A Amazônia é sustentável?
Durante dois dias, cerca de 100 jornalistas da Amazônia se reuniram em Porto Velho, para discutir a sustentabilidade das comunidades pobres do Trópico Úmido, as mais desprezadas pelos políticos e mais vilipendiadas pelo statu quo
A Fundação Banco do Brasil realizou o II Encontro de Jornalistas do Norte, nos dias 30 e 31 de maio, em Porto Velho, Rondônia, pondo em debate o tema central: Amazônia, comunicação e tecnologia social – Interação e sustentabilidade. Nada mais emblemático, para o tema do encontro, do que Porto Velho, que surgiu em 1907, da construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré, um empreendimento falido e que mostrou de forma dramática a Amazônia real. Porto Velho foi elevada à categoria de cidade, ainda pertencente ao estado do Amazonas, em 1914. Em 1943, o atual estado de Rondônia foi desmembrado do Amazonas e de Mato Grosso, como Território Federal do Guaporé, passando para Território Federal de Rondônia em 1956 e se tornando estado em 1982. O nome Rondônia foi dado pelo então deputado Áureo Mello. Hoje, o poeta, ficcionista e ex-senador Áureo Mello mora em Brasília.
Em menos de 100 anos, Porto Velho já tem 426.558 habitantes, segundo o censo de 2010 do IBGE, só conta com 3% de rede de esgoto e metade da população não sabe o que é água tratada. A cidade não é arborizada. As árvores existentes são dos quintais das casas e nos passeios públicos de algumas poucas ruas. Da margem direita do rio Madeira, onde está localizada a leste do rio, dá para ver as obras da hidrelétrica de Santo Antônio, e a 150 quilômetros da cidade, mas no município de Porto Velho, é erguida também outra hidrelétrica, a de Jirau. Esses dois empreendimentos, federais, que gerarão energia elétrica principalmente para o Sudeste, já começaram a inchar Porto Velho, e a causar inflação.
Como se viu, Porto Velho é, desde o início, uma cidade de fronteira, onde é comum se ver levas de forasteiros, que fazem parte da paisagem da cidade, de modo que são vistos com familiaridade. Agora, nas suas ruas e boates misturam-se técnicos de nível superior e de nível médio, operários, aventureiros, golpistas, malandros, bandidos e, claro, políticos, juntamente com todo o comércio que gira em torno desses aglomerados.
Do tema Amazônia, comunicação e tecnologia social: Interação e sustentabilidade, tiremos a palavra “sustentabilidade”. Acredito que haja, no Brasil, quatro grandes conhecedores da Amazônia: o jornalista e ensaísta paraense Lúcio Flávio Pinto, que já escreveu uma verdadeira enciclopédia da Amazônia, por meio da sua Agenda Amazônica e do Jornal Pessoal; o ensaísta e romancista amazonense Márcio Souza, autor de Breve História da Amazônia; o gaúcho Gelio Fregapani, mentor da doutrina brasileira de guerra na selva, autor de Amazônia – A grande cobiça internacional; e a antropóloga paranaense, dra. Mary Allegretti.
Desse quarteto, foram convidados Lúcio Flávio Pinto e Mary Allegretti. Lúcio não pôde ir porque estava se defendendo, como sempre, dos processos com que a família Maiorana, repetidora da TV Globo e “dona” do Pará, o mantém refém; inclusive, Ronaldo Maiorana pegou Lúcio à traição, junto com dois guarda-roupas da Polícia Militar, em serviço e a serviço de Ronaldo Maiorana, e rebentou a pancadas o jornalista, isso em um restaurante frequentado pela elite belenense e, na época, Ronaldo Maiorana era presidente da Comissão de Ética da Ordem dos Advogados do Pará. Lúcio não pôde ir, mas Mary Allegretti pôde.
Ela explicou que o conceito de sustentabilidade surgiu nos anos de 1970, no Acre, extremo oeste brasileiro, região comprada da Bolívia pelo Brasil, o coração das trevas. Chico Mendes estava na parada. Pois bem, o conceito de desenvolvimento sustentável foi usado deliberadamente pela primeira vez em 1987, no Relatório Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada em 1983 pela Assembleia das Nações Unidas (ONU): “O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades; significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies e os habitats naturais” (Wikipédia).
