Francisco Assis dos Santos Filho – Assis Filho – um dos maiores advogados que o Pará já teve – muito embora não seja filho daqui – amigo e defensor dos mais fracos que se tornou famoso na década de 90 como o terror dos corruptos, uma vez que, como profissional do Direito caçava esse tipo de gente em todos os lugares e quase se foi por causa dessa sua atitude, nos deixou em 28 de maio de 2009, Se vivo estivesse neste dia 19 de junho faria 73 anos.
Os senhores conheceram o Assis Filho?
Mas eu conheci desde menino quando ajudava o pai – o comerciante “Seu” Assis, na mercearia da família na Avenida Conselheiro Furtado, esquina da Travessa Francisco Caldeira Castelo Branco, em frente à Igreja de São Francisco de Assis (Capuchinhos).
Muito jovem descobriu o prazer da leitura e o amor pela poesia. Foi lá no balcão escrevendo com lápis Johann Faber – No. 1, bem apontado, em papel de embrulhar pão, no intervalo do atendimento de um freguês e outro, que Assis Filho deu início à sua carreira literária. O primeiro romance Maria da Onça surgiu dessas anotações.
Assis Filho nasceu em 19 de junho de1938 na Cidade de Teresina, Estado do Piauí. Mudou-se com a sua família aos cinco anos de idade para a Belém do Pará onde se criou e viveu até o dia de sua morte.
Terceiro filho de Francisco Assis dos Santos e Maria Adália Ferreira dos Santos, começou seus estudos no Colégio Marista Nossa Senhora de Nazaré. Continuou no Colégio Estadual Paes de Carvalho, depois no Colégio São João onde foi líder estudantil, despertando a partir desse momento seu desejo de tornar-se um dia Advogado.
Católico praticante foi membro do Movimento da Juventude Franciscana da Igreja dos Capuchinhos, desde sua criação onde chegou a dirigi-lo em duas oportunidades.
Foi professor de Português do Colégio São Pedro São Paulo (Guamá), que ajudou a criar junto com a Irmã Zarife Sales – Congregação do Preciosismo Sangue, que adorava “aquele jovem irrequieto”.
Como Radialista – uma atividade que gostava muito - apresentou os programas “Rádio Informativo Rural” (Rádio Clube do Pará/ 1967-1971); Guajará no Campo (1963); Marajoara no campo (1967-1971); Repórter Rural, na Rádio Marajoara (1967-1971); “Amanheça Cantando’ (1972); Na paquera do Vestibular (1972); ‘Recital” (Rádio Clube do Pará), que nada mais eram do que serestas ao vivo, transmitidas de residências e clubes, as sextas-feiras, a partir das 22 horas (1973-1975); ‘Balanço Musical’ (Rádio Guajará-1976), lançando valores da terra paraense – dentre os quais Walt Ramoa, que anos antes havia vencido, no âmbito local, o Concurso “A Voz de Ouro ABC”, promovido pela ZYE-10 – Rádio Marajoara -, estimulando a produção local “e semeando, com a única preocupação de multiplicar essas sementes”.
Poeta, Escritor e Compositor, gravou o LP ‘Rosário de Esmeraldas’, pela Continental, contendo poemas de Assis Filho, como manifesto do Movimento Cultural Papa Chibé, movimento poético criado para valorizar a poesia paraense. Foi um dos primeiros poetaa brasileiro a gravar as suas produções em disco de longa duração.
Gravou ainda o compacto duplo ‘Na Estrada da Vida’, seguido do LP Carimbó e outras Mirongas, com músicas próprias e em parceria com a esposa Eliane Santos produzidos pela Wildanap Som Ltda, formada por Wilson Assumpção, Vicente Santos e Napoleão Cruz, remanescentes da PRC- 5 - Rádio Clube do Pará.
Na década de 60 envolveu-se e promoveu intensas atividades culturais declamando em clubes, sindicatos e associações de classe, e apresentações de peças teatrais na Juventude Franciscana, Teatro da Paz e de bairros, anexos às Igrejas e através do Rádio.
