IASMIM, MEU AMOR!
Comecei
a sentir tua presença logo nos primeiros dias após tua concepção, pois
Josiane, tua mãe, começou a ficar ainda mais bonita, a desabrochar como rosa
grávida. Eu sentia no ar tua presença como a luz na alma; a música de Mozart nunca
pulsou tão divina e o perfume da vida me extasiava. Eras tu que estavas vindo,
para alegrar, para sempre, minha vida.
Logo
o ventre da tua mãe começou a crescer. Eu o beijava e tu tentavas, lá do teu
mundo uterino, tocar em mim. Os meses passavam e eu, agora, tinha duas
namoradas. E queria também ficar juntinho do ventre da tua mãe, e líamos contos
dos gênios da literatura infantil para ti. Abraçado à tua mãe, eu te sentia; e
me sentia Deus. Já não criava somente personagens de ficção, mas estava prestes
a ver o triunfo de uma criação perfeita.
Josiane
ficou esplêndida, um santuário que eu beijava ajoelhado. Uma noite, 22 de
fevereiro de 1990, o rio da tarde acabara de desaguar no Ocidente quando tu
anunciaste que querias nascer. Joanira, um anjo que te acompanha desde sempre,
levou tua mãe e eu ao Hospital Regional da Asa Norte, e, às 23h40, os jardins
do mundo se iluminaram, pois nasceu um jasmim.
Na
manhã do dia seguinte, fui te conhecer. Quando te vi, filha, senti uma emoção
tão azul que vertia rubis, diante da luz, intensa, redentora, que tu emanas.
Sabíamos que somos um, tua mãe, tu e eu. Pedi a Deus, meu Pai, que arrumasse a
manhã para ti, a manhã da tua vida. Ele, então, me muniu de amor, luz,
sabedoria, gentileza, para que eu cuidasse de ti.
E
tu cresceste como um botão que abre imperceptivelmente as pétalas ao sol, como
um poema cada vez mais azul. Eu lia histórias para ti, até um dia que tu mesma
começaste a ler, e não paraste mais. O riso da tua infância, que guardo no
relicário do meu coração, é minha perene alegria.
Todos
os anos eu te dou o mesmo presente, que sou eu. Pertenço à tua mãe, de quem tu
fazes parte, e sou teu também, porque és parte de mim, por isso te dou meu
coração, que é o que me resta, pois nas histórias que te contei já te dei o
mundo, e todos os jardins, e todas as rosas, e os girassóis de Van Gogh, e todo
o perfume, e a música de Mozart.
Tu
és meu exército; basta evocar teu riso. Quando nasceste, ganhei asas, e minha
mente quebrou todos os grilhões que me acorrentavam ao átomo, e o mundo
rebentou em jardins se derramando no espaço sideral. Tu és forte como os olhos
dos bebês felizes, como pétalas ao sol, como o amor, porque nada temes.
Assim
que te vi recém-nascida, dei-te para sempre a firmeza das minhas mãos, a fortaleza
dos meus músculos e pedras preciosas que escavo na minha alma. Ouço, desde
então, a música de Wolfgang Amadeus Mozart e Ludwig van Beethoven, e sinto o
cheiro do mar, mesmo em Brasília.
Tua
beleza, suprema, que vai muito além do teu sorriso, nasceu da minha conjunção
com a mulher amada, em explosões lá para os lados do Grande Atrator. Nasceste
sob o signo do amor, no Lar do Progredir Infinito. Meu Pai me tocou com Seu
hálito, e então criei a flor definitiva, como o azul, que, de tão intenso, esparge
quantum em tal plenitude que nos permite ver Deus.
Desde
que nasceste, flutuo num voo perene, ao lado dos condores, dos Boeing, dos
foguetes que partem de Cabo Canaveral, na Flórida, e de Kourou, na colônia
francesa da Guiana. Quando menino voava nos Douglas DC-3, conduzidos, com
segurança, em terra, por meu pai, teu avô, no Aeroporto Internacional de
Macapá, e nunca mais parei, principalmente agora, que me dás o combustível para
eu cavalgar a luz.
Tua
é minha fé, que é muito, muito mais forte do que titânio e angelical como leão
alado. Teu é o meu coração, e tua a minha vida, e tu serás sempre o meu bebê, e
eu, um ser híbrido de anjo e leão, empunho uma espada de luz, para garantir que
teu caminho esteja prenhe de manhãs, jardins e sol.
Teu!
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