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8/01/2008

IMUNIDADE PARLAMENTAR
Deputado Benício Tavares, acusado de orgia com menores, não será julgado

Brasília – O leitor Jair Maron de Freitas, de Brasília, em carta de 5 de julho, pergunta: “A propósito da lamentável figura e seus desvios de dinheiro, onde é que anda aquela denúncia de pedofilia do Benício Tavares em orgias nos passeios de barcos no Amazonas? Será que todos já esqueceram?”
O deputado distrital Benício Tavares, do PMDB de Brasília, acusado de participar de orgia com meninas menores de idade no estado do Amazonas, foi absolvido pelos seus pares na Câmara Legislativa do Distrito Federal e, como Benício Tavares goza de imunidade parlamentar, esse assunto morreu.
O que foi que Benício Tavares fez?
Madrugada de 16 de setembro de 2004, marina da Ponta Negra, Manaus, Amazonas. A bordo do iate Amazonian, de 25 metros de comprimento, 15 políticos e empresários de Brasília e de São Paulo aguardam um carregamento para zarpar rio Negro acima, aparentemente para uma pescaria em Barcelos, a 450 quilômetros da capital amazonense. O passeio foi organizado pelo dentista paulista Flávio Talmelli. Era o terceiro ano que se reunia o alegre grupo de políticos e empresários candangos e paulistas.
Finalmente o carregamento chega. São “peixes” servidos antes mesmo da pescaria: 17 meninas, a maioria delas menor, aliciadas em casas noturnas de Manaus. O programa, de dois dias e duas noites renderia R$ 400 a cada uma, fora gorjetas. As garotas foram conduzidas ao iate pela cafetina Dilcilane de Albuquerque Amorim, conhecida como Dil, 33 anos. Ela ganharia R$ 100 por menina.
Domingo 19. As meninas se dividiram em dois grupos para o retorno a Manaus. O Amazonian, com os políticos e empresários, seguiu rio Negro acima, com destino a um hotel na selva. Doze meninas retornaram a Manaus. No fim do dia, as cinco meninas restantes retornaram também, no barco Princesa Laura. O barco naufragou naquele mesmo domingo, entre Manaus e Barcelos, com cem passageiros. Morreram 13 pessoas, entre as quais as cinco garotas que participaram da orgia: Amanda Ferreira Silva, 20 anos; Marlene Cristina dos Santos Reis, 19; Suzie Nogueira Araújo, 18; Taiane Barros, 17; Hingridy Florêncio Viana, 16.
Dois dias antes do acidente, alguns pais queixaram-se à polícia sobre o desaparecimento de suas filhas. Agentes da Delegacia Especializada de Assistência e Proteção à Criança e ao Adolescente de Manaus descobriram que as meninas mortas eram as mesmas procuradas pelos pais. Depois, localizaram algumas meninas do Amazonian que retornaram a Manaus. Descobriu-se, então, que três homens que estavam no Amazonian deixaram a embarcação em Barcelos e, dia 23 de setembro, retornando a Manaus em avião da Apuí Táxi Aéreo.
Foi aí que identificaram o então presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, deputado distrital Benício Tavares da Cunha Melo (PMDB) que adotou o nome Benício Mello (prenome e último sobrenome); Randal Mendes (Sérgio Randal), cunhado de Benício Tavares e, então, chefe de gabinete da presidência da Câmara Legislativa do DF; e o advogado brasiliense Marco Antônio Attié.
Relações sexuais com menores
Uma das menores ouvidas pela polícia disse que Benício Tavares manteve relações sexuais com pelo menos duas menores, uma das quais Taiane Barros, 17, mãe de um bebê de sete meses, morta por afogamento no Princesa Laura. Outra garota afirmou à polícia que manteve relações sexuais com Benício. Este lhe teria pago R$ 500. Uma menor disse que Benício lhe ofereceu R$ 500 para manterem relações sexuais, mas ela recusou. Seis das moças que estiveram a bordo do Amazonian garantem que Benício chegou a pagar valores entre R$ 200 e R$ 1 mil para manterem relações sexuais com ele, inclusive com as menores de idade.
Das 17 meninas contratadas para a bacanal, seis afirmaram à delegada Maria das Graças Silva, titular da Delegacia Especializada, que Benício Tavares esteve no iate nos dias 17, 18 e 19 de setembro, e que manteve relações sexuais com várias garotas, entre as quais pelo menos duas menores. A delegada garante que coletou elementos suficientes para provar a participação de Benício Tavares em turismo sexual. Maria das Graças Silva mostrou, dia 27 de setembro, fotografias de Benício Tavares a três meninas que participaram da orgia. Elas identificaram imediatamente o parlamentar, que é paraplégico.
Três meninas ouvidas pela polícia garantem que no iate Amazonian havia bebida alcoólica e drogas, e que foram realizados desfiles de garotas nuas e sorteio de brindes aos participantes. Em depoimento à polícia, a cafetina Dil declarou que a bacanal foi contratada pelo dentista paulista Flávio Talmelli. “Ele disse que o passeio seria muito divertido e que todas as despesas, desde hospedagem até alimentação, seriam pagas por seus amigos. Somente convidei algumas amigas” - defendeu-se Dil. As garotas disseram à polícia que foram enganadas por Dil. O combinado é que receberiam R$ 400, mais gorjetas, mas, a bordo, receberam somente R$ 200.
Em nota oficial, divulgada no dia 27 de setembro de 2004, Benício Tavares confirmou a viagem a Manaus, de 16 a 22 de setembro, para pescar no rio Negro, hobby até então insuspeito. Confirmou também o vôo Barcelos-Manaus. Negou relacionamentos sexuais com garotas menores de idade. Para fazer a viagem turística, Benício se licenciou por dez dias da Câmara, da qual era presidente, embora a casa estivesse votando uma pilha de matérias e sua presença fosse importante. Foi confirmada também a presença, no iate, do chefe de gabinete da presidência da Câmara, Randal Mendes, cunhado de Tavares, e do advogado brasiliense Marco Antônio Attié.
Decisão nunca saiu
O Conselho Especial do TJDF instaurou processo penal contra Benício, em ação movida pelo Ministério Público, mas a decisão nunca foi publicada no Diário da Justiça. O assessor criminal do procurador geral do Ministério Público, promotor de Justiça Andrelino Bento Santos Filho, explica que o processo não apresenta complexidade que justifique a demora da sua abertura. Com o passar do tempo, as testemunhas tornam-se mais difíceis de encontrar e mais tempo será empregado para suas localizações. Além disso, a gravidade do crime exige rigor.
O plenário da Câmara Legislativa do DF decidiu fechar os olhos e arquivar processo contra o deputado. Benício Tavares foi liberado por 14 votos favoráveis e 10 abstenções. Como é blindado por imunidade parlamentar, enquanto for reeleito será um turista livre. Em 2007, o governador de Brasília, José Roberto Arruda (DEM), presenteou-o com a Administração Regional de Ceilândia, o maior colégio eleitoral da cidade-estado. O povo se revoltou, pois, além de corruptor de menor, Benício Tavares é acusado de desvio de dinheiro de deficientes físicos. Então ele voltou para a companhia de seus pares na Câmara Legislativa.Digamos que Benício Tavares está dizendo a verdade, que não usou seus prestígio e dinheiro para se espojar na miséria alheia, por que, então, não denunciou o turismo sexual à polícia?

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