CLÁUDIO BARRADAS. O
filósofo, O ator. O diretor
O padre. Um grande homem
O
meu querido amigo e irmão Cláudio
de Souza Barradas
completou no dia 25 de janeiro 11 anos de vida sacerdotal e 84 anos
de idade. Acho que vale a pena falar um pouco desse padre.
Desde
muito jovem acompanho os passos de Cláudio
Barradas.
Esse ator consagrado – com prêmios nacionais e internacionais e um
dos principais elementos representativos da arte cênica do Pará –
eu o vi pela primeira vez no palco do Teatro da Paz, interpretando o
príncipe Omar, da peça Branca de Neves e os Sete Anões, adaptada
por Maria Clara Machado, com música e arranjos da professora Maria
Luísa Vella Alves, há mais de 60 anos.
Quando
estava na Folha
do Norte,
estive várias vezes na casa de Barradas – ele morava na Rua
Tiradentes, próximo à travessa Piedade – em companhia do poeta e
ficcionista Eliston Altmann, que dirigia a página literária da
Folha,
publicada aos domingos na capa do 2º caderno.
Anos
mais tarde, dirigindo a ATESC – Associação Teatro-Escola Santa
Cruz, entidade ligada à Paróquia de Santa Cruz (Marco), que
funcionava ao lado do prédio do antigo Hospital Juliano Moreira –
onde hoje funciona a Faculdade de Medicina da UEPa -, eis que me vejo
diante do diretor Cláudio
Barradas.
Minha
entidade – ATESC - estava participando do planejamento, ensaios,
montagem e realização da peça Cristo
Total,
da irmã Benedita Idefelt (OSC), encenada em pleno regime de exceção,
por duas vezes, no Estádio Francisco Vasques, da Tuna Luso
Brasileira, e que reuniu mais de cem mil pessoas – um sucesso total
– sob os auspícios do Círculo Operário Belenense, e do
inesquecível padre Thiago Way.
Cláudio,
àquela época no SESI, era o responsável pela direção geral.
Ele
esqueceu de citar esse fato nas reportagens publicadas recentemente
no Diário
do Pará, assinadas por Oswaldo Coimbra.
Daí
que a amizade com esse moço admirável frutificou. Tornei-me guru do
ator e diretor Cláudio
de Souza Barradas.
Muito
antes disso, Cláudio
Barradas
já havia frequentado o seminário. Ele tinha 13 anos (atualmente tem
84, completados no dia 5 de janeiro passado) quando ingressou na
antiga casa de formação da Arquidiocese de Belém – o Seminário
Nossa Senhora da Conceição – levado por D. Alberto Ramos, que à
época era apenas um padre diocesano.
Após
oito anos, no finalzinho do curso de filosofia, Cláudio
Barradas
deixou o seminário para o desagrado, não apenas de D. Alberto
Ramos, do padre Nelson Soares – que se tornou seu amigo e confessor
– como de D. Mário de Miranda Villas Boas, que o tinha escolhido
para os estudos complementares de Filosofia e Teologia em Roma, na
Universidade Gregoriana.
Cláudio
Barradas
pintou, bordou, virou, mexeu; fez Letras Clássicas, inaugurando a
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Pará - sonho do
professor Antônio Gomes Moreira Jr – o nosso Moreirinha - falecido
há quase 20 anos. Foi o primeiro lugar da turma... também...
pudera... sabia Latim de trás pra frente e de frente pra trás! Em
seguida abraçou de corpo e alma o teatro, sendo um dos primeiros
alunos da Escola de Teatro da UFPa.
Mas
nem Deus e nem D. Alberto se esqueceram do brilhante, irrequieto e
desbocado e imprevisível seminarista.
Nas
horas vagas, Cláudio
ajudava nas paróquias. Colaborou em São José de Queluz, quando por
lá passou o padre David Sá, atualmente afastado do ministério; São
Francisco de Assis (Capuchinhos), participando do antigo Grêmio
Bento XV – que revelou, entre outros, Assis
Filho,
advogado, jornalista, poeta, autor de teatro, escritor e ensaísta,
falecido há três anos; e Sant’ana, do monsenhor Nelson Brandão
Soares (aposentado), onde aprendeu tudo sobre música, regência etc,
além de integrar a Schola
Cantorum
e, de quebra, fazia teatro na Igreja duas vezes por ano, na Semana
Santa e no Natal.
