coaraci – a conhecida “Vila
Sorriso” - completa no domingo
dia, 8 de outubro, 148 anos. No entanto, nem todo mundo sabe de onde se
originou esse simpático slogan.
A expressão “Vila Sorriso”, criada
por mim, surgiu em 1969.
E tem uma
história.
O médico e ex-deputado federal Stélio de Mendonça Maroja foi
indicado para a Prefeitura de Belém, em 1967.
Tão logo tomou posse do cargo sua primeira atitude foi manter contato
com as lideranças dos bairros e distritos para conhecer de perto os problemas
dessas comunidades.
Stélio veio a Icoaraci para um encontro nos primeiros dias de novembro
de 1967 “com as pessoas de prestígio” e
representantes do comércio e indústria de Icoaraci. O encontro ocorreu numa
noite de sexta-feira na residencial oficial do agente distrital, na Rua Dr.
Manoel Barata, onde hoje funciona uma unidade da Funpapa.
Foi um jantar co-patrocinado pela Agência Distrital e empresários.
Stélio muito prático ouviu um por um dos convidados, dentre os quais, Evandro
Cunha (falecido há cinco anos), Orlando Cunha, Alfredo Coimbra (falecido no ano
passado), Rodolfo Tourinho (falecido), Bento Castro (falecido), Ivo Araújo,
falecido, que à época era gerente da Óleos do Pará S.A (Olpasa) que fabricava
os óleos Dora (de leite de coco
babaçu) e Doramim (à base de óleo de
amendoim), Holdernan Rodrigues (falecido), Salustiano Vilhena Filho, o “Chefe
Salu” (falecido), e eu, que à época assinava uma página dominical na Folha do Norte, -, ou seja, o jornal de
maior circulação em todo o Estado, norte/nordeste, com uma tiragem comprovada de 30 mil exemplares/dia e 60/70 aos domingos.
Stélio disse que precisava do apoio de todos para que fizesse uma boa
administração, e já estava pensando num nome para a administração icoaraciense.
Em seguida solicitou à equipe sugestões e um programa de trabalho para
Icoaraci, cuja jurisdição ia da corrente da Base Aérea - que não mais existe -
até quase ao Bengui, Tapanã e São Clemente, áreas conhecidas, além de Cotijuba,
ilhas próximas - 29 ao todo - e Outeiro, que tinha um coordenador indicado pelo
agente distrital e nomeado pelo prefeito.
Novo
encontro - Vinte dias após, Stélio Maroja mandou um recado por um Oficial do
Gabinete do Prefeito, propondo um novo encontro com todo mundo que compareceu
ao jantar.
A reunião ocorreu na sede do Pinheirense Sport Clube. Na ocasião Stélio
anunciou o novo “subprefeito” de Icoaraci: o engenheiro rodoviário Evandro Simões Bonna, ex-diretor do
Departamento Municipal de Estradas de Rodagens (atual Sesan), falecido há dois
Bonna fez o mesmo jogo do prefeito.
Empossado em meio a uma grande festa, reuniu-se com todas as lideranças
para uma “conversa informal” e traçar um planejamento de trabalho, na residência
oficial, na Rua Manoel Barata (2ª Rua).Para encurtar a história, desse
planejamento surgiram vários frutos.
Em abril foi inaugurado o serviço de travessia em balsas para o Outeiro
(que antes era feito por barquinhos) com a construção de uma rampa na Rua 2 de
dezembro; escola primária no bairro de Itaiteua/Outeiro (Monsenhor Azevedo),
uma igrejinha bem em frente.
Bonna também negociou com o Pinheirense a aquisição pela Municipalidade
de uma área na Rua Manoel Barata e deu início à construção do prédio da Agência
Distrital, que foi concluída na administração do major/aviador Rolando Chalu
Pacheco, sendo prefeito Nélio Dacier Lobato.
