MULHER, um ser que Deus inventou. E não se arrependeu.
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este dia 8 de março comemora-se o Dia Internacional da Mulher. O motivo
pelo qual foi instituída essa data, deve-se a um fato ocorrido em 1857, quando
129 operárias de uma indústria têxtil, em Detroit, nos Estados Unidos, foram
assassinadas. Elas haviam ocupado o
interior da fábrica para reivindicar equiparação salarial a seus companheiros
homens, redução de jornada de trabalho e melhores condições de trabalho. O
proprietário da fábrica, em represália, mandou trancar todas as saídas do
prédio, espalhou gasolina e tocou fogo provocando um incêndio sem precedentes.
Nenhuma das operárias salvou-se.
O fato trágico chocou o mundo e mereceu repúdio
de todos os países. Em vista disso, a Organização das Nações Unidas (ONU)
resolveu instituir o dia 8 de março, dia do infausto acontecimento, como o Dia Internacional da Mulher.
Mulher, a amante, a companheira, a confidente, a amiga,
cantada em prosa e verso pelos aedos, pelos poetas, pelos romancistas. Mulher,
motivo-maior das cantatas e da lira de Vinícius de Moraes – que mais do que
ninguém soube dar-lhe o devido valor. Mulher, Maria, Mãe de Deus; Maria, doce
Maria “...um dom, uma certa magia, uma
força que nos alerta, uma mulher que merece, viver e amar como qualquer outra
no planeta; é o som, é a cor, é o suor, é a dose mas forte e lenta de uma gente
que ri quando deve chorar e não vive, apenas agüenta...mas é preciso ter manha,
é preciso ter graça, é preciso ter sonho sempre, quem traz na pele essa marca,
possui a estranha mania de ter fé na vida”, como diz Milton Nascimento e
Fernando Brandt, na sua canção.
A
essência - Mesmo considerando-se a violência um fenômeno
existente em todos os tempos e lagares, seria utópico imaginar um mundo em que
a mulher se extinguisse de vez, observa a advogada e escritora e poetisa Lucy
Gorayeb Mourão, líder feminista, dirigente de várias entidades ex- presidente
da Associação Cristã Feminina – Capítulo de Belém e minha confreira da Academia
Parense de Jornalismo/APJ.Não há como negar que estamos vivendo uma época de
exaltação à violência, inclusive contra a mulher.
Há milênios o sexo feminino tem sido vítima de violência em todos os
níveis. Imposta por uma sociedade dominada excessivamente pelo homem que sempre
determinou como deveria ser o comportamento da mulher.
Discriminação existe, - prossegue Lucy Mourão, -
desde que o mundo é mundo; haja vista que todas as leis eram feitas e
administradas por homens. Como usar a lei como recurso, se esse instrumento
útil só beneficiava os legisladores? Indaga.
Não podemos afirmar que a violência só ocorre na
cidade. Também ocorrem no meio rural, nas mais variadas situações: física,
psicológica, sexual e jurídica. A violência atinge não apenas o nosso país,
como todos os demais, em todo mundo, mostrando que a opressão da mulher da
sociedade é o resultado de situação de inferiorização.
Esse aspecto data do início do mundo, afirma
Lucy, quando as mulheres ficavam quase inteiramente reclusas ao “gineceu”. Em
Atenas, as mulheres dirigiam as tarefas domésticas e cuidavam da educação dos
filhos menores. Havia confinação dentro do lar e elas só saiam por ocasião das
festas religiosas pagãs, assim mesmo acompanhadas dos pagens e sob os olhares
policialescos dos maridos.
Na idade média, a Igreja deve muita influência.
Na França, Napoleão estabeleceu o seu famoso “Código” cujo texto continha
severos castigos às esposas que por algum motivo faltassem com seu dever ou
prevaricassem.
Ao longo dos séculos, chegamos também ao Brasil,
onde o costume de castigar as mulheres vem desde os primórdios da sua
colonização, continuando a denominação do sexo oposto. Só aproximadamente em
1827 foi dado o direito à mulher de freqüentar escola, persistindo o
preconceito e a discriminação, pois no entendimento da época, mulher era mais
para aprender o manejo da agulha, para a procriação, do que para a instrução.