Quando
Nelson foi para a catedral, Cláudio
Barradas o
acompanhou. Tinha tudo a ver.
Naquela
Igreja ele foi batizado; aprendeu o catecismo; recebeu a primeira
eucaristia (ou primeira comunhão, como se dizia até há algum certo
tempo); foi cruzado e recebeu o sacramento da Crisma, das mãos de D.
Mário.
Já
aposentado da UFPa. e com o tempo livre, passou a exercer um monte de
atividades no Curato da Sé.
Um
belo domingo de Páscoa, D. Alberto logo após a celebração do
Pontifical, ao desfazer-se dos paramentos sacros, com a ajuda do
Cláudio,
dirigiu um olhar firme e ao mesmo tempo sereno e paternal ao acólito,
e perguntou: “Cláudio,
você aceita ser ordenado”? Já é tempo, não acha?... Você
começaria de baixo, leitor, diácono e depois viriam as demais
funções do presbitério até à Ordem, propriamente dita. Não sou
eu quero, é Deus que O chama".
A
pergunta soou para Cláudio
Barradas,
segundo as suas próprias palavras, como um “chute
no saco”.
Ele não titubeou, em lágrimas disse
SIM.
A
partir daquele momento tudo mudou na vida desse homem. Deixou de lado
a vaidade e os seus muitos títulos mundanos e foi para o Seminário
São Pio X, como qualquer um outro postulante ao sacerdócio.
Como
já tinha praticamente todos os créditos necessários, concluiu a
parte que faltava de Filosofia e estudou Teologia. Fez o tirocínio
na Catedral auxiliando (ainda mais) monsenhor Nelson Soares nas
atividades paroquiais.
No
dia 25 de janeiro de 1992 – Dia da Conversão de São Paulo - foi
ordenado lá mesmo na Catedral, sendo nomeado vigário auxiliar. No
dia 02 de fevereiro de 1993, D. Zico o designou para a Paróquia de
Santa Isabel de Portugal, no município de Santa Isabel, - que à
época ainda pertencia à Arquidiocese de Belém -, onde realizou um
trabalho pastoral, dos mais edificantes e maravilhosos.
Cláudio
Barradas
não perdeu tempo e logo no início montou uma equipe de teatro e de
música. Tão contagiante foi o seu trabalho que muitos crentes
se converteram à fé católica.
Ele foi um dos precursores da Renovação Carismática.
Eu
estive lá. Passei uma quarta-feira inteira fazendo uma reportagem
para o Nosso
Jornal,
- um semanário editado por Salomão Laredo, já extinto -; e posso
dar o meu testemunho.
Cláudio
confessou
que prefere estar junto ao povo humilde do interior, sentindo o
cheiro de mato. “Essa
gente é mais autêntica. Todos me querem bem"!..
não obstante o seu gênio explosivo... uma das suas características.
É verdadeiro, positivo, autêntico: não leva desaforo para casa.
Mas
ao mesmo tempo é inofensivo. É doce.
João
Carlos Pereira, acadêmico, jornalista, professor é quem diz:
“Gostaria,
um dia, de ter a coragem de Claudio Barradas e chegar ao sacerdócio.
Sei que meu caso é mais complicado, porque sou casado e tenho um
compromisso com a família, o que vem a ser uma maneira de louvar a
missão que Deus me confiou. Mas pulsa, em meu coração, um
desmensurado amor pela Igreja à qual me converti e um desejo imenso
de servi-la, no altar. Essa decisão, antes que possa tomá-la,
repousa nas mãos do Santo Padre. Sacerdotes casados, no rito romano
da Santa Igreja Católica Apostólica, ainda é uma figura
inexistente. Mesmo assim, não é impossível pensar que, em algum
momento, o Papa poderá permitir que casados recebam as sagradas
ordens e possam confessar e consagrar.
Vejo
na doce figura de padre Claudio, um exemplo edificante. Hoje,
conhecendo-o melhor, admiro-o ainda mais. O homem que caminhava para
as delícias da aposentadoria, redirecionou seus passos no sentido do
trabalho. Numa idade em que muitos querem parar, ele pediu serviço e
o Senhor o atendeu. O serviço pela vida, pela Igreja, pela vida,
enfim, fez de um homem bom, um ser humano raro”.