Em maio surgiram rumores de que no ano seguinte – 1969 -, no dia 8 de
outubro, Icoaraci completaria 100 anos de existência. Evandro Bonna mandou
apurar direitinho a história.
Confirmada. Instituiu a Comissão Coordenadora do Iº Centenário de
Icoaraci, que foi tornada oficial por ato do prefeito Stélio Maroja.
Os seus componentes eram as mesmas pessoas que acompanharam Stélio
desde o início: Evandro Cunha, Orlando Cunha, Alfredo Coimbra, Rodolfo
Tourinho, Bento Castro, Ivo Araújo, Holdernan Rodrigues, Hélio Amanajás
(falecido), Salustiano Vilhena Filho, “Chefe Salu”, e eu, Aldemyr Feio, sob a
presidência de Evandro Bonna.
A comissão começou a funcionar a partir de 17 de outubro de 1968 e se
reunia todas as quartas-feiras, à noite, na residência oficial.
A partir daquele momento foi
estabelecido um cronograma de eventos e inaugurações alusivos ao Iº Centenário, que deveriam acontecer
em todo o decorrer de 1069.
Hino - No
início de dezembro, a comissão foi procurada pelo empresário – era proprietário
da Empresa de Águas Nossa Senhora Nazaré, em Maracauera, atual Indaiá – e
compositor Francisco Pires Cavalcante. oficial de marinha reformado, músico
(tocava requinta, uma espécie de flauta, nas bandas de música das unidades onde
serviu), natural de São José das Piranhas, sertão da Paraíba - mas apaixonado
pela “Cidade das Mangueiras” havia muitos anos -, e que embora morasse em Belém, possuía
uma bela residência na Travessa Souza Franco, próximo da Rua Siqueira Mendes,
1ª rua de Icoaraci, onde existe uma vila.
Pires apresentou a todos uma partitura com a letra de um hino que havia
criado para o Iº Centenário de Icoaraci. Ele cantou dedilhando um violão. Os
membros da comissão acharam interessante e pediram-no que retornasse em janeiro
com o hino gravado com letra e música, etc.
Ele assim o fez. Trouxe o hino gravado em cassete
Todos aprovaram.
Pires Cavalcante- atualmente com 89 anos - disse que não queria nada em
troca. Apenas que a sua criação se tornasse o Hino Oficial do Iº Centenário,
além de uma ajuda da Prefeitura para a produção do disco. As demais despesas,
editoria, intérprete, pagamentos de direitos de execução, etc, ficariam por sua
conta. Era o seu presente para Icoaraci.
A Prefeitura de Belém bancou parte da produção. Eu, juntamente com Ivo
Araújo, fomos designados para acompanhar as diversas fases de produção.
As gravadoras do Rio e São Paulo, além de botarem dificuldades na
gravação e prensagem do compacto simples (era o chique da época) cobraram muito
caro. Pires Cavalcante descobriu uma gravadora de jingles em Belo Horizonte (a
Bemol) que, mesmo com o equipamento inferior ao das grandes gravadoras, se
ofereceu para produzir o disco.
Todas as atenções voltaram-se para Belo Horizonte e, em 40 dias,
exatamente no dia 15 de março, saiu o disquinho com duas musicas: De um lado, o
Hino de Icoaraci; e do outro,Vila Modesta
– um sambossa que enaltece Icoaraci - do próprio Pires Cavalcante e de Clodomir
Colino , radialista famoso na época, já falecido. Foram prensadas 2000 copias.
Mil por conta da Prefeitura. As outras mil por conta do Pires. O cantor Luiz
Olavo (falecido há 10 anos) foi o intérprete do hino.
Repercussão
- Pires Cavalcante, sempre modesto, não quis festa de lançamento; todavia,
o seu pedido não foi atendido. O lançamento oficial ocorreu em meio a um
coquetel na sede do Pinheirense, com a presença do Conjunto de Guilherme
Coutinho (falecido).
