Pelo menos para mim, que sou
ainda considerado uma das viúvas do Romulo, expressão carinhosa que Ossian Brito
dizia para aquelas pessoas a quem RM ajudou.
Romulo Maiorana nesta
segunda-feira/23 completa 26 anos de morto. Faleceu em São Paulo e foi inhumado
em Belém, na necrópole de Santa Izabel. Romulo Maiorana, criador do sistema que
leva o seu nome e um dos maiores grupos de comunicação do País.
Romulo
Maiorana que se notabilizou pela sigla RM, nasceu no Recife/Pernambuco, - dia
20 de outubro de 1922 – filho do casal Francisco Maiorana e Angelina Chiappeta
Maiorana, de origem italiana; após servir à Pátria – como se dia antigamente -
foi estudar em Roma. No retorno ao Brasil, passou por Natal no Rio Grande do
Norte, mas mostrou amor pelo Pará assim que pôs os pés em Belém, no ano de 1953,
aos 31 anos.
Perspicaz, como demonstraria ser ao longo de
sua vida e empreendedor dos mais notáveis. RM tentou alguns negócios
comerciais, como fabricar placas indicativas de ônibus, flâmulas e painéis
luminosos, através da Duplex Publicidade, montada numa bela área na Avenida
Senador Lemos, entre as Travessas D. Romualdo de Seixas e D. Romualdo Coelho.
Com o fechamento da Duplex Publicidade, passou a fazer corretagem de anúncios para os três principais jornais da época: O Liberal, Folha do Norte e A Província do Pará.
Posteriormente criou uma rede sete
lojas de vestuário e calçados, que inovaram em vendas e marketing - com as
iniciais do seu nome RM – as famosas Lojas RM.
Mas o irrequieto “ilaliano” – que
sempre teve inclinação para jornalismo -, aliás, a sua verdadeira paixão -,
iniciou nos anos 60, a publicação de uma coluna social na Folha do Norte, o maior jornal no estremo norte.
Antes já havia escrito algo semelhante
n´O Liberal – à época porta-voz Partido Social Democrático (PSD), orientado pelo general Joaquim
de Magalhães Cardoso Barata, um dos maiores, senão o maior, caudilhista do
Pará. Foi interventor federal no Pará em 1930, voltou a ser interventor durante
a grande guerra e em 1953 foi eleito senador, preparando-se para disputar – e
vencer – a primeira disputa como governador eleito pelo voto popular, em 1955.
O Liberal já
não era mais do PSD: fora adquirido pelo engenheiro e empresário Ocyr Proença.
Todavia, o jornal estava desacreditado e tirava 500 exemplares em 1966 e estava
prestes a fechar.
Romulo resolveu adquirir o jornal.
Fechou abruptamente sua famosa cadeia de lojas,
na cidade, e comprou, em 1966, O Liberal. Ele teve de trabalhar dobrado para
conseguir que a velha e precária impressora – rotoplana - funcionasse,
imprimindo o velho diário.
Meses após adquiriu uma rotativa que imprimia um
jornal que havia fechado no Maranhão. O Liberal passou a ser impresso um pouco
melhor, com uma nova diagramação, logomarca em azul, assim como as chamadas da
primeira página. De oito páginas passou para 16/10 páginas.
Romulo, inteligentemente, conquistou, de saída, os
jornaleiros com propostas vantajosas e presentes para que apregoassem
prioritariamente O Liberal. Dobrou as comissões dos “baderneiros” e os
vendedores de rua. Oferecia jornais de cortesia. Renovava empréstimo, que não
pagava, oferecendo permuta de publicidade, divulgando, com destaque, os nomes
dos benfeitores
Enquanto isso comprou o passe de Cláudio de Sá Leal
– que esteve à frente da Direção de O Liberal há alguns anos passados, até a sua morte - e Eládio Bastos
Ribeiro (Eládio Malato) que trabalhavam já mais de 20 anos n´A Província do
Pará, que não abalava a circulação do jornal.
Em 1972, já consolidado sua liderança, deu um golpe
mortal na concorrência: adquiriu nos Estados Unidos uma moderna rotativa
off-set “Goss Comunity”, zerada.
Foi uma festa.
O Liberal foi o primeiro jornal do Norte a adotar o
moderno sistema de impressão em off-set, que garantia rapidez e qualidade na
impressão.
