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1/04/2011

RAY CUNHA



Calafrio

Dorinato Nogueira apresenta o programa Nosso Povo Nossa Gente na Rádio Mega FM. Estima-se que ele tenha cerca de 800 mil ouvintes, diariamente, moradores das cidades-satélites (regiões administrativas) do Distrito Federal e dos municípios goianos e mineiros do Entorno de Brasília. Seu programa é popular e assistencialista. Faz campanhas-relâmpago para socorrer miseráveis absolutamente esquecidos pelo Estado. Ele me disse que, este ano, está recebendo cartas de crianças suplicando por cesta básica e medicamentos para seus pais. Antes, recebia pedidos de brinquedos a Papai Noel.

A rodoviária do Plano Piloto, o bairro mais nobre de Brasília, é o coração da cidade. Por lá passam, diariamente, pelo menos meio milhão de pessoas. A rodoviária do Plano Piloto é uma síntese de Brasília, e Brasília é uma réplica, em escala reduzida, do Brasil. A Rodoviária é povoada por crianças imundas, esmolambadas e embriagadas de drogas, fome e a miséria das ruas, onde pululam como fermentos prestes a ser engolidos pelos ratos de colarinho branco. A Rodoviária é povoada também por famílias de retirantes. O olhar das crianças dessas famílias é como pedradas na cara. Mendigos, loucos, desesperados, almas penadas, se misturam ao passa-passa. No serviço de som, um rock inútil berra num chiado que impede de sabermos se é em inglês ou português. Nas lixeiras, seres humanos disputam babuje com pombos. Em Brasília só há urubus no Congresso Nacional e na Câmara Legislativa. Da Rodoviária, partem ônibus imundos, sucateados e atrasados, sacolejando em vias esburacadas e pontilhadas de lixo.

Brasília foi planejada e só tem 50 anos, mas já está sucateada. A propalada cidade mais moderna do mundo (alusão aos monumentos de Oscar Niemeyer) está sucateada. O ex-governador José Roberto Arruda ensejou a oportunidade de se passar Brasília a limpo. Arruda foi pego comandando uma ladroagem de fazer inveja a muito coronel de barranco. Então o Ministério Público pediu ao Supremo Tribunal Federal intervenção no Distrito Federal. Mafiosos de todas as esferas se mexeram e vetaram a intervenção. Assumiu Rogério Rosso, do PMDB, roqueiro amador, ex-executivo da Fiat, aprendiz de Joaquim Roriz, o governador quatro vezes que deixou Brasília cancerosa, em metástase. Rogério Rosso foi um fiasco. Assumirá o buraco, em 1 de janeiro, o ex-ministro dos Esportes de Lula, Agnelo Queiroz, do famigerado PT, famélico por cargos.

Brasília é a capital do Brasil, que, após os 21 anos da Ditadura dos Generais (1964-1985) e com a assunção à presidência da República de José Sarney, que dispensa apresentação, despencou em apavorante inflação, nepotismo desenfreado, patrimonialismo, fisiologismo, um lamaçal venezuelano. Fernando Collor de Mello, que sucedeu Sarney, foi expulso da Presidência. Seu vice, Itamar Franco, assumiu, e juntamente com seu ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, pôs fim à inflação. FHC foi eleito presidente e arrumou o país, com políticas de Estado, como a Lei de Responsabilidade Fiscal, para dar um grande exemplo.

Em 2002, Lula, e o PT, assumiram a Presidência. Oito anos depois, Lula deixa uma herança amarga. A partir de janeiro de 2011, o país vai cair em si. A dívida pública se tornou um dragão. A Previdência está atolada até o pescoço. A Educação, a Saúde e a Segurança estão falidas. A infraestrutura do país está sucateada. O mercado financeiro é um assalto. As estatais são cabides de emprego e covil de negociatas. A criatura que sucede a Lula é uma incógnita. Os traficantes estão ocupando o Brasil e dando as cartas, com representação parlamentar e tudo. Mafiosos estão matando bebês nos hospitais. Lula transformou o Brasil em um galinheiro cheio de galinhas gordas e pôs um predador híbrido para tomar conta.

Quando crianças pedem a Papai Noel cesta básica e remédio para seus pais é porque alguma coisa sinistra está se insinuando.


Brasília, 14 de dezembro de 2010

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