RAY CUNHA recebe seus
amigos e leitores dia 12 de março no sebinho, na 406 norte
BRASÍLIA – Na Boca do Jacaré-Açu – A Amazônia
Como Ela É (Ler Editora, Brasília, 153 páginas,
R$ 25) será lançado por Ray Cunha, escritor amazônida radicado em Brasília, no
dia 12 de março, uma quarta-feira, a partir das 18h30, no Sebinho, complexo de livraria,
cafeteria e restaurante, na 406 Norte, Bloco C, Loja 30/72, com apoio da Preserve
Amazônia e da Proativa Comunicação. Será servido coquetel.
O livro já está à venda no site: www.lereditora.com.br. Livreiros devem
fazer pedidos pelo e-mail: atendimento@lereditora.com.br,
ou pelo telefone: (55-61) 3362-0008, ou ainda diretamente na Ler Editora, no Setor de Indústrias
Gráficas (SIG), Quadra 3, Lote 49, Bloco B, Loja 59 – Brasília/DF –
CEP 70610-430.
Na Boca do Jacaré-Açu enfeixa 14 histórias curtas,
ambientadas em Belém, que perpassa todos os contos e acaba sendo personagem
subjacente, e a quem o autor dedica o livro. Algumas histórias têm sequências
na maior feira livre da Ibero-América, o Ver-O-Peso, que aparece em
fotomontagem na capa desta edição, bem como no Marajó, “maior ilha
flúvio-marítima do planeta, ao sul do estuário do rio Amazonas, o maior do mundo,
único com estuário e delta, e que despeja por segundo pelo menos 200 mil metros
cúbicos de água e húmus no Atlântico, tornando as costas do Amapá e do Pará as
mais piscosas da Terra; apesar disso, a Amazônia Azul setentrional é a menos
estudada pela academia e a mais mal guardada pelo estado brasileiro” – comenta
Ray Cunha.
“O conto que dá título ao livro,
Na Boca do Jacaré-Açu, é o mergulho suicida do arqueólogo Agostinho Castro
nos abismos do Mundo das Águas, a confluência dos rios Amazonas, Pará,
Tocantins e Guamá, e o oceano Atlântico, abocanhando o arquipélago de Marajó,
mais de mil ilhas, a maior delas do tamanho de Portugal. Jacaré-açu é o grande
réptil amazônico, só perdendo para a sucuri, e que atinge mais de 6 metros de
comprimento e meia tonelada de peso; no conto Na Boca do Jacaré-Açu,
representa a morte, na pessoa do pai de Agostinho, Castro e Castro” – adianta o
escritor.
Na Boca do Jacaré-Açu é o segundo volume de contos que se
encaixam no contexto do subtítulo do livro: A Amazônia Como Ela É. No
primeiro volume, Trópico Úmido – Três Contos Amazônicos (edição do
autor, Brasília, 116 páginas), a Amazônia é também a base da ficção de Ray
Cunha; tanto a Hileia quanto as metrópoles da selva estão presentes nas
histórias. “Isto é a Amazônia” – comentou, ao ler Trópico Úmido, o
coronel Gelio Fregapani, um dos intelectuais que mais conhecem geopolítica do
Trópico Úmido, mentor da Doutrina Brasileira de Guerra na Selva, fundador e
comandante do Centro de Instrução de Guerra na Selva e autor, entre outros
títulos, de Amazônia - A Grande Cobiça Internacional (Thesaurus Editora,
Brasília, 2000, 166 páginas).
“Sou caboco de Macapá, cidade da
Amazônia Caribenha que tremeluz na Linha Imaginária do Equador e se debruça no
estuário do Amazonas, a cerca de 200 quilômetros da boca do maior rio do
planeta, quando o Mar Doce penetra fundamente o Atlântico, fertilizando-o até o
Caribe” – define-se Ray Cunha, que mora em Brasília, onde é correspondente do Portal do Holanda (o
mais lido da Amazônia e vigésimo do país, segundo o último ranking entre os
sites auditados pelo Instituto de Verificação de Circulação – IVC) e estuda
Medicina Tradicional Chinesa na Escola Nacional de Acupuntura (ENAc).
TRECHO DO CONTO NA BOCA DO
JACARÉ-AÇU, QUE DÁ TÍTULO AO LIVRO
A madrugada começara. Foi ao Mafioso,
ali perto. Henrique estava lá. O bar, por fora, era
bastante discreto; por dentro, enfumaçado e mergulhado na penumbra. Ouvia-se
boa música ali, numa altura agradável, que não incomodava a quem quisesse
conversar. Além do mais, Chico, o barman, preparava grandes drinks.
Henrique era escritor. Já era rico antes de se tornar escritor. Tinha a idade
de Agostinho e eram amigos de infância. Henrique estava na companhia de uma
jornalista, atraente, chamada Soraya.
– E então? – perguntou a Agostinho,
quando o viu se aproximar, apresentando-o à jornalista.
– Estou com insônia – disse
Agostinho. E para o barman: – Um Jonnie Walker, Chico. – Voltou-se para
Henrique e Soraya. – Quero que passes o réveillon conosco, no Marajó. Antônia e
Alexandra virão. Tu és também convidada – disse à Soraya. Sorveu um grande
primeiro gole de Jonnie Walker.
