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4/23/2014

MEMÓRIA


ROMULO MAIORANA, 

que falta você faz



Pelo menos para mim, que sou ainda considerado uma das viúvas do Romulo, expressão carinhosa que Ossian Brito dizia para aquelas pessoas a quem RM ajudou.
Romulo Maiorana nesta quarta-feira/23 completa 28 anos de morto. Faleceu em São Paulo e foi inhumado em Belém, na necrópole de Santa Izabel. 
Romulo Maiorana, criador do sistema que leva o seu nome e um dos maiores grupos de comunicação do País.
Eu fui um dos amigos que fui receber o ataúde contendo os restos mortais desse grande homem, trazido pela Transbrasil.
Romulo Maiorana, que se notabilizou pela sigla RM, nasceu em Recife/Pernambuco/RN - dia 20 de outubro de 1922 – filho do casal Francisco Maiorana e Angelina Chiappeta Maiorana, de origem italiana.
Após servir à Pátria – como se dia antigamente - foi estudar em Roma. No retorno ao Brasil, passou por Natal no Rio Grande do Norte. 
Fez tanto bem à cidade potiguar que a municipalidade homenageou o ilustre filho que revolucionou a comunicação na Amazônia, dando o seu nome a uma rua: Jornalista Rômulo Maiorana, no Conjunto Morada Nova – Bairro: Felipe CamarãoCEP: 59074-027.
Mas foi o amor pelo Pará que o transformou, se apaixonou. Foi um amor à primeira vista que se manifestou assim que pôs os pés em Belém, no ano de 1953, aos 31 anos.
Perspicaz, como demonstraria ser ao longo de sua vida e empreendedor dos mais notáveis. RM tentou alguns negócios comerciais, como fabricar placas indicativas de ônibus, flâmulas e painéis luminosos, através da Duplex Publicidade, montada numa bela área na Avenida Senador Lemos, entre as Travessas D. Romualdo de Seixas e D. Romualdo Coelho.
Com o fechamento da Duplex Publicidade, passou a fazer corretagem de anúncios para os três principais jornais da época: O LiberalFolha do Norte A Província do Pará
Posteriormente criou uma rede sete lojas de vestuário e calçados, que inovaram em vendas e marketing, uma revolução na época, - com as iniciais do seu nome RM – as famosas Lojas RM.
Mas o irrequieto “italiano” – que sempre teve inclinação para jornalismo -, aliás, a sua verdadeira paixão -, iniciou nos anos 60, a publicação de uma coluna social na Folha do Norte, o maior jornal no estremo norte.
Antes já havia escrito algo semelhante n´O Liberal – à época porta-voz Partido Social Democrático (PSD), orientado pelo general Joaquim de Magalhães Cardoso Barata, um dos maiores, senão o maior, caudilhista do Pará. Foi interventor federal no Pará em 1930, voltou a ser interventor durante a grande guerra e em 1953 foi eleito senador, preparando-se para disputar – e vencer – a primeira disputa como governador eleito pelo voto popular, em 1955.  
O Liberal  já não era mais do PSD: fora adquirido pelo engenheiro e empresário Ocyr Proença. Todavia, o jornal estava desacreditado e tirava 500 exemplares em 1966 e estava prestes a fechar.
Romulo resolveu adquirir o jornal.
Fechou abruptamente sua famosa cadeia de lojas, na cidade, e comprou, em 1966, O Liberal. Ele teve de trabalhar dobrado para conseguir que a velha e precária impressora – rotoplana - funcionasse, imprimindo o velho diário.
Meses após adquiriu uma rotativa que imprimia um jornal que havia fechado no Maranhão. O Liberal passou a ser impresso um pouco melhor, com uma nova diagramação, logomarca em azul, assim como as chamadas da primeira página. De oito páginas passou para 16/10 páginas.
Romulo, inteligentemente, conquistou, de saída, os jornaleiros com propostas vantajosas e presentes para que apregoassem prioritariamente O Liberal. Dobrou as comissões dos “baderneiros” e os vendedores de rua. Oferecia jornais de cortesia. Renovava empréstimo, que por vezes eram esquecidos, oferecendo permuta de publicidade, divulgando, com destaque, os nomes dos benfeitores.
Enquanto isso comprou o passe de Cláudio de Sá Leal – que esteve à frente da Direção de O Liberal há alguns anos passados, até a sua morte - e Eládio Bastos Ribeiro (Eládio Malato) que trabalhavam já mais de 30 anos n´A Província do Pará, que não abalava a circulação do jornal.
Em 1972, já consolidado sua liderança, deu um golpe mortal na concorrência: adquiriu nos Estados Unidos uma moderna rotativa offset “Goss Comunity”, zerada.
