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10/07/2010

ICOARACI - 141 ANOS



Icoaraci, que em 1969 eu denominei de Vila Sorriso, completa hoje, 8 de outubro, 141 anos
A história de Icoaraci confunde-se com a própria fundação de Belém. Os integrantes da expedição de Francisco Caldeira Castelo Branco – mais ou menos 1650 viajantes portugueses -, procurando um lugar adequado para fixar os fundamentos da cidade, desembarcaram numa ponta de terra situada na confluência dos rios Guajará e Maguari, a qual denominaram de "Ponta do Mel" devido a presença no local de favos de mel em grande quantidade.
No final do século XVII, Sebastião Gomes de Souza instalou-se em uma área elevada na confluência do Rio Pará (Baia do Guajará) com o Furo do Maguari, a chamada Ponta do Mel ou Melo construiu uma casinha de taipa para sua família com a intenção de implantar um engenho.
Em 13 de novembro de 1701 nascia a Fazenda Pinheiro quando Sebastião requereu a Carta de Sesmaria ao Governador da Província do Maranhão e Grão-Pará General Fernão Carrilho, sendo confirmada a concessão em 15 de outubro de 1705 por Dom Pedro II, Rei de Portugal. O sesmeiro seria Pinheirense, cidade de Portugal.
Em 1762 a fazenda passou a ter novo dono, aquirida por Antônio Gomes do Amaral que ao falecer, doou-a ao Convento de Nossa Senhora do Monte Carmo com exigência de que fosse rezada uma missa anualmente em favor de sua alma.
Em 13 de julho de 1824 a Ordem dos Frades Carmelitas Calçados já com a posse, vendeu-a juntamente com a Fazenda Livramento, área vizinha de onde retiravam argila para olaria, ao Tenente-Coronel João Antônio Corrêa Bulhões. As terras juntas mediam ¾ de léguas do igarapé do Paracuri no Tapanã até o pontão do Cruzeiro e, meia légua (3300m) entrando pelo Furo do Maguari, indo até os limites do engenho do Coronel José Narciso da Costa Rosa. Bulhões adquiriu posteriormente a metade da ilha de Caratateua que pertencia a D. Tomázio Ferreira de Melo, viúva de Manoel Góes.
Em 7 de julho de 1838, após a morte de Bulhões, a filha e herdeira Marina Francisca Corrêa Bulhões, casada com Benjamin Upto Júnior, vendeu todas as terras ao Presidente da Província do Grão-Pará General Francisco José D'Andréa que deu início a instalação de um lazareto a ser administrado pela Santa Casa de Misericórdia. Por inviabilidade, 20 anos depois a Santa Casa devolveu o patrimônio ao Governo que tentou vendê-lo e não conseguindo, arrendou-o durante nove0 anos a Adolfo Klaus.
Em 3 de maio de 1861 foi instalada na Fazenda a Escola Rural D. Pedro I, a primeira escola agrícola do Pará. Em 8 de outubro de 1869 pela Lei Provincial nº 598, a fazenda Pinheiro foi transformada em Povoado com a denominação de Santa Izabel, passando sua área a ser demarcada para definição de lotes e logradouros para em seguida serem aforados.
Em 16 de abril de 1883, a Lei nº 1167 deu ao povoado o novo nome de São João Batista sendo construída a Capela do mesmo nome. Em 6 de julho de 1895, a Lei nº 324 já do regime republicano, elevou o povoado de São João Batista a Vila, com a denominação de Pinheiro.
Em 31 de outubro de 1938, através do Decreto Lei nº 3.133, foi definido os limites interdistritais de Pinheiro. Sua área limitava com Val-de-Cans e Mosqueiro, abrangendo o Sub-Distrito de Outeiro. Em 30 de dezembro de 1943, através do Decreto nº 4.505, assinado pelo interventor Magalhães Barata, fixou a divisão administrativa e judiciária do Estado, pelo qual a então Vila de Pinheiro passou a ser chamada Icoaraci.
