Fernando, amor da minha vida
Meu
paizinho,
passei um ano dia após dia, fazendo um retrospecto dos 32 anos que
passamos juntos. As agressões que sofríamos, as dificuldades para encontrar a
paz e foi quando passamos a morar juntos na Antônio Barreto que a tranqüilidade
reinou. Lembro do primeiro dia juntos que eu acordei e gritei: “Sou feliz o
apezinho é meu!”. Foram momentos infinitamente belos, programávamos viagens e
tinham que ser sempre de quinta a segunda, a hora do almoço por força do
trabalho que nos esperava.
Sempre
vivemos do nosso trabalho, não tínhamos e nunca tivemos bonança, mas nesses 32
anos houve a compensação dos prazeres, das alegrias e tudo foi inesquecível.
Adorava quando chegavam os dias comerciais com as nossas trocas de cartões
carregados de muito amor. Não fizemos uma colméia de
amigos, mas o que
escolhemos foi do coração.
Sempre
tive a preocupação de ficar só, e implorava a Deus que não me desse tamanha dor
tão cedo, pedia por favor que ficássemos velhinhos, e lembro do nosso ultimo
dia 31 de dezembro, no terraço do nosso apê, eu e tu, o que mais pediste em voz
alta e eu pensando a mesma coisa. Jamais pensei em te perder tão cedo. Aos 64
anos muitos começam a viver a alegria de anos de trabalho para curtir a vida.
Conosco foi diferente. Nunca tivemos muito dinheiro, mas sabíamos como usá-lo
no momento certo.
Em
Buenos Aires, onde devo ter tido contigo umas 18 entradas curtíamos o que era
bom dos restaurantes. O Café Tortoni, as boates, os cabarés, tudo era motivo de
festa. E São Paulo que fizemos lindos amigos e para nós a noite paulista foi um
acontecimento que poucos vivem. Não posso esquecer os lindos dias em Paris e na
Inglaterra, o que foi aquela viagem daria um minilivro e o lindo Uruguai que já
foi a Suiça brasileira e a fantástica Punta Del Este tudo é uma recordação
maravilhosa. Deixar o apezinho da Antônio Barreto foi uma dor muito grande, mas
nada eu fazia que pudesse te trazer malefícios, e do teu jeito, e com os meus
toques voltamos ao ninho antigo na Tamoios. Eras encantado com tudo o que eu
apresentava diferente, e achavas de muito bom gosto o que foi projetado para o
apartamento.
Os
meus, os teus, os nossos filhos, cada um com sua vida familiar traçada recebiam
de nos o melhor bem do mundo, o amor. Telefonemas, visitas, almoços sempre com
eles presentes dentro dos nossos limites. Amar não é por em jogo dois pesos e
duas medidas, amar é sentir na pele o carinho a dedicação e aceitar cada um da
sua maneira respeitando e admirando.
Cada
dia tem sido muito difícil, todas as noites converso contigo ávida em te ouvir
e ainda suponho que vás me telefonar ou mexer na porta com as chaves que
carregavas. Não tem um único dia que eu sento à mesa e não lembro da tua
presença, é muita dor. Fico perguntando o que vem ser a realidade aos olhos de
uma mulher apaixonada. Uma pergunta sem resposta principalmente quando chega as
2 horas que sentávamos para almoçar e que tu abrias a porta do quarto e dizias:
“Oi mãe!” E eu quase desmaiando de fome, esperava todo o teu ritual para
almoçarmos.
Acho
que a nossa história de amor é e foi para poucos. Uma conjunção carnal, tipo
almas gêmeas. Havia uma ordem em casa quando o meu rei chegava, nada de
conversas altas ou mexidas de louças. Tinha que ser uma calmaria e tu sentindo
o prazer em voltar para casa.
Neste
ano da tua ausência poucos foram os momentos que eu compareci a um evento.
Minha mãe dizia que o luto é a força de um sentimento, é só podemos vive-lo se
tiver amor, e assim foi este ano. Um sábado sim e outro não, estou te visitando
orando por ti no teu túmulo, pedindo a carona de Lygia, do Mário, da Rosana, do
Leo e da amiga Samya. Não sei movimentar a minha vida sem antes te ver entre as
flores. São vinte minutos de visita que acalentam minha alma.
Fernando
meu paizinho, tive que procurar nossa querida Emília Amaral para dar força e
mais recentemente por intermédio da amiga Betânia Souza pude conversar com o
espírita Alberto Almeida que me ouviu por mais de uma hora, mandou eu tomar um
remédio homeopático, ler um livro e ver um filme. Te confesso que ele é genial,
me deixou um pouco alentada “ o amor não tem adeus, tem até breve”, disse ele.
E assim eu continuo esperando.
Meu
paizinho o mais difícil para quem não sabia nem entrar em um banco, porque
fazias tudo, e o Anderson que também partiu para ficar ao te lado, me dizia que
nada podia me atormentar, que qualquer problema teria que ser resolvido até as
ultimas conseqüências para eu não me abater. Meu Fernando, nossas Rosa,
Dilcinha e Tereza como te lembram, principalmente a Rosa que sempre cuidou das
tuas roupas e era o teu xodó. Elas sentem muito a tua falta na hora dos
questionamentos, do serviço de cada uma.
Te
amo cada vez mais a cada dia da vida e peço força para não me destruir com
tanta dor. O último sonho que Rosana teve, ela me contou que estavas bem, e por
que eu sofro tanto? Me ajuda paizinho a superar esta dor, eu juro que vou
honrar e me colocar entre os felizes que fizeram o bom uso do tempo que lhes
foi dado. Tem gente dizendo que me deixaste financeiramente rica. Desde quando
professor 20h da UFPA tem salário digno, funcionário estatal e tu fazendo uma
advocacia em torno de projetos com uma Sudam que não tem mais nenhuma
serventia? Fiquei rica sim, de te-lo ao meu lado, de viver uma cumplicidade
memorável, me enriquecendo com teu amor e cuidado que me cercavam, de usar o
cérebro, como aconselhava minha saudosa amiga Maria José Mutran: “compre um
adorno, quando os olhos cansarem, vende e troca por outro mais bonito”. E assim
tem sido o prazer de renovar o meu espaço. Enquanto vida eu tiver jamais
esquecerei de ti, e não sei quando voltarei a ser um ser humano normal, com
coração acalmado e sem dor. Até quinta-feira às 19:30 horas quando na Basílica
Santuário de Nazaré será celebrada a missa de um ano de tua passagem. O Padre
será Cláudio Pighin com a música da orquestra Corum, regida pelo maestro Sergio
Lobato que também será o cantor.
Vera Cardoso Castro
♥♥♥♥♥♥
N. da R - O advogado e jornalista FERNANDO MOREIRA
DE CASTRO JR. faleceu no dia 09 de agosto de 2010.
♥♥♥♥♥♥
♥ Transcrito
da coluna Vera Cardoso Castro ● Diário do Pará ● 05.08.2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário