A SAGA DAS INDÚSTRIAS DE GUARANÁ NO SÉCULO XX EM BELÉM
Às vezes me pergunto, porque o sabor natural da Amazônia ficou relegado por muitos anos nestas últimas décadas do século XX, ao quase que completo esquecimento, nas festas, confraternizações, coquetéis, outros eventos menos importantes etc., dando lugar a outros tipos de refrigerantes, de origem externa à Amazônia e, muita das vezes, menos saborosos que os cá de casa.
Lembro-me dos tempos de criança, em que era um devorador costumais de guaraná, que nessa época era sinônimo de refrigerante. Havia uma variada gama de marcas de guaranás, cada um mais gostoso que o outro. Para se ter uma idéia, e a memória não falhar, você poderia encontrar em qualquer bar ou restaurante, as seguintes marcas: Brasil, Fiel, Globo, Simões, Soberano, Vigor, Vitória e outros.
Eram produzidos por pequenas e médias indústrias locais, que participavam ativamente no cotidiano social, esportivo e cultural da cidade, patrocinando programas de rádio como: Calendário Social Brasil na PRC-5, Rádio Clube do Pará, ou eventos como a tradicional festa de Nazaré, quando essas indústrias montavam bares em pleno arraial, em frente à basílica da Santa Padroeira de Belém, onde se destacava o Grande Bar Soberano, palco de muitas histórias da vida social e mundana da festividade, símbolo de uma época belenense.
A resistência às marcas de fora era tão grande, que na década de 50/60, a toda poderosa Coca Cola, quando se instalou em Belém pela primeira vez, com sua fábrica localizada na travessa Lomas Valentina, teve uma passagem meteórica, fazendo com que a cidade passasse para a história, como uma das raras no mundo, em que a fábrica dessa famosa marca cerrou suas portas.
Contam que naquela ocasião, as indústrias paraoaras de refrigerantes, usaram de uma estratégia pouco convencional e antiética, para impedir o avanço internacional da famosa marca americana no mercado de Belém. Vamos tentar explicar mais ou menos como tudo aconteceu. As indústrias de refrigerantes da cidade utilizavam um tipo de vasilhame único, do tipo utilizado atualmente pela ‘CERPA EXPORT’, a nossa conhecida cerpinha, enquanto que a concorrente estrangeira usava o tradicional modelo de embalagem que conhecemos hoje, só que em tamanho menor. Aí os fabricantes locais, quando iam reabastecer seus clientes, eles também recolhiam não somente os seus vasilhames, como também os da Coca Cola, os quais davam sumiço (quebrando-os).
Ora! Belém naquela ocasião era ligada ao resto do mundo por água e por ar, dependendo em muito dos navios que abasteciam a cidade, e que faziam do porto de Belém, um dos mais movimentados do País. Então repor os vasilhames para atender a produção, não era fácil, causando assim um tremendo prejuízo ao grupo empreendedor, que tentava se implantar na cidade, o que com certeza, somou na decisão de fechar a fabrica de Belém. Vitória parcial dos industriais cabanos.
A partir desse episódio, passou a imperar na cidade, o popular Guarassuco, cuja fábrica, ficava na Avenida Almirante Barroso, e com uma forte campanha publicitária tornou-se o símbolo de refrigerante. Patrocinando eventos esportivos, culturais e sociais, dos quais destacamos em nossa lembrança, o Campeonato Colegial Guarassuco: gincana cultural envolvendo alunos secundaristas, que mais se destacavam em suas escolas. Esse evento cultural possuía uma mesa examinadora, composta por renomados mestres dos mais tradicionais estabelecimentos de ensino de Belém, a saber: Colégio Estadual Paes de Carvalho, Colégio Moderno, Colégio Marista Nossa Senhora de Nazaré, Colégio Salesiano Nossa Senhora do Carmo, Escola Normal atual IEP, Colégio Gentil Bittencourt e outros, transmitido ao vivo por uma das emissoras de rádio da época: a ZYE-20 Rádio Marajoara, pertencente ao grupo empresarial: Diários e Emissoras Associados, chegando a parar a cidade, alcançando elevados índices de audiência.