Paulo Maranhão – diretor presidente da Folha do
Norte morreria aos 96 anos, levando consigo as chaves do sucesso do jornal que
comandara durante mais de meio século.
O Liberal tinha que entrar nesse vácuo.
Dois anos depois, RM comprou a Folha, já
decadente. Ao invés de tentar reanimar o glorioso jornal do passado, RM decidiu
fecha-lo preservando o titulo.
O Liberal deixou a tradicional sede da Rua Santo
Antônio com a Praça D. Macedo Costa, onde nasceu, e passou a ocupar o majestoso
edifício da Rua Gaspar Viana, com fundos para a Boulevard Castilhos França
Nesse período adquiriu dos descendentes do
ex-governador Luiz Geólas de Moura Carvalho, o controle acionário da Rádio
Difusora do Pará (ZYE-25) – que depois passou a chamar-se Rádio Jornal Liberal
e, finalmente, Rádio Liberal AM (1.330 Khz), como fora inicialmente registrada
no então Dentel.
Dez anos após no dia 27 de abril de 1976, inaugurou a TV Liberal – Canal
7 (VHF) e 21UHF (digital), montada em apenas oito meses, com
equipamento moderníssimo, que passou ser afiliada da TV Globo, em substituição
a TV Guajará – Canal 4 – atual TV Boas Novas).
Pelos 10 anos seguintes Romulo
não pararia mais de investir, crescer e expandir seu poder. Seu jornal se
tornou o segundo maior consumidor de papel de imprensa do Norte e Nordeste, com
tiragem em torno de 50 mil exemplares, quase dobrando aos domingos. De cada 10
leitores de jornal no Pará, quase nove liam O Liberal, uma proporção sem igual
no país na época. Seus outros veículos de comunicação eram, todos, líderes em
seus respectivos setores.
Com uma nota na coluna principal
do jornal – Repórter 70, título criado desde que assumiu definitivamente o
controle do jornal -, que ele escrevia ou supervisionava, com o apoio de Hélio
Gueiros, Ossian Brito e Newton Miranda, podia fazer o sucesso ou o desastre de
uma pessoa, empresa ou governo.
Quando morreu, exatamente no dia
23 abril de 1986, aos 64 anos, de leucemia, RM estava adquirindo um novo e
moderno parque gráfico para o jornal, além de equipamentos de ponta para as
emissoras de rádio e televisão, além de montar um novo tipo de negócio, a
produtora de vídeo.
Os sete filhos, que o sucederam, sob a
presidência honorária da mãe, Lucidéa Maiorana, encontraram uma máquina azeitada, em pleno
movimento e com um apreciável estoque de capital líquido, os elementos que
respondem pelo poder sem igual que o Sistema Romulo Maiorana de Comunicação tem
na história da imprensa do Pará.
Romulo Maiorana em vida ajudou muita gente. Dentre
eles o jornalista Guaracy de Brito, pernambucano como ele e que “importou” do
Jornal do Dia - veículo que circulou por algum tempo em Belém; assim como Walter
Guimarães, também do Jornal do Dia, especialmente o jornalista Odacyl de Souza
Catette, funcionário de O Liberal por muitos anos. Originário da Rádio
Guajará – descoberto por Linomar Bahia - onde fazia escuta de emissoras do Rio
e São Paulo para abastecer os noticiosos da emissora, Odacyl formou-se
advogado.
Romulo Maiorana foi o paraninfo e forneceu-lhe o anel e a toga.
Eu também fui ajudado por RM.
Eu escrevia uma página de Icoaraci aos domingos na
Folha do Norte,
Um dia recebi um convite - através do Malato – para
falar com o “italiano’.
Numa quarta-feira de março, por volkta das 10 horas, estive lá.
Escoltado pelo Malato e pelo Walter Guimarães, foi
introduzido no gabinete de RM. Ele – elegantíssimo num conjunto bege e usando
um sapato mocassin branco e sem meia, me encarou fundo e disse. “Ah, então
é você é o Feio? Moço sei tudo sobre você. Fiz uma devassa na sua vida. Estou
com vontade enorme de conquistar o mercado de Icoaraci... por sugestão do
Malato quero saber se você quer trocar a Folha pelo nosso jornal?”
Pô, um convite para escrever n´O Liberal, ademais feito pelo próprio dono
Era a
glória!!!
Diante da minha afirmação RM rezou o “padre nosso";
ou seja, como seria o meu procedimento, deveria me comportar como colunista d´O Liberal; notícias
quentes; texto leve de modo que todos pudessem entendem “sem desprezar o
vernáculo”.
