"Mestre Rosemiro" continuou o trabalho de "Cabeludo"
Relembrando “Cabeludo”
No
passado mês de novembro “Cabeludo” completa 10 anos de morto. “Cabeludo”
era o apelido de Antônio Farias Vieira, um dos maiores nomes - senão o maior -
do artesanato de Icoaraci.
Na realidade, tudo começou com ele.
Na década de 50 (1956), Antônio Farias Vieira
(o “Cabeludo”... nome dado devido à sua vasta cabeleira!), nascido na Vigia,
casou com a jovem Cosma Croelhas e foi morar no bairro do Livramento
(Paracuri). ”Cabeludo” era um pintor letrista, fazia faixas, murais, desenhos,
etc. Era exímio na sua arte.
Uma ocasião folheando um livro sobre
artesanato encantou-se com a foto de um vaso de cerâmica; tanto que resolveu
reproduzi-lo.Para tanto, foi até uma olaria e pediu para o artesão fazê-lo no
torno. Após queimá-lo, ele fez as pinturas (algumas de sua criação) utilizando
as cores marajoaras (vermelho, preto e branco). Devido à sua curiosidade,
podemos garantir que "Cabeludo" inaugurou uma nova fase do artesanato
icoaraciense.
"Cabeludo" se interessou pelo
assunto; e, a partir daí, reproduziu várias peças, assim como criou várias
outras obedecendo ao estilo das culturas marajoara, tapajônica e maracá, as
quais estudou com afinco.
Para aperfeiçoar ainda mais a sua técnica e
os seus conhecimentos "Cabeludo" passou a freqüentar com assiduidade o Museu
Paraense Emilio Goeldi. Os cientistas do museu observaram que o caboclo
vigilengo “dava pra coisa” e resolveram ajuda-lo ensinado-lhe algumas técnicas.
O aluno, diligente, surpreendeu os professores, Suas reproduções contrastavam
com as originais...sendo inclusive mais bonitas...e, é claro, difícil de
distinguí-las.
O
nosso artesão-maior trabalhou em silêncio até 1960 quando foi descoberto
pelo jornalista Aldemyr Feio que, àquela altura, integrava os quadros da
extinta “Folha do Norte”.
Muitos foram os seguidores desse Grande
Mestre - vizinhos, amigos e curiosos - além da sua numerosa família. O aluno
mais ilustre foi Raimundo Saraiva Cardoso que anos mais tarde se transformaria
no “Mestre Cardoso”. Ele deu
prosseguimento ao trabalho de “Cabeludo” e, praticamente, resgatou a arte
marajoara, a qual apenas muito mais tarde os artistas da Região iriam aderir.
Outros artesãos também começaram a copiá-lo. Alguns iam trabalhar com “Cabeludo”, aprendiam as suas técnicas e, depois, caminhavam sozinhos em suas
olarias. “Cabeludo” tinha muito prazer em ensinar tudo o que sabia, e ficava
feliz com o progresso dos discípulos.
Graças a “Cabeludo” o Paracuri se tornou o
centro do artesanato de Icoaraci onde, atualmente, se concentra cerca de 90% da
comunidade de ceramistas. São inúmeras oficinas e olarias, alinhada uma ao lado
da outra, por toda a extensão do bairro, a partir da Rua 15 de Agosto (4ª Rua).
Esse ato fez com que a Vila Sorriso se transformasse no maior centro produtor e
divulgador da cerâmica indígena da Amazônia, conhecida em todo o mundo.
O nosso “Cabeludo” ficou por muito tempo
esquecido. Tanto que morreu nessa situação: pobre e ignorado. Ninguém se
lembrava que ele foi o primeiro, o precursor do artesanato icoaraciense.
Todavia, há cinco anos surgiu o Movimento Cultural de Vanguarda de Icoaraci
(Mova-CI) disposto a resgatar a memória e as tradições da Vila Sorriso.
“Cabeludo” foi uma delas.
A cada ano o Mova-CI realiza a Mostra “Mestre
Cabeludo” que reúne os “virtuoses” locais nas mais variadas expressões da arte,
destacadamente o artesanato e a cerâmica local.
Foi feita justiça.
“Cabeludo” não foi (e jamais será) esquecido.
O artesanato e o povo icoaraciense lhe devem um grande tributo.
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►Material publicado no jornal O Estado – Agosto de 2002
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