A importância do Guarassuco na sociedade da época era tanta, que também eram comuns histórias de famílias paraenses, quando em visita a outros lugares do Brasil e do mundo, pedirem Guarassuco, em vez de refrigerantes, provocando risos e gozações quando aqui retornavam. O slogan publicitário utilizado em sua campanha servia de referência às pessoas que estavam em evidência ; Quando uma pessoa aparecia muito em festas ou eventos de natureza diversa, o povo falava: puxa o fulano parece até Guarassuco, está em todas!
O tempo foi passando, o Guarassuco cedeu lugar a uma nova marca: o Guaraná Garoto, com sua fábrica instalada na BR e que mais tarde passou a engarrafar a Pepsi Cola, principal concorrente mundial da Coca Cola, que já estava instalada pela segunda vez em Belém, na rodovia Augusto Montenegro. Só que desta vez com o beneplácito do Governo, que junto com outros fatores de natureza endógena e exógena, promoveram a decadência e/ou quase extinção das marcas de refrigerantes regionais, formadas por pequenas e médias indústrias locais.
Podemos afirmar estar havendo um ressuscitar daquelas marcas antigas, além da entrada de outras novas marcas de âmbito regional, largamente encontradas nas grandes redes de auto - serviços e distribuidoras de bebidas, espalhados por toda a Região Metropolitana de Belém concorrendo em preço com as multinacionais do ramo de cervejas e refrigerantes. Vale salientar que a entrada dessas indústrias de refrigerantes regionais no mercado, ampliando inclusive a linha de sabores tais como: Colas, Laranjadas, Limonadas e outras fizeram com que, multinacionais como a Coca Cola, promovesse o lançamento de um novo Guaraná, com campanha publicitária, fazendo referência à matéria prima do guaraná ao seu habitat natural, oferecendo ao consumidor, um produto com o sabor inigualável do genuíno guaraná da Amazônia.
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Tatá Cavalcante
Rua Boaventura da Silva ● nº 361 ● Apto. 803 ● CEP: 66.053-050
Às vezes me pergunto, porque o sabor natural da Amazônia ficou relegado por muitos anos nestas últimas décadas do século XX, ao quase que completo esquecimento, nas festas, confraternizações, coquetéis, outros eventos menos importantes etc., dando lugar a outros tipos de refrigerantes, de origem externa à Amazônia e, muita das vezes, menos saborosos que os cá de casa.
Lembro-me dos tempos de criança, em que era um devorador costumais de guaraná, que nessa época era sinônimo de refrigerante. Havia uma variada gama de marcas de guaranás, cada um mais gostoso que o outro. Para se ter uma idéia, e a memória não falhar, você poderia encontrar em qualquer bar ou restaurante, as seguintes marcas: Brasil, Fiel, Globo, Simões, Soberano, Vigor, Vitória e outros.
Eram produzidos por pequenas e médias indústrias locais, que participavam ativamente no cotidiano social, esportivo e cultural da cidade, patrocinando programas de rádio como: Calendário Social Brasil na PRC-5, Rádio Clube do Pará, ou eventos como a tradicional festa de Nazaré, quando essas indústrias montavam bares em pleno arraial, em frente à basílica da Santa Padroeira de Belém, onde se destacava o Grande Bar Soberano, palco de muitas histórias da vida social e mundana da festividade, símbolo de uma época belenense.
A resistência às marcas de fora era tão grande, que na década de 50/60, a toda poderosa Coca Cola, quando se instalou em Belém pela primeira vez, com sua fábrica localizada na travessa Lomas Valentina, teve uma passagem meteórica, fazendo com que a cidade passasse para a história, como uma das raras no mundo, em que a fábrica dessa famosa marca cerrou suas portas.
Contam que naquela ocasião, as indústrias paraoaras de refrigerantes, usaram de uma estratégia pouco convencional e antiética, para impedir o avanço internacional da famosa marca americana no mercado de Belém. Vamos tentar explicar mais ou menos como tudo aconteceu. As indústrias de refrigerantes da cidade utilizavam um tipo de vasilhame único, do tipo utilizado atualmente pela ‘CERPA EXPORT’, a nossa conhecida cerpinha, enquanto que a concorrente estrangeira usava o tradicional modelo de embalagem que conhecemos hoje, só que em tamanho menor. Aí os fabricantes locais, quando iam reabastecer seus clientes, eles também recolhiam não somente os seus vasilhames, como também os da Coca Cola, os quais davam sumiço (quebrando-os).
