Livro reconstitui
história do JORNAL PESSOAL
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oje a série “Minhas Copas” dá uma parada – ontem
ficamos lá na Espanha, em 1982, mas a Copa de agora já está correndo solta. O
breque no assunto que domina o país é por uma causa mais que justa. Hoje à
noite, no Museu da UFPA (Governador José Malcher, 1192), a partir das 18h, a
jornalista Maria do Socorro Furtado Veloso lança o livro “Imprensa e
Contra-hegemonia: 20 Anos do ‘Jornal Pessoal’ (1987-2007)”, pela Editora
Paka-Tatu.
O livro é fruto da tese de doutorado da autora,
apresentada na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, em
março de 2008. O estudo reconstitui duas décadas (conforme explicita seu
título) “da trajetória daquela que é considerada a mais influente e longeva
publicação alternativa da Amazônia na atualidade. Trata-se do ‘Jornal Pessoal’,
criado em setembro de 1987 pelo jornalista paraense Lúcio Flávio Pinto”. O
também jornalista, e professor, Manuel Dutra assina o prefácio do livro. O
“Jornal Pessoal” completa, em setembro próximo, 27 anos, no mesmo mês em que
seu bravo e heroico (e aqui o qualificativo se aplica plenamente, até pelo
recente título de reconhecimento mundial que o Lúcio recebeu) editor chega aos
65 anos de idade. Ainda comentarei, adiante, o livro de Socorro Veloso, pela
importância que merece. Mas já deixo aqui a resposta do Lúcio a uma pergunta
que lhe encaminhei, que segue “Lúcio, aos trancos & barrancos (e safanões),
o JP vem (mais ou menos) sendo descoberto pela mídia nacional, depois,
inclusive, do reconhecimento internacional, que os diversos prêmios atestam. A
publicação já recebeu alguma atenção no âmbito acadêmico, mas qual a
importância desse trabalho da Socorro que, vindo da academia, agora chega em
livro?”
A resposta do Lúcio: “A importância maior está na
dedicação de anos da Socorro a esse tema. Ela leu todos os exemplares do jornal
em 20 anos, fez entrevistas, realizou pesquisas adicionais e envolveu tudo isso
com uma metodologia adequada para contextualizar o JP. É difícil a relação do
jornal com o mundo acadêmico. Acho que a maior característica do JP é a atenção
que dá aos fatos do cotidiano. Uma vez identificados os itens relevantes e
novos da agenda diária da Amazônia, o jornal busca nexos causais, explicativos
ou eliminadores dos fatos do dia a dia de uma Amazônia que está (sempre esteve
e estará cada vez mais) no mundo. É por isso que ele se torna de vanguarda,
como observou o então correspondente do ‘New York Times’ no Brasil, Larry
Rohter. Ele teve a honestidade (e mesmo coragem) de dizer nas suas matérias, e,
depois, no seu livro (‘Deu no New York Times’) que o JP foi o primeiro a
apontar a influência chinesa na Amazônia, particularmente em Carajás. Anos
antes eu tinha detectado o deslocamento da influência internacional dos Estados
Unidos para a Ásia, naquele momento sendo o agente principal o Japão. Isso
aconteceu primeiramente na Amazônia. Como se arrisca a anunciar os fatos novos
e a buscar uma interpretação para eles, o JP faz rotineiramente o que os
intelectuais cada vez mais se poupam de fazer: arriscar. Às vezes o jornal
erra, às vezes acerta. Mas não deixa passar os sinais de mudança, rastreando
onde eles ocorrem e como acontecem. Como frequentemente não há fontes
secundárias nem bibliografia consolidada, ele se torna a primeira referência (e
a primeira vítima). Os intelectuais acadêmicos não gostam de incluir
publicações jornalísticas nas suas bibliografias nem arriscar seu conceito. Daí
omitirem o JP, mesmo quando o utilizam como base de informações (não citadas).
Ao tratar com respeito e seriedade o ‘Jornal Pessoal’, Socorro Veloso lhe
conferiu seu sinete acadêmico valorizador”.
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N.
do R. – o livro foi lançado ontem no Museu da UFPa.
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