Foi uma festa.
Eu estava presente no dia em que o garoto Romulo Maiorana Jr apertou o botão que acionou a engrenagem da rotativa amarela cheirando a leite!
O Liberal foi o primeiro jornal do Norte a adotar o moderno sistema de impressão em off-set, que garantia rapidez, nitidez, limpeza e qualidade na impressão.
Dois anos depois, RM comprou a Folha, já decadente.
Ao invés de tentar reanimar o glorioso jornal do passado, RM decidiu fecha-lo preservando o titulo.
Paulo Maranhão - morto aos 96 anos, 18 anos antes - diretor presidente da Folha do Norte, que comandara o maior jornal da Região mais de meio século, - certamente estaria orgulhoso de ver o jornalismo paraense ganhar nova roupagem, após longo tempo de estagnação.
O Liberal deixou a tradicional sede da Rua Santo Antônio com a Praça D. Macedo Costa, onde nasceu, e passou a ocupar o majestoso edifício da Rua Gaspar Viana, com fundos para a Boulevard Castilhos França - onde em breve será ocupado por uma entidade de ensino.
Nesse período adquiriu dos descendentes do ex-governador Luiz Geólas de Moura Carvalho, o controle acionário da Rádio Difusora do Pará (ZYE-25) – que depois passou a chamar-se Rádio Jornal Liberal e, finalmente, Rádio Liberal AM (1.330 Khz), como fora inicialmente registrada no então Dentel.
Dez anos após no dia 27 de abril de 1976, inaugurou a TV Liberal – Canal 7  (VHF) e 21UHF (digital), montada em apenas oito meses, com equipamento importado, moderníssimo, que passou ser afiliada da TV Globo, em substituição a TV Guajará – Canal 4 – atual TV Boas Novas.
Pelos 10 anos seguintes Romulo não pararia mais de investir, crescer e expandir seu poder. Seu jornal se tornou o segundo maior consumidor de papel de imprensa do Norte e Nordeste, com tiragem em torno de 60 mil exemplares, quase dobrando aos domingos. De cada 10 leitores de jornal no Pará, quase nove liam O Liberal, uma proporção sem igual no país na época. Seus outros veículos de comunicação eram, todos, líderes em seus respectivos setores.
Com uma nota na coluna principal do jornal – Repórter 70, título criado desde que assumiu definitivamente o controle do jornal -, que ele escrevia ou supervisionava, com o apoio de Hélio Gueiros, Ossian Brito e Newton Miranda, podia fazer o sucesso ou o desastre de uma pessoa, empresa ou governo.
Quando morreu, exatamente num dia como hoje, 23 abril de 1986, aos 64 anos, de leucemia, RM estava adquirindo um novo e moderno parque gráfico para o jornal, além de equipamentos de ponta para as emissoras de rádio e televisão, além de montar um novo tipo de negócio, a produtora de vídeo, que deu origem tantas outras empresas das “ORM - Organizações Romulo Maiorana”
Os sete filhos, que o sucederam, sob a presidência honorária da mãe, Lucidéa Maiorana, encontraram uma máquina azeitada, em pleno movimento e com um apreciável estoque de capital líquido, os elementos que respondem pelo poder sem igual que O Liberal tem exercido na história da imprensa do Pará.
Romulo Maiorana em vida ajudou muita gente. Dentre eles o jornalista Guaracy de Brito – de saudosa memória, pernambucano como ele e que “importou” do Jornal do Dia - veículo que circulou por algum tempo em Belém; assim como Walter Guimarães – falecido no ano passado -, também do Jornal do Dia, especialmente o jornalista Odacyl de Souza Catette, funcionário de O Liberal por muitos anos. Originário da Rádio Guajará – descoberto por Linomar Bahia - onde fazia escuta de emissoras do Rio e São Paulo para abastecer os noticiosos da emissora, Odacyl formou-se advogado. 
Pena que já se foi.
Romulo Maiorana foi o paraninfo e forneceu-lhe o anel e a toga.
Eu também fui ajudado por RM.
Eu escrevia uma página de Icoaraci aos domingos na Folha do Norte. Um dia recebi um convite - através do Malato – para falar com o “italiano"
Numa quarta-feira de março, por volta das 10 horas, estive lá.
Escoltado pelo Malato e pelo Walter Guimarães, fui introduzido no gabinete de RM. Ele – elegantíssimo, num conjunto bege e usando um sapato mocassin branco e sem meia, me encarou fundo e disse. “Ah, então é você é o Feio? Moço sei tudo sobre você. Fiz uma devassa na sua vida. Estou com vontade enorme de conquistar o mercado de Icoaraci... por sugestão do Malato quero saber se você quer trocar a Folha pelo nosso jornal?”