Participação – Conforme Lucy
Gorayeb Mourão, a participação da mulher na vida econômica, política e social
do país foi importante para a sua valorização, quer como profissional ou mesmo
como cidadã, na defesa de seus direitos, e na conquista do seu espaço.
“Enquanto enfrentarmos a discriminação de uma sociedade de machista, - que não
quer dividir privilégios, - teremos que lutar incansavelmente em defesa de
nossa causa, tanto no âmbito das leis, quando no aspecto social” (...) “Assim, dizemos que direitos são
conquistados e não dados gratuitamente; porisso é necessário que as mulheres se
mobilizem para alcançar os seus objetivos”, destaca.
Apesar das constantes transformações porque
passa a nossa sociedade, a mulher tem consciência de que muito tem a oferecer
em benefício do ser humano; ainda mais pelo fato de que, a justiça social,
antes de tudo é um direito das pessoas, e como tal deve ser por elas
desfrutados, defende a líder feminista.
Conquistas
– A ex-dirigente da Associação Cristã Feminina lembra que a “nossa Lei maior”
diz que poder emana do povo e em seu nome deverá ser exercido. Em uma análise
rápida, verifica-se que a Constituição de 88 possui alguns avanços, não
encontrados em legislações de outros países E, destaca duas conquistas obtidas
pelo sexo feminino na Carta Magna, como a licença-maternidade de 120 dias para
as gestantes e o direito da mulher de aceitar um emprego sem autorização prévia
e formal do marido, exigência legal, fatos inconcebíveis que as outras
constituições continham, e derrubada pela Constituição de 88, em vigor
Profissionalização - Atualmente,
o país está dotado de uma legislação preocupada em oferecer melhores condições
à mulher, como uma forma de valorização feminina, corrigindo uma deficiência
que se arrastava ao longo do tempo. Dessa forma, acentua Lucy Goraeyb Mourão, a
preocupação das mulheres não está mais numa ausência de instrumentos legais, e
sim no real cumprimento “in legis” dessa legislação; ou mesmo na
conscientização da mulher desenformada, sobre como deve ser a forma legal de
fazer valer os direitos, porquanto, vivemos numa sociedade moderna onde a
divisão de atribuições é fundamental para o desenvolvimento da comunidade.
“Todos nós, especialmente as mulheres –
aspiramos por uma sociedade mais justa onde não se verifiquem conflitos, discriminações
ou quaisquer outros tipos de inferiorização do ser humano. E para conseguir o
avanço de desses direitos é necessário somar esforços; ou seja, tanto o homem
como a mulher são considerados iguais perante à lei, com os mesmos direitos e
obrigações. Sem citar o fato de que a
legislação punirá como crime, qualquer discriminação atentatória aos direitos
humanos.
As mulheres sofrem atualmente uma barreira
comum: o preconceito e a discriminação. Contudo, a experiência tem demonstrado
que a sua participação no mercado de trabalho tem sido notável, não apenas nos
setor público, como na iniciativa privada e até mesmo na política, a nível
local, nacional e internacional. A mulher, atualmente, em muitos aspectos, tem
ultrapassado o homem e mostrando a sua importância, o seu valor”, diz orgulhosa
Lucy Mourão.
Entidades – Lucy Gorayeb Mourão
explica, finalmente, que em Belém existem entidades que procuram orientar as
mulheres em todos os aspectos de suas vidas, como a Liga das Mulheres Eleitoras
do Brasil (Libra); a Associação Cristã Feminina (ACF); a Comissão Permanente da
Mulher Advogada (CPMA); a Associação Brasileira de Mulheres de Carreira
Jurídica (ACMCJ); o Movimento de Promoção da Mulher (MOPROM); o Movimento das
Mulheres do Campo e da Cidade; o Grupo das Mulheres Prostitutas da Área Central
(GEMPAC), dentre outras, no campo privado. Na área oficial, o Conselho
Municipal dos Direitos da Mulher (CMDM). Todas com o mesmo objetivo: a
conceituação e valorização do sexo feminino.
