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5/10/2010

Jader Barbalho



A Ponte do Outeiro

A
s maiores obras de meus governos foram determinadas por um sentimento de angústia que eu sentia ao percorrer o vasto território paraense. A ponte de Outeiro foi assim. Outeiro, antes da ponte, era a principal praia freqüentada pela população mais pobre. O trabalhador e sua família, para usufruir lazer, saía de madrugada de sua casa, enfrentava longas filas de espera por ônibus e balsa para passar poucas horas na praia. Sem falar nos acidentes semanais, alguns com perdas de vidas na difícil travessia do Rio Maguari. Era um drama, tanto a ida como a volta a Outeiro.
Eu cansei de ver tanto sofrimento por tão pouco tempo de lazer e muitas vezes pensava que tudo poderia ser resolvido com uma ponte; que o trabalhador um dia iria tomar apenas um ônibus e num curto espaço de tempo poderia chegar a um dos mais belos balneários do Pará e do Brasil. Então, eu confesso que quando construí a ponte de Outeiro, não pensei em progresso ou desenvolvimento. Pensei nas famílias mais pobres, no quanto faz bem à saúde um pouco de lazer e pensei na população da Ilha, isolada do continente por menos de 500 metros, sem poder escoar sua produção ou receber gêneros com rapidez. Os jovens tinham que morar em Belém para estudar ou trabalhar. Pensei no quanto isso poderia ser barato e muito mais fácil. A ponte era uma reivindicação do povo e eu meditava sobre isso toda noite.
O tempo de construção foi recorde: sete meses, para ser inaugurada num domingo, às 10h do dia 26 de outubro de 1986. Foi totalmente construída com recursos dos paraenses. Não há um centavo de investimento do governo federal ou de qualquer outra fonte. Custou à época, 83 milhões de cruzados; tem 360 metros de extensão, por 11 de largura além de área para pedestres; seu vão central mede 60 metros de largura por 10 de altura. Sua estrutura e toda em aço e concreto armado. A construção exigiu que outra ponte menor – de 30 metros - fosse feita sobre o riacho Taboquinha e também a pavimentação da estrada de acesso à ilha.
O nome da Ponte de Outeiro – Enéas Pinheiro - é uma homenagem a um homem vítima da história política, que foi governador do Estado, ligado ao Barão do Rio Branco. Era um homem brilhante, que veio ao Pará tentar apaziguar o caos político da época. Foi tão perseguido pelo maior jornal que acabou deposto e, desgostoso, voltou ao Rio de Janeiro onde morreu de depressão.
A festa da inauguração da Ponte de Outeiro foi um dos melhores acontecimentos de que participei. Mais de trinta mil pessoas festejaram a realização de um sonho, tanto dos moradores de Belém, como da população local. As comemorações começaram no dia anterior e se estenderam por quase uma semana. A maior reclamação - segundo os jornais da época – foi a falta de cerveja, porque os barraqueiros da ilha não contavam com tanta gente.
Hoje, passados 34 anos, sempre que me perguntam se houve estudos dos impactos que a obra poderia causar eu repenso sem me arrepender e digo que fiz uma obra na natureza, para ser usada em benefício do povo mais carente. Não há ocupação ou interferência humana, por menor que seja, sem conseqüências naturais. Cabe ao homem saber conciliar sua vida com a natureza. A ponte foi construída para facilitar o acesso do trabalhador a uma área de muita beleza, porque isso faz bem a sua saúde física e mental. Se não houver responsabilidade – tanto do poder público que tem o dever de fazer e do cidadão, que tem o dever de vigiar e cobrar – o equilíbrio natural estará comprometido e a vida do homem também.
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Transcrito do Diário do Pará de 09 de maio de 2010


N. do R – Tudo isso que o Jader disse, é verdade.
Um ano antes, tão logo assumiu Governo do Estado, ele reuniu a população de Icoaraci na Rua 2 de dezembro - 7ª Rua – em frente a sede da Mocidade Olariense. De cima de um palanque assinou a ordem de serviço para a construção da ponte do Outeiro; e afirmou que dentro um ano entregaria a ponte.
Sem mais e nem menos.
Eu – que a época era “relações públicas” das Empresas Arajá, de Joaquim Bittencourt – de saudosa memória – na qualidade de jornalista, perguntei ao governador que se iria cumprir a promessa. Ele respondeu um pouco irritado, “Você acha meu caro que sou papo furado? Espere e verá!”
Não deu outra.
A engenharia não teve condições técnicas de construir a obra naquele local - antiga travessia de barcos para o Outeiro.
Fê-la um pouco mais além.
Acho que esclareci a solicitação do amigo Everaldo Tankidi de Oliveira, lá mesmo do Outeiro.

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