Pô, um convite para escrever n´O Liberal, ademais feito pelo próprio dono 
Era a glória!!!
Diante da minha afirmação RM rezou o “padre nosso"; ou seja, como seria o meu procedimento, como deveria me comportar como colunista d´O Liberal; notícias quentes; texto leve de modo que todos pudessem entendem “sem desprezar o vernáculo”.
Ele não era de muitas palavras. Era prático e visionário.
Em seguida mandou que o Walter Guimarães providenciasse a minha contratação e preparasse imediatamente a minha carteirinha... para facilitar as coisas.
Preparado o documento, na mesma máquina elétrica IBM que utilizava, RM assinou e me entregou dizendo feliz: “Agora. Feio, você é dos nossos, Quero receber boas notícias. Confio em você”.
Ao lembrar esse episódio me arrepio todo. A carteirinha, eu a conservo até hoje.
Sete anos após, ao me transferir para o Rio de Janeiro, onde permaneci por 15 anos, procurei Romulo Maiorana. Ele me disse que não poderia de imediato me ajudar no Rio, pois dispunha dos serviços das agências de notícias.
No entanto, como forma de reconhecimento pelo meu trabalho e dedicação a O Liberal, eu poderia ser uma espécie de correspondente mandando informações sobre os paraenses radicados no Rio, substituindo Martins e Silva, falecido dois meses antes, e que fazia este trabalho para Folha do Norte.
Disse-me, também, que ao chegar ao Rio procurasse a SITRAL – representante de O Liberal – e que “o Guilherme poderá facilitar as coisas e você pode usar o nosso serviço de malotes”.
Ao chegar ao Rio, procurei a SITRAL e me tornei amigo da tchurma. 
Nas correspondências via Malote, facilitada pela SITRAL, manifestei o desejo de concluir o meu Curso de Direito.
Três dias após recebi um telefonema para ir a SITRAL. RM - via Ossian Brito – tinha enviado uma correspondência para mim pelo malote da SITRAL/ Liberal.
No texto havia uma série de recomendações e uma solicitação: se não conseguisse vaga nas faculdades oficias (Federal e Estadual) que eu procurasse uma faculdade séria e que terminasse Direito, mas que não deixasse de mantê-lo informado de tudo.
Inclusive das notas!!! Muito importante!!!
Após algum tempo, fui para a Artplan Publicidade, de Roberto Medina - a empresa que trouxe Frank Sinatra ao Brasil, Barry White e que criou o Rock i Rio
RM me encarregou de adquirir ingressos para a apresentação da “Voz” no Rio Palace Hotel. Ele recomendou, ainda, que procurasse o empresário Wandevelde Xavier Pereira, - um dos “cap" da então Tranzamazon - seu compadre – que pagaria a despesa.
Deu tudo certo.
RM se deslocou com a família de Belém. Levou alguns convidados, inclusive o Abílio Couceiro, da Mercúrio Publicidade, de saudosa memória.
No meu regresso a Belém, RM me prestigiou.
Com o apoio de Fernando Negrão e José Croelhas, foi instalada a segunda Loja de Classificados de O Liberal, que funcionou por algum tempo no térreo do Pinheirense Sport Clube, graças, também, a Alfredo Coimbra, presidente do clube, falecido em 2011.
RM me convidou para voltar a´O Liberal, mas... não deu: eu já tinha compromisso com outro veículo.
Existem muitos outros aspectos que me ligam a Romulo Maiorana que foi, sem dúvida, meu grande benfeitor, um amigo como poucos... que acho desnecessário contar.
Romulo Maiorana não morreu vive.
Tem escola com o seu nome na Cidade Nova 8 - WE 87 – 171; Residencial no Tapanã - próximo ao Conjunto Cordeiro de Farias - e rua; a 25 de Setembro agora se chama Avenida Romulo Maiorana, “como reconhecimento aos serviços prestados pelo empresário, que contribuíram para o desenvolvimento do Pará”.
A via está localizada no bairro do Marco, alguns quarteirões da sede do jornal. Tem 2.780 metros de extensão e é cortada por 16 travessas.

Em 2003 RM foi tema do Rancho Não Posso Me Amofiná, cujo samba foi defendido pelo Silvinho da Beija Flor. A escola foi campeã do Carnaval daquele ano.
Romulo Maiorana nunca será esquecido. Pelo menos por mim que sinto muito a sua falta.
Ah, sim, o seu o jazigo no Cemitério Santa Izabel necessita de mais atenção. A frase Senhor fazei-me instrumento da vossa paz – de São Francisco de Assis seu Santo de Devoção - em bronze, que encima a campa, cuja assinatura em bronze parte desapareceu.


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