca de Manaus e começou a aparecer esse tipo de
equipamento.
♦ Tu lembras de um acontecimento
marcante durante a década de 70?
PF - Eu tenho na minha vida alguns acontecimentos. Primeiro foi
entrevistar o Pelé, em 66: ele vinha da Europa, o Brasil tinha perdido a Copa
do mundo, mas ele engajou-se ao clube dele, o Santos, e foi campeão do mundo de
clubes. Mas ao invés dele voltar para a casa dele, que era Santos, com o título
de campeão mundial, ele tinha um compromisso em Goiânia, um jogo, e nesse meio
tempo que ele saiu da Europa que chegou em Goiânia, nasceu a filha dele. E nós
fomos fazer a entrevista do jogo lá, e nos deu a idéia de fazer uma homenagem
pra filha dele comprando brincos de ouro e uma esmeralda bem pequenina. E
chamamos ele para a entrevista. Naquela época, aonde o Santos ia milhares de
microfones, fios, não tinha outro tipo de aparelho, fios embaraçando um no
outro. Foi quando o Pepe, que jogava com ele disse: “Olha, tem um repórter que
quer prestar uma homenagem a sua filha que nasceu”. Ele veio correndo alegre,
então eu dei aquele brinquinho, foi quando lágrimas brotaram dos olhos dele,
quer dizer, ele não conhecia a filha dele, ele já ia levando, e a filha dele já
era querida, era a Kelly Cristina, que é a filha mais velha dele, tem 33 anos,
depois veio Edinho, depois vieram outros casamentos. Para surpresa minha, um
dia um diretor da nossa emissora de Goiás foi à casa dele tomar chá, e ele
contou que um repórter em Goiás homenageou e ele não tinha esquecido, foi
quando mostrou um cartão que todos nós havíamos escrito lá, que estava o nosso
nome. Então foi uma surpresa muito grande.
Depois a foi
com o João Batista Figueiredo, que era presidente da República. Foi no fim da
década de 80, foi quando ele já estava popularizando o Governo, democratizando.
Ele veio ao Círio aqui, e o Alexandre Garcia, que foi jornalista da Globo nós
pedimos pra ele pra entrevistar. Ele falou: “Não, não tem condições, o homem
não dá entrevista pra ninguém”. No decorrer do Círio, da procissão, daquele
sacrifício todo, ele vendo todo mundo e tal. Ai o Alexandre falou: “Olha, ao
chegar em Nazaré ele vai carregar o andor da virgem, ele vai carregar a
berlinda, e ele disse que nessa hora, durante um minuto, vocês podem
entrevistá-lo”, quer dizer, nem todos ficaram sabendo disso porque uns ficam no
fim do Círio, outros ficam...Como eu tinha um aparelho, que era o Motorola que
ele falava numa distância de mil metros, ali estava a 200 metros da minha
rádio. Eu fiquei toda hora: Alô, alô, alô, o presidente vai falar, a qualquer
momento ele vai falar. Quando o presidente passou o lenço, quando ele pára no
sinal que ele passou o lenço pra limpar o calor, nós encostamos. Eu me lembro
um fotógrafo, um cinegrafista e eu. Aí eu fiz a seguinte pergunta para ele:
Presidente, o senhor está gostando do Círio? Ele falou: “Nunca vi coisa igual”.
O senhor fez alguma promessa? “Fiz, mas isso vai ficar só comigo mesmo”. Ai
prosseguiu. Foi o que ele disse, quer dizer, foi uma entrevista rápida, mas que
ele deu a mim naquele momento. Depois eu entrevistei num dia só, em 15 minutos,
dentro de um programa de rádio, oito ministros de Estado. Eles iam para
Altamira, estavam no Hotel Grão Pará - que já fechou - sentados. Aí eu chamei a
minha rádio, cujo diretor era o Ronald Pastor, que estava no ar: “Ronald,
situação essa: tem oito ministros na linha, já conversei com eles. Um sai, o
outro entra, um sai, o outro entra. “A pergunta é curtinha, vai dar 30 segundos
pra cada um”. Falei: Não, pode ser até mais. Aí comecei pelo Mário Andreasa,
Delfin Neto - que era da fazenda - , César Caos - que era ministro das
comunicações - e outros mais famosos, até chegar o último. Enquanto eu estava
entrevistando o último, o presidente da República passou feito um foguete, e
ele teve que interromper, que assim que o presidente passa, eles deixam tudo
que tem que fazer e (vão) seguir o seu mestre.
E me
aconteceu também uma “parada” que eu até achei interessante. Veio aqui o
ministro das minas e energia Cigeak Weck e dando entrevista para os jornalistas
e a mim também, eu estava fazendo ao vivo com ele lá do aeroporto. E depois que
ele falou cinco a dez minutos sobre o petróleo na Amazônia, o gás do Urucu, o
que o Brasil pretendia, eu acabei dizendo: “Acabou de falar, o amarelinho”.
Quando eu acabei de falar ele pegou no meu braço e perguntou se eu estava
brincando com ele. Aí que eu compreendi que o homem era japonês e era amarelo e
ele achou que eu tava brincando com ele. Foi quando o governador Aloísio Chaves
falou: “Não excelência, ele é o repórter ‘Amarelinho', o senhor não leve a
mal”. Aí ele me abraçou e tal e
foi embora. Mas esse foi um dos sustos que eu passei porque era época da
Revolução, e eu poderia até ser enquadrado por desrespeito ao chefe do Governo.
♦ Isso foi em que ano?
PF - Ah, já foi
no Governo Aloísio Chaves. Já foi ali nos anos 76/82 mais ou menos.
♦ Há muita diferença do jornalismo
da tua época de trabalho, na década de 70, pra o que tu estás vivendo hoje?
PF - Naquela época era mais difícil, ninguém aceitava a imprensa
falar nada que a pessoa era jurada de morte. As pessoas iam ao seu trabalho, te
denunciavam pro seu patrão, você era suspenso. Hoje, através do sindicato dos
jornalistas, hoje através da mídia mais moderna, hoje através dos meios de
comunicação mais sofisticados é um direito assegurado...Depois que foi criada a
faculdade de comunicação que tem feito grandes jornalistas, muitos têm se
formado e criado seu próprio campo, seu próprio espaço. Então nós ficamos mais
respeitados. Hoje, até pelos aparelhos que nós usamos, as facilidades que
temos, eu acredito que está muito mais fácil. Mas, porém, as pessoas hoje
também não estão muito seguras. Hoje porque o campo está muito minado de
jornalistas eu quero acreditar que há uma disputa. Se sabem que você é uma boa
repórter e pode fazer um trabalho diferente na televisão, no rádio, você será
contratada e aquele que estava no seu lugar terá que procurar outra emissora,
outro espaço, outro emprego, mas podemos dizer uma coisa com toda certeza: no
mundo atual que estamos vivendo, na virada do século, o quarto poder continua e
sempre será a comunicação, a imprensa.
________________________________________
Descanse em
Paz
Amigo PAULO
FERRER
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