"De frente para o sol"
Segundo alguns, Icoaraci significa "De frente para o sol". Entretanto, profundas pesquisas do historiador José Valente, o qual publicou com o título de "Sinopse de Icoaraci", esta palavra significa na língua Tupi-Guarani "Mãe de todas as águas" (Icoara=águas e ci=mãe). Diz valente que em 1943, o interventor Magalhães Barata contratou o filólogo (estudioso em línguas) Jorge Urley para que escolhesse uma nova denominação para a então Vila de Pinheiro. Urley em visita "in loco", constatou os margeamentos da baia do Guajará e furo do Maguari e a grande quantidade de igarapés e riachos cortando a Vila em todas as direções.
Outra versão não oficial, diz que Barata quis prestar uma homenagem a um amigo, Coaraci Nunes, ex-governante do Amapá e por isso baixou o ato político com tal disfarce, já que era por lei proibido dar nome de pessoas vivas a qualquer instituição.
Icoaraci hoje
Icoaraci, distante 18km do centro de Belém por via rodoviária, é reconhecido como um dos principais pólos de produção artesanal de cerâmica do Estado do Pará. Localizado no ângulo entre a Baía do Guajará e o Rio Maguari, o Distrito desfruta de uma posição geográfica que possibilita fácil acesso à jazidas de argila que se concentram nos rios Paracuri e Livramento. Essa característica possibilitou transformar a área em um dos principais pólos de produção artesanal de cerâmica do estado do Pará.
Artesanato - O artesanato icoaraciense apresenta em suas peças uma beleza plástica e diversa, fruto da pluralidade cultural manifestada desde os tempos pré-coloniais, como são os estilos tradicionais: marajoara (caracteriza-se pela exuberância e variedade de decoração, utilizando pintura vermelha e preta, sobre engobe branco, representa a 4ª fase arqueológica da Ilha do Marajó), tapajônico (é tridimencional, feita com uma mistura de cauxi e cariapé. São figuras humanas e animais que provém da região do Baixo Tapajós), maracá (tem como berço o Amapá, mas é em Icoaraci que este trabalho se desenvolve. As urnas funerárias encontradas no Vale do Rio Maracá são de três tipos: tubulares, zoomorfas e antropomorfas) . (Vejam no topo do site algumas imagens de peças do artesanato icoaraciense).
O maior número da produção de Icoaraci, concentra-se no bairro do Paracurí, mais precisamente na Travessa Soledade, onde se localizam a maioria das olarias.
Paracurí é o nome do Rio que corta a região, de suma importância para a comunidade, pois no percurso deste rio encontram-se várias jazidas de argila, matéria prima para a confecção das peças de cerâmica, que, a bem verdade encontram-se ameaçadas com as constantes invasões.
A produção nessas olarias é muito variada, desde a confecção de peças arqueológicas até às mais estilizadas; de peças lisas e sem pintura às mais trabalhadas; de estilos tradicionais até suas recriações com pintura em manganês; de cerâmica utilitária à cerâmica decorativa, como: vasos, alguidares, cofres, pratos, jogo de feijoada, cinzeiros, etc.
Ainda no Paracurí (Travessa dos Andradas, nº 1110, com a Rua Coronel Juvêncio Sarmento) existe uma escola que se propõe a ensinar a arte de produzir cerâmica, é o Liceu de Artes e Ofícios "Mestre Raimundo Cardoso", fundada em dezembro de 1996 pelo prefeito Hélio Gueiros. O Liceu foi a concretização de um projeto de auto-sustentação que teve como autoras a professora Terezinha Gueiros e arte educadora Laís Aderne, falecida em 2009.
Icoaraci é composta de quarteirões regulares, ruas e travessas largas bem traçadas repletas de mangueiras. Compartilhando da Belle-Époque tanto quanto outras áreas da capital do estado, Icoaraci guarda em seus Chalés e Estação Ferroviária as características das construções que caracterizaram a primeira metade do início deste século. Inclusive o Chalé Tavares Cardoso, onde hoje funciona a Biblioteca Pública Municipal Avertano Rocha.
