Brasília,
sinônimo
de tédio
BRASÍLIA, 30 de julho de 2012 - A última semana das
férias de julho, a secura do ar e a falta de atrativos turísticos são como um
direto no queixo de Brasília. A cidade cai como que nocauteada, desenxabida
como mulher sem encantos - nem do corpo, nem da alma. Em algumas instituições
de ensino particulares as aulas voltaram e pode-se ouvir o som redentor das
crianças, mas é só. As ruas, vias, como aqui são chamadas, estão quase vazias,
contestando a cidade projetada para automóveis, porque, além de calçadas serem
uma ausência sentida, as poucas que há parecem bombardeadas.
Os
brasilienses, especialmente os que só vêm para cá três
dias por semana,
escafederam-se, claro, e todos aqueles que têm bastante dinheiro foram para
algum ponto dos 7.367 quilômetros do litoral brasileiro, e os candangos se
mandaram para respirar o ar dos seus antepassados e se fortalecer nas suas
raízes. Ficaram os brasilienses sem dinheiro para viajar.
Os
brasilienses da gema e bem de vida que se educaram em
Brasília e pensam que as
cidades são assim adoram o Plano Piloto, os shoppings, a orla do Lago, suas
casas, cada qual com pelo menos três carros na garagem, e as telenovelas da
Globo. Brasília só voltará ao que é nas terças, quartas e sextas a partir de
terça-feira 7, com a volta da fauna que habita o Congresso Nacional.
Ainda
nesta semana o Supremo Tribunal Federal dará início, dia 2 de agosto, ao
julgamento dos mensaleiros, quadrilheiros acusados do maior roubo da história
“destepaiz”. Há um livro, O Chefe,
de Ivo Patarra, que faz um levantamento dos bilhões furtados dos bolsos dos
brasileiros. Quem será, de fato, o chefe da quadrilha do Mensalão? O que Zé
Sarney dos Atos Secretos fez é fichinha na frente do Mensalão.
O
início do julgamento do Mensalão já é alguma coisa nesta
Brasília ainda mais
sem graça do que sempre foi, mesmo na época heroica do boa vida Juscelino
Kubitschek e do coronel do cerrado Joaquim Roriz. A Ditadura dos Generais
(1964-1985) foi a época de ouro a todos que puxavam o saco dos milicos. Quem
sobrou dessa gente chora hoje na Praça do Pau Mole, que fica no Conjunto
Nacional.
Brasília,
equivocadamente a cidade mais moderna do mundo, traz sinais inequívocos, aos 52
anos, de sucateamento e corrupção. Os brasilienses que não têm para onde correr
estão acossados. De um lado, no Entorno, a artilharia é a de traficantes e
assaltantes, que assassinam como quem mata barata. Do outro lado, na Esplanada
dos Ministérios, onde fica a Praça dos Três Poderes, o fogo é o da corrupção,
que mata milhares de brasileiros, principalmente crianças, com a brutalidade
das hienas, que começam a devorar suas presas ainda na tentativa delas de
fugir.
Tentaram
banalizar essa brutalidade. Mas ainda vão acabar descobrindo que os mensaleiros
estão com o rabo preso com os narcotraficantes das Farc, com o tráfico de
drogas e a indústria de drogas e a
indústria de carros roubados do Brasil, na Bolívia, e com o ladrão bolivariano.
♦ RAY CUNHA - Escritor e Jornalista baseado em Brasília - DF, Brasil
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