Ele não era de muitas palavras. Era prático.
Em seguida mandou que o Walter Guimarães
providenciasse a minha contratação e preparasse imediatamente a minha carteirinha... para facilitar as coisas.
Preparado o documento, na mesma máquina elétrica
IBM que utilizava, RM assinou e me entregou dizendo feliz: “Agora. Feio, você
é dos nossos, Quero receber boas notícias. Confio em você”.
Ao lembrar esse episódio me arrepio todo. A
carteirinha, eu a conservo até hoje.
Sete anos após, ao me transferir para o Rio de Janeiro,
onde permaneci por 15 anos, procurei Romulo Maiorana.Ele me disse que não poderia, de imediato, me ajudar no Rio pois,
dispunha dos serviços das agências de notícias. No entanto, como forma de
reconhecimento pelo meu trabalho e dedicação a O Liberal, eu poderia ser uma
espécie de correspondente mandando informações sobre os paraenses radicados no
Rio, substituindo Martins e Silva, falecido dois meses antes, e que fazia este
trabalho para Folha do Norte.
Disse-me, também, que ao chegar ao Rio procurasse a
SITRAL – representante de O Liberal – e que “o Guilherme poderá facilitar as
coisas e você pode usar o nosso serviço de malotes”.
Ao chegar ao Rio, procurei a SITRAL e me tornei
amigo da Tuma.
Nas correspondências via Malote, manifestei o desejo de concluir o meu Curso de Direito.
Três dias após recebi um telefonema para ir a
SITRA. RM - via Ossian Brito – tinha enviado uma correspondência para mim pelo
malote da SITRAL/ Liberal.
No texto havia uma série de recomendações e uma
solicitação: se não conseguisse vaga nas faculdades oficias (Federal e Estadual)
que eu procurasse uma faculdade séria e que terminasse Direito, mas que não
deixasse de mantê-lo informado de tudo.
Inclusive das notas!!!
Após algum tempo, fui para a Artplan Publicidade, de Roberto Medina - A empresa que
trouxe Frank Sinatra ao Brasil.
RM me encarregou de adquirir os ingressos para a
apresentação da “Voz” no Rio Palace Hotel. Ele recomendou, ainda,que procurasse o
empresário Wandevelde Xavier Pereira, - um dos “cap" da Tranzamazon - seu
compadre – que pagaria a despesa.
Deu tudo certo.
RM se deslocou com a família de Belém. Levou alguns
convidados, inclusive o Abílio Couceiro, da Mercúrio Publicidade, de saudosa
memória.
No meu regresso a Belém, RM me prestigiou.
Com o apoio
de Fernando Negrão Negrão e José Croelhas, foi instalada a segunda Loja de
Classificados de O Liberal, que funcionou por algum tempo no térreo do
Pinheirense Sport Clube, graças, também, a Alfredo Coimbra, presidente do clube, falecido no ano passado.
RM me convidou para voltar a´O Liberal, mas... não
deu: eu já tinha compromisso com outro veículo.
Existem muitos outros aspectos que me ligam a Romulo
Maiorana que foi, sedm dúv ida, meu grande benfeitor, um amigo como poucos... que acho
desnecessário contar.
RM não morreu vive.
Tem escola com o seu nome na Cidade Nova 8 - WE 87
– 171; Residencial no Tapanã - próximo ao Conjunto Cordeiro de Farias - e rua; a 25 de
Setembro agora se chama Avenida Romulo Maiorana, “como reconhecimento aos
serviços prestados pelo empresário, que contribuíram para o desenvolvimento do
Pará”.
A via está localizada no bairro do Marco, alguns quarteirões da sede do jornal. Tem 2.780 metros de extensão e
é cortada por 16 travessas, próximo do SISBEL onde trabalho.
Em 2003 RM foi tema do Rancho Não Posso Me Amofiná, cujo samba foi
defendido pelo Silvinho da Beija Flor. A escola foi campeã do Carnaval daquele ano.
Romulo Maiorana nunca será esquecido. Pelo menos por mim que sinto muito
a sua falta.
Ah, sim, o seu o jazigo no Cemitério Santa Izabel necessita de mais atenção. A frase Senhor fazei-me
instrumento da vossa paz – de São Francisco de Assis, seu Santo de Devoção
- em bronze, que encima a campa, parte já foi retirada.
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