
É muito difícil a gente dizer adeus para àquelas pessoas que se quer bem.
Carlos Vinagre é uma delas.
O conheci há muitos anos quando ainda engatinhava no jornalismo e ele já era bamba no ofício.
Anos mais tarde me tornei amigo dele como professor – ele criou duas escolas, a mais famosa foi a Elias Viana, na Travessa Caldeira Castelo Branco – e como político, já que, por algum tempo, fui repórter de cidade e cobria, vez por outra, a Assembléia Legislativa; e ele um parlamentar de escol, ou seja, um dos poucos políticos sérios e honestos que conheci... tanto que foi fiel a um só partido, o MDB e posteriormente o PMDB, cuja ficha de filiação a de nº 1.
Bom esposo, bom pai e um avô coróco com os netos.
Carlos Vinagre era muita coisa: um notável anfitrião, advogado, filósofo, historiador, jornalista e procurador do MP - trabalhou como promotor em Maracanã - e professor de História e Geografia. Chegou a lecionar em mais de 20 escolas.
Anos mais tarde fomos nos reencontrar na Academia Paraense de Jornalismo que juntamente comigo, Donato Cardoso e outros excelentes companheiros, ajudou a fundar.
Carlos Vinagre era o editor responsável pelo jornal O Estado - que eu já reportei neste espaço – desde o início, há 17 anos.
Aconteceu algo, envolvendo a lembrança de nosso pranteado morto, que eu gostaria de contar para todos os que prestigiam o Jornal do Feio.
Hoje após ouvir atentamente o Ronald Pastor, no Jornal da Manhã – Rádio Cultura FM -, falar das qualidades de Carlos Vinagre, fui trabalhar na Prefeitura de Belém.
Antes passei pelo salão nobre da Assembléia Legislativa para dizer Tchau ao amigo, e fazer algumas orações diante do seu corpo inerte.
Atravessei a rua e me entreguei às atividades. Lá por volta do meio dia o César, do setor de informática, veio até à minha mesa e disse sem jeito: “Feio... o teu computador, não mais tem jeito, levou farelo" – o PC que eu trabalho, um pouco antigo... acho que data dos tempos do Dr. Hélio Gueiros, nove a 10 passados, pifou há uma semana e foi levado para a Cinbesa; faltava um HD... foi comparado... mesmo assim pifou – . E ele continuou: "Como vamos resolver esse problema... ah, tive uma idéia: eu tenho em casa um PC usado, mas não tanto como esse teu, com um HD de 20 MB... eu posso dispor dele... vou te emprestar até a Prefeitura comprar um novo. Podes usá-lo como quiseres e eu posso trazer amanhã..aceitas?”
E eu ia dizer que não, ora!
Nesse momento o Hamilton Pinheiro, que é o responsável pela minha seção e a que tudo assistia, disse em tom de blague: “Olha aí companheiro...o São Carlos Vinagre fazendo milagre!... Tu foste dizer adeus pra ele e ele retribuiu o teu gesto no ato: ganhastes um computador semi-novo para trabalhar”
É pertinente.
Muito mais quando perguntado, o César disse que teve a idéia na hora....sem mais e nem menos.
Horas depois, o Edílson, que trabalha com César, me trouxe uma proposta para aquisição de um computador incrementadíssimo que iria facilitar enormemente o meu trabalho.
Passei a proposta para o Departamento de Administração; e, ao que parece, vou ganhar mesmo uma máquina nova cheia de recursos.
Para mim esse dia será inesquecível.
Obrigado amigo, confrade e colega Carlos Vinagre.
Mesmo depois de morto você continua o mesmo camarada de sempre e ajudando às pessoas.
Que Deus em Sua Infinita Bondade O receba com as honras que merece.
Paz à boníssima alma.
Aldemyr Feio