Brasília como
ela é
Ray Cunha, defronte à Galeria Olho de Águia/Bar Faixa
de Gaza (foto de Ivaldo Cavalcante)
de Gaza (foto de Ivaldo Cavalcante)
Marcelo Larroyed
arroyed@gmail.com
arroyed@gmail.com
BRASÍLIA – Ray Cunha (raycunha@gmail.com) estará autografando O Casulo Exposto (LGE Editora/Ler Editora,
Brasília, 153 páginas, R$ 28), dia 3 de maio, uma sexta-feira, a partir das 20
horas, na Galeria Olho de Águia/Bar Faixa de Gaza, em Taguatinga Norte, Praça
da CNF 1, Edifício Praia Mar, Loja 12, atrás dos Supermercados Tókio, na
Avenida Sandu. A Galeria Olho de Águia é do repórter e ensaísta fotográfico
Ivaldo Cavalcante, editor do Jornal Olho de
Águia - A Voz do Fotojornalismo.
O
livro, lançado em 2008, pode ser adquirido na Livraria Cope Espaço Cultural,
na 409 Norte, Bloco D, Loja 19/43, telefone: 3037-1017, e-mail:
copelivros@ibest.com.br. Livreiros interessados podem solicitá-lo ao editor,
Antonio Carlos Navarro, pelo telefone:
(55-61) 3362-0008; fax: (55-61) 3233-3771; e-mails:
lereditora@lereditora.com.br e acnavarro@lereditora.com.br, ou na própria Ler
Editora, no Setor de Indústrias Gráficas (SIG), Quadra 4, Lote 283, Edifício
Fórmula Gráfica, Primeiro Andar. Outro livro de Ray Cunha disponível na
Livraria Cope é Trópico Úmido – Três
Contos Amazônicos (edição do autor, Brasília, 2000, 116 páginas).
“O
Casulo Exposto enfeixa 17 histórias curtas ambientadas no Distrito Federal.
Desde 1987, trabalho como jornalista em Brasília, cobrindo amplamente a
cidade-estado, o Entorno e o Congresso Nacional, o que me proporcionou conhecer
bem essa geografia, inclusive a humana, a qual serviu para criar as personagens
e o cenário para esses contos” – diz Ray Cunha.
“O
casulo é uma alegoria à redoma legal que engessa o Patrimônio Cultural da
Humanidade, a borboleta de Lúcio Costa, ninfa golpeada no ventre, as vísceras
escorrendo como labaredas de luxúria, depravação e morte nos subterrâneos da
cidade dos exilados, a fauna heterogênea que transita na esfera política e
chafurda nos subterrâneos da cidade-estado, amazônidas que deixaram a Hileia
para trás e tentam sobreviver na fogueira das vaidades da ilha da fantasia;
jornalistas se equilibrando no fio da navalha; políticos, daquele tipo mais
vagabundo, que não pensam duas vezes antes de esconder merenda escolar na mala
do seu carro e dinheiro na cueca; estupradores; assassinos; bandidos de todos
os calibres; tipos fracassados e duplamente fracassados, misturando-se numa
zona de fronteira e penumbra” – comenta o escritor.
PREFÁCIO DE MAURÍCIO MELO JÚNIOR – O
jornalista e escritor Maurício Melo Júnior diz, no prefácio do livro, o
seguinte: “O escritor Jorge Amado costumava se queixar de algumas ausências da
literatura brasileira. E dizia que a mais gritante delas era a falta de
romances sobre o ciclo do café, como os que foram escritos sobre os ciclos da
cana-de-açúcar e do cacau. Também podemos dizer que ainda não surgiram os
escritores que tomaram o desafio de contar as sagas da busca da borracha na
Amazônia e da construção de Brasília em pleno cerrado goiano.
“Neste
seu novo livro de contos e novelas, Brasilienses,
o escritor Ray Cunha, nascido no Amapá e vivente de Brasília, passa longe da
narrativa de homens perdidos na solidão da floresta ou na poeira das
construções incansáveis. O que interessa ao escritor é são resultados daquelas
experiências, são os personagens que ficaram depois das epopeias.
