Muitas são as questões que nos defrontamos no dia-a-dia e que entendo seja chegado o momento de procurar diagnosticá-las na tentativa de entender a dinâmica do seu processamento. Para não ser prolixo e maçante nas apreciações, querendo abranger todos os Poderes da nossa maltratada República, vamos nos cingir unicamente a dois dos mais momentosos poderes: o Poder Político e o Poder Militar.
Digo somente esses dois poderes em razão do caos
que se instalou no País, tanto no que se refere à conduta dos agentes públicos,
quanto aos insistentes esforços na compreensão do papel das FFAA ante o
imobilismo sobre questões fundamentais, tanto no campo moral institucional,
como no campo do atendimento às carências operacionais e assistenciais da
Família Militar. Com relação ao Poder Político, observa-se que o País ainda não
encontrou o seu caminho, interno e externamente, possivelmente em razão de uma
balbúrdia de natureza ideológica que mais se coaduna com o interesse maior de
perpetuação no Poder, como partido único, com o objetivo de esvaziar os cofres
públicos ante a anuência e passividade da população.
Na tentativa de definir o sistema de governo que
ora vivenciamos poderíamos dizer que, hoje, vivemos sob a égide de uma
república sindicalista autocrática de viés ideológico oportunista, cujo
estímulo principal é a dilapidação do dinheiro público.
Pautado nessa concepção, tudo é válido de ser
feito: mentiras em abundância, acobertadas por uma mídia financeiramente
comprometida, hipocrisia na divulgação de informações de uma maneira geral, e
tantas outras dissimulações que procuram fazer com que os menos avisados
acreditem estarem vivendo um momento de grande felicidade e estabilidade. Isso
é o que nos cabe dizer de forma bastante sintética e objetiva.
Resumidamente podemos inferir que caminhamos
celeremente rumo à falência total do Estado, em especial em termos morais e
éticos. Já com relação ao Poder Militar ficamos numa imensa e interminável
dúvida sobre o papel das FFAA diante desse caos: devem elas manterem-se alheias
aos acontecimentos no pressuposto de que tudo que aí está é decorrente da
vontade popular, e como tal precisa ser ignorado, ou é apenas um sentimento
incompreensível de se considerarem derrotadas no movimento
contrarrevolucionário de 64? Ou então a combinação de ambos que as tornam
inermes?
Em recentes acontecimento ocorrido no Clube Militar
do Rio de janeiro, causou-nos perplexidade a omissão e a indiferença com que
foi tratada a afronta de uma “cusparada” dirigida a um inativo. Se as
autoridades militares pensam que isso ficou no esquecimento é ledo engano, pois
a decepção pela inação oficial foi muito maior do que se poderia esperar, e com
ela ficou a certeza de que as FFAA se recusam a honrar o seu passado, ignorando
que o seu futuro está irremediavelmente ele ligado, queriam ou não.
Quanto mais tentarem ignorá-lo piores serão as
consequências decorrentes, pois é fato as manobras para a desmoralização
das instituições permanentes, conduzidas, de modo orquestrado pelos meios de
comunicação, para fazer a população ver no soldado um agente potencial da
violência e da truculência comportamental. Não adianta recorrer a pesquisas de
opinião, pois quase sempre elas não são conduzidas com isenção e bem se
assemelham a espasmos momentâneos cuja repercussão é fortemente contida.
Ainda com relação ao Poder Militar, fica difícil
entender a passividade com que tratada a nossa questão salarial, mesmo com a
divulgação de eventuais duvidosas atitudes, que expressam a tentativa de
fazer-nos crer que fazem o que podem, mas não encontram receptividade naquilo
que pleiteiam.
O curioso nisso tudo é que as instituições
permanentes que são as FFAA não existem para se sujeitar aos humores do
governo; elas servem ao Estado e como tal, precisam impor-se para não chegarem
ao ponto de implorar por reajustes salariais, como agora ocorre. Sim, porque os
Comandos são os verdadeiros responsáveis pela situação crítica salarial em que
nos encontramos, seja pela tímida e contida ação reivindicatória, seja pela
conveniência de um silêncio acomodativo.
É esse sentimento de acomodação que pode explicar a
nossa preocupante situação de desaparelhamento operacional e de desmotivação
profissional crescente que parece ser o grande objetivo de um governo
ideologicamente estrábico, que não sabe distinguir o que é permanente do que é
transitório, como ele o é. É voz corrente atribuir ao Ministério da Defesa a
responsabilidade pelo atendimento das carências das FFAA.
Ledo engano, pois desde que foi instaurado, ele tem
o único propósito de escoimar a presença militar junto às decisões políticas. A
confirmação disso vamos encontrar nas sucessivas nomeações de indivíduos
despreparados e neófitos em questões militares, que nada sabem nem se
interessam pela vida militar, pois eles ai estão para servir ao governo e não
ao Estado.
Triste sina a que somos obrigados a enfrentar:
Poder Político desacreditado e Poder Militar sem vontade de exercer a sua
autoridade para moralmente se impor ao respeito de quem tem a missão
constitucionalmente definida de garantir a defesa do Estado Brasileiro. Somos
todos culpados pelo momento que estamos vivendo, pois os que aí estão o foram
pelo desejo inconsciente ou não da população, que por não saber distinguir o
que é importante para o País colocou sua opção pelo que de mais podre existe na
natureza humana.
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Waldemar da Mouta Campello Filho
Capitão-de-Mar-e-Guerra
Presidente e Coordenador do Sistema CONFAMIL
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