O disquinho foi distribuído imediatamente às emissoras de rádio;
contudo, a primeira audição deu-se no Programa
José Travassos (falecido) na então Rádio Jornal Liberal, que ia ao ar de
nove ao meio dia, e era campeão do Ibope.
Nas festas de junho e nas férias de julho de 1969 o disquinho fez o
maior sucesso tocando em todas as festas, tanto em Icoaraci, como no Outeiro,.
Fama - De
tanto rodar nas rádios o hino de Icoaraci ficou famoso. Rodou até n’A Voz da
América, graças ao empenho de Roberto Rodrigues – jornalista, já falecido,
e então correspondente daquela emissora americana, durante o programa "Tributo
a Icoaraci", produzido pelo próprio RR e apresentado pelo locutor
Pedro Américo. O programa foi ao ar pelas ondas curtas d´A Voz da América, (25 metros) no dia 04 de julho de 1969, ás 22
horas.
Na minha pagina, deixei de usar o termo “Vila Famosa”, como Icoaraci
era conhecida, e mudei para Vila Sorriso.
A explicação é simples. Na segunda estrofe do Hino do Iº Centenário, Pires
Cavalcante diz: “...a vida passa, passa e
ninguém se embaraça, a gente é feliz todo dia sem olhar no calendário. A nossa
vila sem feitiço, sem mandinga, tem uma rainha que ginga festejando o
Centenário”.
Ora, diante disso (fiz uma reportagem a respeito. Infelizmente não
disponho mais, nem dos originais e nem do exemplar da Folha que a publicou) continuei a usar o Vila Sorriso. No início houve muita reclamação, mas depois o povo
aceitou.
Nos programas de rádio os animadores (àquela época não estava em moda,
ainda, a expressão comunicadores) referiam-se
a Icoaraci como Vila Sorriso,
inclusive o José Travassos e o (Manoel) Kzan Lourenço, falecido no início de
2003, criador da primeira
rede sonora de Icoaraci, a Top
Som Propaganda, atual Tropical Propaganda – da Radio Marajoara - os maiores
divulgadores das coisas icoaracienses.
Falta dizer que no encerramento dos festejos do Iº Centenário de
Icoaraci – no dia 28 de dezembro de 1969 -, todos os membros da Comissão
Coordenadora foram condecorados pelo prefeito Stélio Maroja com a Medalha dos
350 anos de Belém.
Consolo - Tem muita coisa para falar sobre as alegrias que me deu o Vila Sorriso. A senhora Mízar Bonna, num
dos seus livros se reporta sobre o assunto atribuindo-me a criação do Vila Sorriso. O jovem escrito José Raymundo de Oliveira
Guimarães Junior (Junior Guimarães), morto tão precocemente há nove anos,
confirma o fato em seu livro Icoaraci – Monografia de um Mega Distrito.
Detalhe
- Junior ao referir-se a mim atribui um título: Icoaracílogo
Dois anos após as festas do Iº Centenário, mudei-me para o Rio de
Janeiro, onde passei 15 anos. No retorno observei que o Vila Sorriso já era expressão popular. Virou símbolo de Icoaraci;
nome de edifício, de conjunto habitacional, de bloco, de escola de samba, de
escola primaria, de bar e até de motel!
Há cinco anos passados virou nome de emissora de rádio comunitária.
Deveria tê-lo registrado.
Como não o fiz, está difícil reivindicar os direitos autorais.
O meu consolo é que Vila Sorriso
é o codinome da terra onde a gente é
feliz todo o dia sem olhar no calendário, a grande aniversariante do mês.
Portanto, Vila Sorriso não é apenas um simples apelido... é a configuração do meu
(nosso) povo, Caro amigo Comendador Raymundo Mário Sobral.
Outra coisa,
como percebe, o aniversário de Icoaraci
é 8 de outubro – antigo nome da Rua Padre Júlio Maria Lamberde. 3ª da nossa
mini-cidade – e não na quarta-feira/4!
Parabéns
a Icoaraci e ao seu povo alegre e feliz.
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