“Os
homens e mulheres que saltam destas páginas são bastante curiosos. Têm a
política no sangue, embora apenas transitem em torno dela. Vêem o poder bem de
perto, mas não participam de suas benesses. Também calejados pelas dores
impostas pela opressão da floresta, já nada os surpreende e a violência pode
ser uma forma de defesa ou sobrevivência. Sim, os escrúpulos são poucos. Ou,
citando Jarbas Passarinho, um acreano que fez carreira política no Pará, “às
favas com o escrúpulo”. Em compensação a sensualidade aflora na pele dessa
gente. O perigo é que também este poder de encantar e seduzir é instrumento de
dominação.
“Naturalmente
que a visão que temos aqui está superdimensionada pelos requisitos da
literatura, mesmo assim sua base tem intensos pontos de realismo. E Ray ainda
lhes dá um tratamento recheado de um humor cáustico, em alguns momentos até
cruel. No entanto, este humor nasce do clima noir, o clima dos filmes e livros policiais surgidos nos anos de
1940.
“Sem
saudosismos e com muito suspense, os contos e novelas de Ray Cunha nos põem
diante dos brasilienses, esses seres nascidos da junção plena de todos os
brasileiros. E vale muito a pena conhecê-los”.
ENTREVISTA A ALDEMYR FEIO–
Segue-se
entrevista concedida por Ray Cunha ao jornalista paraense Aldemyr Feio.
O que o levou a escrever O Casulo Exposto?
Costumo
ambientar meus livros na Amazônia, especialmente Belém, minha cidade predileta.
Porém vivo em Brasília desde 1987. Do início de 1996 ao fim de 1997, voltei a
morar em Belém, mas por questões profissionais retornei a Brasília. Uma estada
tão longa nos leva a conhecer bem o ambiente onde vivemos; assim, é natural que
comecemos a escrever algumas histórias com a geografia da cidade onde moramos.
Em 2008, observei que já escrevera 17 contos ambientados em Brasília e com
personagens que são, quase sempre, migrantes, que transitam nas ruas e nos
meios jornalísticos e políticos da cidade-estado. Submeti os 17 contos à
leitura do Maurício Melo Júnior, escritor talentoso e crítico literário
bem-preparado. Ele escreveu a apresentação do livro e sugeriu que o levasse ao
Antonio Carlos Navarro, diretor da LGE Editora, que resolveu editá-lo.
Maurício Melo Júnior, ao apresentar o livro, afirma
que “O que interessa ao escritor são os resultados daquelas experiências, são
os personagens que ficaram depois das epopeias”. Por que?
Um
dos fios condutores de O casulo exposto são as personagens, em geral migrantes,
às vezes frustrados ou duplamente frustrados. As epopeias a que Maurício se
refere é a construção de Brasília - uma fase da cidade que já acabou. Restaram
os candangos bem-sucedidos, como o empresário Paulo Octávio, dono de boa parte
da cidade, e muita gente que mora em assentamentos e invasões. Migrantes
continuam chegando, mas agora tudo está lotado. Os contos, portanto, não
enfocam uma epopéia, mas a miudeza do dia-a-dia na capital da república.
Maurício também afirma: “Ray Cunha ainda lhes dá um
tratamento recheado de um humor cáustico, em alguns momentos até cruel”. O que
ele quis dizer com isso?
Algumas
das personagens dos contos são tragicômicas. Outras, apenas trágicas. Creio que
o humor cáustico a que Maurício se refere é o que costumamos chamar de humor
negro, quando situações, apesar de dramáticas, ou trágicas, contêm, mesmo
assim, viés risível.
Seus romances e contos são, geralmente, ambientados
na Amazônia. Qual a sensação de escrever um livro "cadango", ou seja,
produzido com as coisas que acontecem em Brasília?
É
a mesma sensação de trocar pirão de açaí com dourada frita por pão de queijo,
ou de trocar a Estação das Docas por shopping. São duas situações absolutamente
diferentes. No meu caso pessoal, caio de joelhos por tudo o que diz respeito à
Amazônia, mas também curto Brasília. Assim, sinto-me perfeitamente à vontade
tanto na Amazônia como em Brasília.
O casulo é uma alegoria à redoma legal que engessa o
Patrimônio Cultural da Humanidade...” mas “também tresanda a perfume, romance e
esperança, nas luzes da grande cidade”. Dá para explicar?
O
casulo do título evoca o fato de que Brasília é reconhecida como Patrimônio
Cultural da Humanidade. Em termos práticos, não se pode mudar a arquitetura
original do Plano Piloto de Brasília, que compreende o projeto do urbanista
Lúcio Costa, excluindo-se as cidades-satélites. Então, o Plano Piloto é
protegido sob uma redoma legal, um engessamento legal. É Patrimônio Cultural da
Humanidade, mas nas suas ruas e nos seus subterrâneos não há romantismo, como
em toda metrópole brasileira, inchadas e perigosas. Apesar disso, há contos de
puro perfume, romance e esperança. O conto que encerra o livro, A Caça - que
inclusive já foi publicado pela Editora Cejup -, quase no fim, refere-se às
luzes de Brasília e termina no quarto de um bom hotel.
Você acha que o
leitor vai entender as suas colocações contidas no Casulo?
Certamente
que sim. A literatura, como qualquer arte, tem algo maravilhoso. No seu caso
específico, as palavras remetem o leitor a mundos que são somente dele. O
escritor é um mero porteiro. Lembrei-me de um caso que ocorreu com William
Faulkner. Alguém o informou que leu duas vezes um livro seu e não entendeu a
história. Faulkner sugeriu que lesse mais uma vez.
Nos "casos" relatados no livro você teve
alguma participação ou foram vivenciados apenas superficialmente?
O
senso comum mistura atores com personagens e acredita que ficção é o que
conhecemos como realidade. Se assim fosse, quantos escritores não estariam
atrás das grades por assassinato? O fato é que até nas autobiografias há mais
ficção do que realidade. O escritor que faz seu trabalho com seriedade não está
interessado em jornalismo. Estou certo de que pelo menos 75% do que os jornais
publicam originam-se de interesses dos donos, de ideologia, de conjecturas, de
boatos, ou de mentiras pura e simplesmente. Também o escritor não está
interessado em si mesmo, pois todos os escritores são pessoas comuns e, muitas
vezes, introvertidas. Qual a participação que um escritor pode ter numa
história que se passa em outro planeta?
Como Antoine de Saint-Exupéry criou O Pequeno Príncipe? Esta é a
diferença: as antenas especiais com que os escritores nascem, o que permitiu,
por exemplo, que Ernest Hemingway criasse uma mulher abortando, em Adeus às
Armas, ou que John Steinbeck desse vida a uma mulher que acaba de perder seu
bebê recém-nascido e dá de mamar a um ancião que está morrendo de fome, em
Vinhas da Ira.
Quem é Ray Cunha?
Nasci
em Macapá, na margem direita do estuário do rio Amazonas, cortada pela Linha
Imaginária do Equador, em 7 de agosto de 1954. Fui educado na Amazônia. Conheço
a Hileia razoavelmente, por longa leitura e por ter estado lá. Vivo em Brasília
por uma questão de mercado de trabalho. Aqui, consigo oferecer à minha família
razoável padrão de vida, sustentado pela minha profissão, jornalismo.
Literatura, para mim, é minha missão pessoal. Embora morando em Brasília, a
internet me permite ficar ligado o tempo todo à Amazônia. Tenho ligação íntima
com Belém, um dos meus grandes amores, e, naturalmente, com Macapá. Quanto a
Brasília, já somos velhos namorados. Brasília me deu duas mulheres
fundamentais: minha esposa, e minha luz, Josiane, e uma flor, minha filha
Iasmim.
LIVROS DO AUTOR – Ray Cunha estreou
como escritor em 1971, com o livro coletivo, de poemas, Xarda Misturada (edição dos autores, Macapá), juntamente com o
poeta e contista José Edson dos Santos (Joy Edson) e José Montoril; em 1982,
publicou Sob o Céu nas Nuvens (edição
do autor, Belém, poemas); em 1990, lançou A
Grande Farra (edição do autor, Brasília, contos); em 1996, a Editora Cejup,
de Belém, lançou o conto A Caça. Em
2000, saiu Trópico Úmido - Três Contos
Amazônicos; e, em 2005, a Editora Cejup lançou o romance A Casa Amarela, ambientado em Macapá, no
ano do golpe militar de 1964.
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