Ora! Belém naquela ocasião era ligada ao resto do mundo por água e por ar, dependendo em muito dos navios que abasteciam a cidade, e que faziam do porto de Belém, um dos mais movimentados do País. Então repor os vasilhames para atender a produção, não era fácil, causando assim um tremendo prejuízo ao grupo empreendedor, que tentava se implantar na cidade, o que com certeza, somou na decisão de fechar a fabrica de Belém. Vitória parcial dos industriais cabanos.
A partir desse episódio, passou a imperar na cidade, o popular Guarassuco, cuja fábrica, ficava na Avenida Almirante Barroso, e com uma forte campanha publicitária tornou-se o símbolo de refrigerante. Patrocinando eventos esportivos, culturais e sociais, dos quais destacamos em nossa lembrança, o Campeonato Colegial Guarassuco: gincana cultural envolvendo alunos secundaristas, que mais se destacavam em suas escolas. Esse evento cultural possuía uma mesa examinadora, composta por renomados mestres dos mais tradicionais estabelecimentos de ensino de Belém, a saber: Colégio Estadual Paes de Carvalho, Colégio Moderno, Colégio Marista Nossa Senhora de Nazaré, Colégio Salesiano Nossa Senhora do Carmo, Escola Normal atual IEP, Colégio Gentil Bittencourt e outros, transmitido ao vivo por uma das emissoras de rádio da época: a ZYE-20 Rádio Marajoara, pertencente ao grupo empresarial: Diários e Emissoras Associados, chegando a parar a cidade, alcançando elevados índices de audiência.
A importância do Guarassuco na sociedade da época era tanta, que também eram comuns histórias de famílias paraenses, quando em visita a outros lugares do Brasil e do mundo, pedirem Guarassuco, em vez de refrigerantes, provocando risos e gozações quando aqui retornavam. O slogan publicitário utilizado em sua campanha servia de referência às pessoas que estavam em evidência ; Quando uma pessoa aparecia muito em festas ou eventos de natureza diversa, o povo falava: puxa o fulano parece até Guarassuco, está em todas!
O tempo foi passando, o Guarassuco cedeu lugar a uma nova marca: o Guaraná Garoto, com sua fábrica instalada na BR e que mais tarde passou a engarrafar a Pepsi Cola, principal concorrente mundial da Coca Cola, que já estava instalada pela segunda vez em Belém, na rodovia Augusto Montenegro. Só que desta vez com o beneplácito do Governo, que junto com outros fatores de natureza endógena e exógena, promoveram a decadência e/ou quase extinção das marcas de refrigerantes regionais, formadas por pequenas e médias indústrias locais.
Podemos afirmar estar havendo um ressuscitar daquelas marcas antigas, além da entrada de outras novas marcas de âmbito regional, largamente encontradas nas grandes redes de auto - serviços e distribuidoras de bebidas, espalhados por toda a Região Metropolitana de Belém concorrendo em preço com as multinacionais do ramo de cervejas e refrigerantes. Vale salientar que a entrada dessas indústrias de refrigerantes regionais no mercado, ampliando inclusive a linha de sabores tais como: Colas, Laranjadas, Limonadas e outras fizeram com que, multinacionais como a Coca Cola, promovesse o lançamento de um novo Guaraná, com campanha publicitária, fazendo referência à matéria prima do guaraná ao seu habitat natural, oferecendo ao consumidor, um produto com o sabor inigualável do genuíno guaraná da Amazônia.
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Tatá Cavalcante
Rua Boaventura da Silva ● nº 361 ● Apto. 803 ● CEP: 66.053-050
Um comentário:
Muito legal. Principalmente prá mim, filho do Sr. Antonio Pinheiro, conhecido como Seu Antonico que foi o único distribuidor do Guaraná Simões em Belém.
Ronaldo Uchôa Pinheiro
Belém-Pa
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