O fato mais destacado da época foi uma apresentação memorável no Festival de Teatro Amador, no Teatro João Caetano - Praça Tiradentes - Rio de Janeiro, onde ganhou juntamente coma sua “troupe”, Menção Honrosa.
Foi aluno, discípulo e amigo de Margarida Schivasappa.
Nesse período participou do Circulo Cultural dos 30 - CC-30, uma agremiação-pioneira constituída por estudantes secundaristas, jovens intelectuais, poetas e escritores iniciantes surgida nos anos 60 que revelou grandes valores, não apenas na poesia, poesia e teatro, como também outras atividades, e que revolucionou a cultura juvenil, do qual foi presidente.
Durante a sua gestão, Assis Filho aproveitando o evento “Semana Cultural Circulista”, realizada todos os anos no mês de setembro, levou cultura para os bairros mais carentes. Um dos encontros mais destacados aconteceu na sede do Paraense Esporte Clube, na Travessa Mercedes, próximo da Avenida 25 de setembro, no antigo bairro da Matinha; a antiga Rádio Guajará, transmitiu a sessão lítero-musical, do qual participaram, dentre outros, o falecido maestro Adelermo Matos e o ator e diretor teatral e atual padre Cláudio Barradas, que declamou um belo poema de Guiarone
Poeta, foi autor de dois livros de poesias ‘Rosário de Esmeraldas’ (3ª edição – esgotado). Sobre esse livro,- na primeira edição - eu já estando residindo no Rio de Janeiro, o Assis Filho descobriu o meu endereço e enviou-me um exemplar. Ele havia incluído o meu nome no rol das “personalidades” que o ajudaram a editar; ou seja, não esqueceu o amigo-irmão, e mesmo longe, queria que soubesse. O outro livro é Anjos Eróticos, com 18 poesias, também esgotado.
Jornalista, foi criador da revista Gazeta Rural que abordava a situação do povo paraense que vive no interior do Estado e que circulou no Estado por seis anos; e d´ O Guamantino jornal mensal e que circulou em 1963, no bairro do Guamá. Infelizmente a publicação teve efêmera: circulou apenas sete meses. O Guamantino teve o apoio e o incentivo do seu irmão José Ribamar Ferreira dos Santos, engenheiro agrônomo e professor da então Escola de Agronomia da Amazônia, atual UFRA, falecido ainda jovem aos 36 anos, e aqui deste repórter, que era o Editor.
Como Advogado sempre militou em defesa da justiça, ajudando todos que dele precisaram, ricos e pobres – tendo uma especial por essa última categoria -, guiado sempre por princípios éticos, sendo a honestidade e a integridade sua maior Marca. Tanto que morreu pobre.
Mas deixou com herança, o exemplo de uma vida pacata, a honradez, a dignidade de um Advogado – ele que em toda a sua vida, apesar das inúmeras atividades, sempre viveu da profissão – ético e integro.
O advogado, jornalista, historiador e poeta Leonam Gondim da Cruz – membro das Academias Paraense de Letras, de Jornalismo e das Letras Interioranas – meu colega e confrade dos dois últimos silogeus, falecido nesse início de junho, amigo, colega de Assis Filho, desde o tempo dos shows das apresentações teatrais no Paraense Esporte Clube (Travessa das Mercedes), e dos programas de rádio onde funcionava como redator e co-produtor, dizia: “O Assis Filho foi um dos melhores, senão o maior – presentes que o Piauí mandou para o Pará”
Assis Filho foi fundador e presidente da Associação Profissional dos Advogados do Estado do Pará – ADOVA – que se tornou posteriormente Sindicato dos Advogados do Pará, criado para defender e valorizar o advogado paraense. Foi Conselheiro Federal, Presidente do Clube dos Advogados do Pará, Procurador de Justiça do Município de Marapanim. Pelo seu trabalho e atuação jurídica, recebeu o título honorífico de “Cidadão Marapaniense” outorgado pela Câmara Municipal
Assis Filho foi um dos principais responsáveis pela eleição do colega de bancos escolares no Colégio Nazaré – Sérgio Augusto Frazão do Couto, à presidência da Ordem dos Advogados do Brasil – Secção do Pará em 1994 – uma das maiores, senão a maior, administração que a Entidade já teve nesses últimos anos. Para tanto engajou muitos colegas na campanha – inclusive eu.