Fala-se muito em desenvolvimento sustentável para a Amazônia. O governo federal, não importa a cor que tenha, vê o continente Brasil do ponto de vista macroeconômico e, para completar essa tragédia, se cerca de “companheiros” e burocratas. Assim, desenvolvimento sustentável para o governo federal significa, por exemplo, a produção de energia elétrica oriunda de megaempreendimentos como Tucuruí, Santo Antônio, Jirau e Belo Monte. Quem estiver por perto que se exploda. Veja-se o caso do Pará. Tucuruí é a maior usina hidrelétrica nacional, mas no Pará metade dos municípios não conta com energia elétrica firme; no arquipélago de Marajó, uma das regiões mais fantásticas do planeta, crianças são estupradas em balsas a troco de comida. Mas os príncipes paraenses jamais construíram o linhão de Tucuruí levando energia elétrica firme para o Marajó, e outras paragens.
O encontro em Porto Velho foi vitorioso e a Fundação Banco do Brasil está de parabéns, porque conseguiu passar para cerca de 100 jornalistas da região o verdadeiro desenvolvimento sustentável, por meio de palestras sobre a joia da instituição: o programa de tecnologia social Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (Pais). O conceito de “tecnologia social compreende produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem efetivas soluções de transformação social”. Isso quer dizer que o verdadeiro desenvolvimento social não é o bolso do dono da empreiteira, ou da fazenda de boi ou de soja, mas do autóctone, no caso da Amazônia, os habitantes da floresta – o índio, o ribeirinho, o caboclo, o quilombola. Essa gente precisa comer também, e de escolas.
Porto Velho é um exemplo de insustentabilidade, como a maioria das cidades brasileiras, incluindo São Paulo, a mais rica, e que todo ano vai para o fundo d’água, e Brasília, a capital do país, inchada, sucateada, esburacada, servida por ônibus urbanos imundos e caros, com seu sistema de saúde que é um verdadeiro matadouro, e violenta. O que está errado, então? Creio que não será com a Bolsa Família que se resolverá o problema, mas com investimento maciço, continuado e nunca desestimulado em educação, pois o cenário é desesperador. Recentemente, o Ministério da Educação (MEC) distribuiu para os estudantes de todo o país um livro com erros gramaticais propositais, estimulando as populações pobres a escrever como falam, e assim privando-as da compreensão da realidade e da cidadania que adquirimos ao entendermos plenamente o que é desenvolvimento sustentável.
Voltarei ao assunto oportunamente, desta vez abordando a questão da água.
Durante dois dias, cerca de 100 jornalistas da Amazônia se reuniram em Porto Velho, para discutir a sustentabilidade das comunidades pobres do Trópico Úmido, as mais desprezadas pelos políticos e mais vilipendiadas pelo statu quo
A Fundação Banco do Brasil realizou o II Encontro de Jornalistas do Norte, nos dias 30 e 31 de maio, em Porto Velho, Rondônia, pondo em debate o tema central: Amazônia, comunicação e tecnologia social – Interação e sustentabilidade. Nada mais emblemático, para o tema do encontro, do que Porto Velho, que surgiu em 1907, da construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré, um empreendimento falido e que mostrou de forma dramática a Amazônia real. Porto Velho foi elevada à categoria de cidade, ainda pertencente ao estado do Amazonas, em 1914. Em 1943, o atual estado de Rondônia foi desmembrado do Amazonas e de Mato Grosso, como Território Federal do Guaporé, passando para Território Federal de Rondônia em 1956 e se tornando estado em 1982. O nome Rondônia foi dado pelo então deputado Áureo Mello. Hoje, o poeta, ficcionista e ex-senador Áureo Mello mora em Brasília.
Em menos de 100 anos, Porto Velho já tem 426.558 habitantes, segundo o censo de 2010 do IBGE, só conta com 3% de rede de esgoto e metade da população não sabe o que é água tratada. A cidade não é arborizada. As árvores existentes são dos quintais das casas e nos passeios públicos de algumas poucas ruas. Da margem direita do rio Madeira, onde está localizada a leste do rio, dá para ver as obras da hidrelétrica de Santo Antônio, e a 150 quilômetros da cidade, mas no município de Porto Velho, é erguida também outra hidrelétrica, a de Jirau. Esses dois empreendimentos, federais, que gerarão energia elétrica principalmente para o Sudeste, já começaram a inchar Porto Velho, e a causar inflação.
Como se viu, Porto Velho é, desde o início, uma cidade de fronteira, onde é comum se ver levas de forasteiros, que fazem parte da paisagem da cidade, de modo que são vistos com familiaridade. Agora, nas suas ruas e boates misturam-se técnicos de nível superior e de nível médio, operários, aventureiros, golpistas, malandros, bandidos e, claro, políticos, juntamente com todo o comércio que gira em torno desses aglomerados.