Após
algum tempo o nosso sacerdote foi transferido da Paróquia de Jesus
Ressuscitado - Conjunto Médice I/Marambaia, onde atualmente se
encontra.
E
nessa terça-feira, 25 de janeiro, dia da conversão de Paulo de
Tarso no caminho de Damasco, dia escolhido por Cláudio
Barradas,
para a sua ordenação, o meu irmão e amigo completou 13 anos de
padre. Oxalá que as palavras de Melchisedeque o acompanhem para todo
o sempre, e que ele possa, através das suas virtudes, com o seu
valor com a sua inteligência, com o seu teatro e a humildade, trazer
muitos servos para a Messe que tanto necessita.
Tem
mais - Em
2010 o tradicional Sermão das Três Horas da Agonia foi pregado pelo
padre, filósofo e ator Cláudio
de Souza Barradas.
Durante 190 minutos o nosso jovem-idoso-sacerdote nos presenteou com
uma lição de vida, filosofia, da Igreja Católica, de Cristo,
O Filho de Deus.
Na
explicação das três últimas palavras, das sete que Cristo disse
na Cruz, Cláudio,
visivelmente emocionado, quase que se deixa vencer pela comoção!
Foram
justos os aplausos de pé provindos da seleta plateia presente na
Capela de Santo Antônio, no centro de Belém. Creio que esses
aplausos vieram de todo o mundo já que a prédica foi transmitida
por satélite pela TV Nazaré - Canal 30.
O
sermão virou livro. Rapidamente esgotado.
Cláudio
Barradas
já teve a sua consagração em vida. Um teatro na Travessa Jerônimo
Pimentel, inaugurado em 19 de junho de 2009 tem o seu nome.
Situado
num bairro central de Belém, o conjunto formado pelo Teatro
Universitário e a Escola de Teatro e Dança, tem como função
contribuir para o desenvolvimento das Artes Cênicas no Pará.
Assim
sendo, o Teatro
Universitário Cláudio Barradas
- no mesmo local onde funciona a Escola de Teatro e Dança - se
constitui em um espaço aberto aos inúmeros grupos artísticos da
cidade e da região com os quais poderá estabelecer uma prática
enriquecedora, com capacidade para 260 espectadores sentados.
Há
19 anos resolveu retornar ao teatro; e nesses quase quatro
lustros atuou e dirigiu várias peças.
Em
dezembro passado com atores da comunidade da Paróquia Jesus
Ressuscitado, no Conjunto Médici 1, no bairro da Marambaia, encenou
"Morte e Vida Severina", a famosa obra de João Cabral de
Melo Neto - escrita entre os anos de 1953 e 1954 - que ficou em
cartaz sob a forma de Auto de Natal até 6 de janeiro último.
A
montagem toda composta em poesia contou com mais de vinte atores,
cantores e músicos que representaram o drama da seca nordestina sob
trilha composta por Chico Buarque de Hollanda. As apresentações
aconteceram diariamente na Igreja de Jesus Ressuscitado, sempre após
a missa das 19 horas.
Finalmente
Cláudio
Barradas
deu um depoimento para a posteridade sobre a memória viva do teatro
paraense no programa “Ribalta” da TV Cultura – Canal 2, em
gravação feita no Teatro
Claudio Barradas da
Escola de Teatro e Dança da UFPA.
O
registro foi gravado em DVD e encaminhado à TV Brasil onde foi
mostrado em todo o Brasil. Além da entrevista, o DVD mostrou
'extras' com fotografias de espetáculos do ator e o making off da
gravação. 'Ribalta' é um projeto da Universidade Federal do Pará,
sob a iniciativa do Teatro
Claudio Barradas,
com apoio da Pró-reitoria de extensão da UFPA, Fundação de Amparo
à Pesquisa (Fadesp) e coprodução da Academia Amazônia.
Deu
certo.
Mais
uma consagração para o padre
Dr. Cláudio de Souza Barradas
♦
Como disse linhas
acima, Deus e D. Alberto não perderam o Cláudio Barradas de vista.
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