– Vamos beber champagne em
antecipação ao Ano Novo? – Soraya propôs.
Chico providenciou uma garrafa de
George Albert, que já estava num balde com gelo, e pôs logo outra garrafa no
balde.
– Como vão as coisas? – Agostinho
perguntou, continuando a beber Jonnie Walker.
– Já comecei a redigir o discurso de
agradecimento do Prêmio Nobel – brincou Henrique, que só publicara um romance
ainda, com o prosaico título “Tim-Tim!”, e estava pelejando para terminar
outro.
– Bem, e como é esse discurso? –
disse Agostinho. – Tu poderias fazer o discurso aqui para a gente.
Soraya acendeu um cigarro. Henrique
pigarreou.
– Senhoras e senhores – começou ele.
– Minhas palavras se dividem em três partes. A primeira é sobre o ofício de
escrever. A segunda, sobre os políticos, que infeccionam meu país. A terceira,
são agradecimentos. – Fez uma pausa. Agostinho e Soraya aplaudiram. – Ganhei o
Prêmio Nobel de Literatura por pura sorte. Uma série de circunstâncias me levou
a ele. Até uns cinco anos atrás não estava certo de que fosse escritor. Nasci
em berço de ouro e nunca fui estimulado a ganhar dinheiro para minha
sobrevivência. Entretanto, obedecendo a uma ordem soberana, já iniciara, na
solidão do meu quarto, a jornada literária que o destino me reservou – Soraya
tomou um grande sorvo de champagne. – Descobri que não poderia viver sem escrever.
Seria infeliz. Mas estava situado numa colina de prazeres. Faltava entregar-me
ao sacerdócio da criação literária como o objeto do sacrifício submete-se ao
carrasco. Tinha de pôr minha cabeça no cepo. Um escritor classe A vive em
disciplina implacável. Não faz nada que possa prejudicar as horas sagradas do
ofício de escrever. É feliz naquelas horas. Trabalha com disciplina e
resignadamente. É feliz assim. Seria infeliz se fosse diferente. – Parou um
pouco para tomar um gole.
– Isso está me cheirando a Faulkner –
disse Agostinho, que lera uma longa entrevista que Faulkner concedera aos
repórteres da The Paris Review, publicada num volume intitulado Escritores
em Ação, coordenado e prefaciado por Malcolm Cowley.
– Todos os escritores classe A pensam
da mesma forma – disse Henrique, em tom de brincadeira e voltando ao discurso.
– Somente os gênios não precisam submeter-se à disciplina, porque prescindem
dela. Tudo o que fazem, no campo da sua genialidade, é intenso. Se são
escritores, escrevem compulsivamente até exaurirem suas forças. Mas esses
semideuses são poucos. Em segundo plano vêm os escritores classe A, que
conseguem ser tão bons como os semideuses, mas com muito esforço, disciplina e
trabalho. O que é trabalho para um escritor classe A é puro lazer para o
semideus e tortura para o escritor medíocre. O escritor medíocre é aquele que
se sente realizado com o primeiro livro que escreve, e vive da glória de ter
escrito esse livro. – Agostinho os serviu de champagne. – O escritor classe A
esconde-se algumas horas por dia – continuou Henrique. – Vai refugiar-se na
solidão do seu esconderijo. Tem hora marcada com seu culto. É o padre que
oficia a missa. Escreve com fé. Nada o abala. E tudo o que acontece ao seu
redor alimenta-o para novo encontro com seu deus. – Soraya e Agostinho bateram
palmas. – Cumprida sua tarefa
diária, realizado seu trabalho, se for um escritor pobre, partirá para ganhar
seu sustento e o de sua família, se a tiver; se for rico, irá divertir-se. E
tudo o enche de prazer. Viajar, ver peixes, frutas, amar, beber, comer, bater
papo, ler, ouvir, ver as telas que ama, reler os livros que aprendeu a amar
desde a infância, ouvir a música de Mozart, ver o sorriso de uma criança,
emocionar-se, beber às 6 horas da tarde, ver mulheres absolutamente lindas,
sentir cheiros, dormir, ouvir a chuva...
– Estou interessada na parte que fala
dos políticos – disse Soraya, que era setorizada no Palácio Lauro Sodré.
– Os políticos que infestam meu país
estão infeccionando, necrosando tudo onde passam a mão. Um dia, quando tentarem
necrosar nervos expostos, vai espirrar carnicão. Aí será tarde para esses
urubus. No meu país, os políticos são vermes expelidos para uma grande privada,
onde se locupletam numa bacanal.
– Nossa, isso está ficando um
discurso escatológico – disse Soraya.
– Vocês acham? – disse Henrique.
– Bem, acho que o discurso ficou um
pouco pesado nessa parte – disse Agostinho.
– Acho que vou tirar a parte dos
políticos... – ponderou Henrique.
– A primeira parte está boa – disse
Agostinho.
– Fiquei emocionada – falou Soraya.
–
Bem, ainda não pensei na parte dos agradecimentos – disse Henrique.
MARCELO LARROYED
•Exclusivo
para o Jornal do Feio
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