Do tema Amazônia, comunicação e tecnologia social: Interação e sustentabilidade, tiremos a palavra “sustentabilidade”. Acredito que haja, no Brasil, quatro grandes conhecedores da Amazônia: o jornalista e ensaísta paraense Lúcio Flávio Pinto, que já escreveu uma verdadeira enciclopédia da Amazônia, por meio da sua Agenda Amazônica e do Jornal Pessoal; o ensaísta e romancista amazonense Márcio Souza, autor de Breve História da Amazônia; o gaúcho Gelio Fregapani, mentor da doutrina brasileira de guerra na selva, autor de Amazônia – A grande cobiça internacional; e a antropóloga paranaense, dra. Mary Allegretti.
Desse quarteto, foram convidados Lúcio Flávio Pinto e Mary Allegretti. Lúcio não pôde ir porque estava se defendendo, como sempre, dos processos com que a família Maiorana, repetidora da TV Globo e “dona” do Pará, o mantém refém; inclusive, Ronaldo Maiorana pegou Lúcio à traição, junto com dois guarda-roupas da Polícia Militar, em serviço e a serviço de Ronaldo Maiorana, e rebentou a pancadas o jornalista, isso em um restaurante frequentado pela elite belenense e, na época, Ronaldo Maiorana era presidente da Comissão de Ética da Ordem dos Advogados do Pará. Lúcio não pôde ir, mas Mary Allegretti pôde.
Ela explicou que o conceito de sustentabilidade surgiu nos anos de 1970, no Acre, extremo oeste brasileiro, região comprada da Bolívia pelo Brasil, o coração das trevas. Chico Mendes estava na parada. Pois bem, o conceito de desenvolvimento sustentável foi usado deliberadamente pela primeira vez em 1987, no Relatório Brundtland, elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada em 1983 pela Assembleia das Nações Unidas (ONU): “O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades; significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies e os habitats naturais” (Wikipédia).
Fala-se muito em desenvolvimento sustentável para a Amazônia. O governo federal, não importa a cor que tenha, vê o continente Brasil do ponto de vista macroeconômico e, para completar essa tragédia, se cerca de “companheiros” e burocratas. Assim, desenvolvimento sustentável para o governo federal significa, por exemplo, a produção de energia elétrica oriunda de megaempreendimentos como Tucuruí, Santo Antônio, Jirau e Belo Monte. Quem estiver por perto que se exploda. Veja-se o caso do Pará. Tucuruí é a maior usina hidrelétrica nacional, mas no Pará metade dos municípios não conta com energia elétrica firme; no arquipélago de Marajó, uma das regiões mais fantásticas do planeta, crianças são estupradas em balsas a troco de comida. Mas os príncipes paraenses jamais construíram o linhão de Tucuruí levando energia elétrica firme para o Marajó, e outras paragens.
O encontro em Porto Velho foi vitorioso e a Fundação Banco do Brasil está de parabéns, porque conseguiu passar para cerca de 100 jornalistas da região o verdadeiro desenvolvimento sustentável, por meio de palestras sobre a joia da instituição: o programa de tecnologia social Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (Pais). O conceito de “tecnologia social compreende produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis, desenvolvidas na interação com a comunidade e que representem efetivas soluções de transformação social”. Isso quer dizer que o verdadeiro desenvolvimento social não é o bolso do dono da empreiteira, ou da fazenda de boi ou de soja, mas do autóctone, no caso da Amazônia, os habitantes da floresta – o índio, o ribeirinho, o caboclo, o quilombola. Essa gente precisa comer também, e de escolas.
Porto Velho é um exemplo de insustentabilidade, como a maioria das cidades brasileiras, incluindo São Paulo, a mais rica, e que todo ano vai para o fundo d’água, e Brasília, a capital do país, inchada, sucateada, esburacada, servida por ônibus urbanos imundos e caros, com seu sistema de saúde que é um verdadeiro matadouro, e violenta. O que está errado, então? Creio que não será com a Bolsa Família que se resolverá o problema, mas com investimento maciço, continuado e nunca desestimulado em educação, pois o cenário é desesperador. Recentemente, o Ministério da Educação (MEC) distribuiu para os estudantes de todo o país um livro com erros gramaticais propositais, estimulando as populações pobres a escrever como falam, e assim privando-as da compreensão da realidade e da cidadania que adquirimos ao entendermos plenamente o que é desenvolvimento sustentável.
Voltarei ao assunto oportunamente, desta vez abordando a questão da água.
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