O
Dia Internacional da Mulher é uma forma de
homenagear a mulher. Em Belém durante a semana as entidades festejam essa data,
para mostrar ao mundo de hoje que esse ser tão frágil e ao mesmo tempo tão
importante e maravilhoso, é útil, necessário e indispensável na vida do homem,
no prosseguimento do existir. É como diz Erasmo Carlos: “...da escola em que você foi ensinada, jamais tirei um dez, sou forte
mas não chego a teus pés”.
•••••••••Lembrança de Dulce Accioly
Quando se fala no Dia Internacional da Mulher lembramos de uma figura muito importante:
Dulce Maria Faria Accioly, falecida há 18 anos, quatro dias a após ter
completado 82 anos, no dia 14 de maio de 1994. Foi líder feminista de escol e
defendeu intransigentemente a causa da mulher.
Dulce Accioly nasceu em Belém do Pará. Fez os estudos,
primário, ginasial e colegial no Colégio Santo Antônio, diplomando-se como
professora primária. Deixou de cursar faculdade, pois casou-se logo em seguida.
Mesmo
casada lutou, mesmo de forma inglória pelos interesses da mulher. Viúva, com
dois filhos. Dedicou-se totalmente aos problemas e interesses da mulher
paraense. Ajudou a trazer para Belém a Associação Cristã Feminina. Fez vários
cursos de dinâmica de grupo e outros de defesa da mulher em vários estados da
Federação.
De 1973/1978 foi secretária da Pastoral Regional da Mulher
da CNBB.
Deixando a função dedicou-se ao trabalho de assistência à
mulher marginalizada (prostitutas), sendo por isso muito criticada. Alheia aos
comentários, juntamente com outras companheiras fundou a Movimento de Promoção
da Mulher (Moprom), de cujo trabalho surgiu duas creches, a “Casa da Gente”, no
bairro do Telegrafo, em 1986; e uma outra na Marambaia.
Conhecida internacionalmente – pois era membro da associação
“Companheiros da América” – através dessa relação conseguiu ajuda do exterior
para as suas atividades em prol da mulher, realizando um trabalho dos mais
apreciáveis.
Através do Moprom, desde 1988 promovia anualmente o
Intertecmulher – Intercâmbio Técnico Cultural para a atuação da mulher – que tinha como objetivo a
discussão específica das questões da mulher em busca de uma cidadania plena,
interrompido desde a sua morte, que trouxe para Belém nomes consagrados na
defesa da mulher no Brasil, como a escritora e feminista Rose-Marie Muraro.
Ao falecer de parada cardíaca, era presidente do Conselho
Municipal da Condição Feminina (antigo Conselho Municipal dos Direitos da
Mulher), que ajudou a criar, juntamente com outras líder feministas na
administração Coutinho Jorge.
O prefeito, à época, Hélio Gueiros reconhecendo o valor e a
importância de Dulce Accioly deu o seu nome uma creche da Funpapa, no
Telegrafo, onde a grande desaparecida teve maior atuação (AF).
NOTA - Este texto foi escrito
há oito anos, exatamente no inicio da publicação deste blog. Muitas amigas que
o leram pediram que o republicasse.
Dedico este trabalho a Telma
Menezes (foto) Minha irmã. Minha amiga. Minha cúmplice. Minha
mulher. Minha amada última. Meu tudo. Uma heroína que me atura há 30 anos.
Dedico, da mesma forma, às amigas Maria da Conceição Avelar –
minha manona - Terezinha de Jesus Sales de Menezes - minha e sogra e segunda
mãe -, Erlen Christina Alves - minha musa - Ana Victória Pitts Carneiro, minha
maninha - que se encontra na Itália -, Clementina Carneiro, Ana Amélia/Ana
Gabriela Oliveira Ramos e Rárima Croelhas Feio, minha prima.
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