Sérgio Couto, íntegro, ético, justo e inteligente fê-lo presidente do Clube dos Advogados do Pará. Foram os Anos de Ouro do Clube do Tenoné, na Rodovia Augusto Montenegro. Sérgio Couto conseguiu verba junto ao Conselho Federal e, juntos, ele e Assis Filho, transformaram a agremiação; deram-lhe com nova roupagem.
Quem quiser pode conferir. Tudo isso que tem lá foi obra de Sérgio Couto e Assis Filho. Eu sou testemunha já que foi Assessor de Imprensa tanto da OAB.PA, como do Clube dos Advogados.
O nosso grande desaparecido foi, ainda, um bom filho, irmão – teve dois. José Ribamar (in memorian) e Osimar Santos – e um excelente marido. Com Eliane, que amou desde o inicio do namoro, teve cinco rebentos: Assis Neto, Diana Márcia, Ítala Rosiane, Osimar Rosana e Sheila Cristina, além de Roberto Guedes que apesar de genro o queria como filho; e 14 netos: Aline Guedes, Diana Cristina, Eduardo Guedes, Gabriel Rodrigues, Luan Rodrigues, Luana Rodrigues, Luciane Rodrigues, Paula Fernanda, Rafael Guedes, Raimundo Neto, Sheila Rodrigues, Thainá Rodrigues.Thaís Cristina e Yan Santos, e uma Laura Vitória.
Assis Filho foi pai, tio, avô, bisavô e amigo querido - como eu, torcedor do Paysandu – companheiro para o que desse e viesse -, amado por toda sua família e amigos verdadeiros que como eu tiveram o privilégio de desfrutar da sua convivência e da sua amizade.
Um homem que amou sua família, seus amigos, a profissão que escolheu e a sua nova terra – o Pará. Serviu a Deus, tendo uma palavra de carinho e conforto a todos que dele se aproximavam, principalmente, como falei, os humildes, os pobres.
Morreu sem dor, sem nada sentir, dormindo, numa madrugada de chuva de 28 de maio de 2008 no apartamento de uma filha na Travessa 14 de abril – São Brás.
Morreu como poeta, como passarinho.
Ao acordar na Eternidade encontrou o Caminho do Altíssimo, da Mãe do Céu e dos anjos nos quais sempre se inspirou para produzir os seus poemas. Essas mesmas criaturas celestiais o levaram de volta para o Pai, com a certeza do dever cumprido neste plano terrestre,
Assis Filho deixou muitas saudades em todos nós, principalmente para mim como disse, o queria como irmão e que teve a honra de ser homenageado num dos seus livros, mesmo estando distante no Rio de Janeiro, que me hospedou por 15 anos.
Assis cara, já se passaram dois anos da tua partida... sinto a tua falta... mais um dia a gente se encontra. Para bolar mais alguma coisa, botar o papo em dia e, quem sabe, dançar uma das suas composições de carimbó
●●● Uma coisa que eu preciso contar: Assis Filho foi o responsável pelos meus primeiros passos na imprensa. Em 1955, ele que era redator de esportes de bairros (Torneio Bola de Meia), do semanário católico A Palavra – A Voz de Nazaré daqueles tempos - um super tablóide semanal de 16 paginas em dois cadernos que circulava a partir de sexta-feira, à noite e impresso pelas Irmãs Legionárias de Nossa Senhora Rainha dos Corações.
Diante do meu interesse por Jornalismo,. ele pediu para o padre Lisbino Garcia do Carmo – que não mais existe – recém ordenado – que era o diretor responsável pelo jornal, uma chance para um menino que queria escrever no jornal. Lisbino sem pestanejar, disse, Oh,pode trazer o garoto, quero conhecê-lo.
Deu certo.
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