Vida Feliz - Viver em Icoaraci é poder desfrutar do tempo ainda que dentro da modernidade. É sentir aquela moleza gostosa depois do almoço de açaí com camarão comprados no Mercado Municipal e poder dormir a sesta; pois o comércio, tal como Belém fazia há anos atrás, fecha suas portas. É poder tomar tacacá no final da tarde sob a sombra refrescante das mangueiras e não se preocupar com a hora de chegar em casa; - afinal a casa é logo ali -, e locomover-se de bicicleta é a tarefa de todo pé redondo - para quem não sabe as pessoas de Icoaraci são conhecidas como pés redondos, pois seu veículo de locomoção é, por excelência, a bicicleta. É tomar água de coco sentindo a brisa da orla e olhando o rio-mar. É andar alguns quarteirões e encontrar mais um Chalé que fala sozinho sobre a história da capital. Viver em Icoaraci é a oportunidade de poder ser mais belenense.
Mega Distrito - Como muito bem disse José Raymundo Guimarães Júnior – Junior Guimarães, falecido precocemente em 1996 – Icoaraci é um Mega-Distrito, onde residem aproximadamente 300.000 pessoas, distribuídas entre os bairros do Cruzeiro, Agulha, Águas Negras, Campina, Maracacuera, Paracuri, Parque Guajará, Ponta Grossa e Tenoné.
A vida escolar de Icoaraci varia entre instituições tradicionais - como a escola Coronel Sarmento, Avertano Rocha, Nossa Senhora de Lourdes - e algumas mais recentes - como o Madre Celeste e Rui Barbosa.
O comércio local também é bastante variado, suprindo as necessidades básicas da população e encontra-se em expansão por toda Vila, sendo nas Ruas 8 de Maio, Cristóvão Colombo – atualmente Travessa Lopo de Castro - e na Travessa do Cruzeiro, suas maiores concentrações. Percebe-se uma descentralização desse setor para outras outras ruas como: Travessa. dos Berredos, Rua 15 de Agosto e Travessa São Rocque.
Icoaraci é um distrito basicamente industrial, empregando boa parte de seus moradores em indústrias de pesca, madeireiras, olarias (fabricação de telhas e tijolos), marcenarias, industrialização de palmito, etc...
Saúde - Quanto à saúde pública, como em todo país, Icoaraci ainda necessita de melhorias. O Pronto Socorro Municipal e o Hospital Abelardo Santos atendem a população carente (ou ao menos tentam), enquanto algumas clínicas particulares oferecem consultas, exames e operações de pequeno porte. Infelizmente, em casos de emergência o indicado continua sendo recorrer aos hospitais de nossa capital - Belém.
Visualmente, Icoaraci, ainda aguarda algumas melhorias. Em outras épocas a praia do Cruzeiro e as praças se apresentavam em um estado bem mais conservado, no entanto, a Vila Sorriso ainda atrai muitos visitantes - seja pela tradicional água de coco no Pontão, seja pelas delícias de suas peixarias ou ainda pelo papo gostoso que rola nos bares da antiga 1ª Rua (Siqueira Mendes). Além de tudo isso, Icoaraci tem a oferecer seu orgulho maior, a beleza da grande arte aqui renascida nesses últimos 40 anos.
Icoaraci é administrada por agente distrital – uma espécie de “sub-prefeito”, nomeado pelo prefeito de Belém. A psicóloga Ivy de Menezes Veiga Portella; Possui dois jornais de circulação mensal, O Estado (20 anos) e a Gazeta do Pará; dois sites. icoaraci. com.br (10 anos) e icoaraci on line (dois anos). uma associção e industrial (47 anos), dois clubes de serviço, Lions e Rotary e uma rádio comunitária, a Rádio Sorriso FM (104.9 Mhz).
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Ilustração: Roberts Vale

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