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1/17/2007

Enfoque Amazônico

Ray Cunha de Panamá
fumando Cohiba



TACACÁ NA MANIÇOBA
Terra onde aventureiros se dão bem não é o Acre; é o Amapá
17.01.2007

BrasíliaO Guia do Litoral Brasileiro, da On Line Editora, de São Paulo, comete erros crassos até sobre sua própria região, o Sudeste; imagine, então, sobre a Amazônia. Num mapa de temperatura (que a revista trata como “clima”) de algumas cidades do litoral, por exemplo, a temperatura máxima no Rio de Janeiro é de 30,2 graus centígrados.
Mas é a Amazônia que interessa. Segundo a revista, sem fio-data e auto-intitulada “o guia mais completo e atualizado do Brasil”, em Belém do Pará, a temperatura chega no máximo a 32,3 graus e, em Macapá, a 32,6. Diariamente, no início da tarde, em Belém, o calor ultrapassa 40 graus, exceto se chover dias seguidos. Quanto a Macapá, situa-se em plena linha imaginária do Equador. Os raios solares caem verticalmente sobre a cidade. Europeus andam por lá besuntados de cremes e nunca sem panamá. Como não têm melanina, é fácil contrair câncer de pele.
A revista diz que em Belém marca-se compromisso para antes e depois da chuva diária. Trata-se de clichê batido (sic) do exotismo, explorado por publicações burocráticas, dirigidas para turistas na verdadeira acepção da palavra. Diz mais a revista: “O tucupi, um caldo amarelo, de gosto azedo, extraído da mandioca brava, é um dos pratos típicos da região”. Tucupi é ingrediente; não é prato. “Tem também a maniçoba, feita com carne de porco defumada, carne seca e lingüiça, além da folha de mandioca brava moída e do tacacá, um tipo de sopa de origem indígena”. Tacacá não é ingrediente, mas prato, e não é sopa, porém uma mistura de goma, tucupi, jambu e camarão.
Uma dica: o melhor tacacá de Belém é o da banca defronte ao Colégio Nazaré. Já me disseram que há melhor ainda. Pode ser. Mas tomar tacacá ao cair da tarde na Avenida Nazaré, apreciando o vai-e-vem das mulheres mais bonitas do mundo, só mesmo na banca do Colégio Nazaré. O bolo de macaxeira (mandioca no Sudeste) de lá é também divino.
E quando fala sobre o Amapá, o estado brasileiro mais distante do Brasil? Começa pelo título: “Belezas secretas”. Quais seriam? Mas o soutien está correto: “O Amapá é um destino para aventureiros, já que, entre as principais atrações, estão a pesca e a pororoca, um raro ecossistema ecológico”. Contudo os maiores aventureiro no Amapá estão na política.
O mais famoso deles é o senador maranhense José Sarney (PMDB). Nem Dom Luiz Galvez Rodriguez de Ária, Imperador do Acre, foi tão longe. Sarney conseguiu ser presidente da República e entrar para a Academia Brasileira de Letras. Em 1990, o coronel já era veneno para os maranhenses, então saltou de pára-quedas no recém-criado estado do Amapá, que oferecia três vagas para o Senado e não tinha qualquer experiência estatal. A cabocada (sic) se encantou com o ex-presidente da República e o elegeu para 24 anos de mandato. Sarney nem aparece no Amapá.
Outro aventureiro é o governador Waldez Góes (PDT), eleito para oito anos. Desde 2003, o Amapá vem afundando... O prefeito de Macapá, João Henrique (PT), ficou bastante conhecido também quando a TV Globo mostrou-o algemado, numa das operações da Polícia Federal. Diz-se que essas operações são teatro para o povo, mas para alguém ser agarrado assim pela Federal é preciso ter feito alguma coisa que não se deve ensinar aos filhos.
A revista diz que “Macapá é a única capital brasileira banhada pelo rio Amazonas, com a foz à margem esquerda”. O rio Amazonas só tem uma foz, como todos os rios do mundo. Adiante: “Suas ruas são retas e largas, com poucos prédios”. As ruas de Macapá – cidade sem rede de esgoto nem galeria de águas pluviais - são esburacadas, lamacentas durante seis meses e poeirentas o resto do ano, algumas com água de esgoto escorrendo pelo meio-fio. Pior é em Oiapoque.
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Ray Cunha

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