ESCRITORES AMAZÔNIDAS
O personagem Juvenal Cardoso (Jucá) é um escritor amazônida (paraense) que reflete sobre o ato de escrever, em todas as suas dimensões: dos esboços solitários até à dificuldade de editar-se e comunicar-se com os prováveis leitores. Refleti sobre isto, em meu conto “Esboço para “Imagens de uma Tarde de Verão” (publicado em 1988,e escrito bem antes): uma ligeira reflexão sobre a criação artística, através de um neoconto,e pelo método descritivo.
“Jucá- Um Escritor Amazônida” (1991), novela de Orlando Carneiro (autor também dos seguintes livros: Paragueses (80), Novelário (84), Canto de Página (88), Histórias do Tio Orlando (91), A Obra-Prima (93), O Suicídio Perfeito (93, e traduzido para o alemão), Do Interior ao Exterior (96, com agradabilíssimas crônicas curtas de viagens,o que raramente paraenses fazem: viajam,mas não escrevem), e ,o inédito “O Tríptico”), o fato literário na Amazônia é muito bem analisado, provocando uma analepsia em nossos parcos e esparsos debates, tendentes à louvaminhices.
O escritor (como antena da raça, no dizer semifasc istóide de Ezra Pound) procura , no livro, refletir nossa situação: o desânimo literário (o tal de branco, que às vezes aparece – e, é bom ter dúvidas! até de musas cabeludas); a solidão e a sede de comunicação; os temas de interesse local, regional, nacional e universal (sem esquecermos a questão do democrático e do popular); o conhecimento da terra, do meio-ambiente, das pessoas e de nossos problemas (o mais detalhado possível: temos que falar, com profundidade, da nossa aldeia, para tornarmo-nos universais). Jucá , psicografando Orlando (metempsicose? Intertextualidade?),analisa criticamente a devastação da flora e da fauna, a violência contra os povos da floresta; a política mineral e a praga do mercúrio, a ganância selvagem,etc.
Prezados leitores de orelhas, se os seus problemas são vagas em academias, não liguem para Jucá ! E mais, muito mais: os falsos progressos que podem nos destruir definitivamente, se não soubermos , conscientemente nos opor a eles. E contrapropor outras verdadeiras soluções. Aborda os problemas das estradas demagógicas, quase sempre atoleiros incompletos; os grandes projetos sem planejamentos conseqüentes, forjados em gabinetes alienígenas, molhados por dólares, e esquecendo-se da bela realidade das chuvas.
Enfoca as literárias desilusões (quando o livro pronto) com lançamentos esvaziados pela crise econômica e os exorbitantes preços para edição e venda dos mil exemplares.
Como bem diz nosso espelho Jucá: “ser escritor é estudar, ler (permanentemente), observar, criar. O aprimoramento dos textos (aos que não conhecem o assunto)é um trabalho árduo e cansativo, onde não cabem esmorecimentos. Cada palavra, cada frase têm de ser analisadas cuidadosamente , nos seus detalhes”.
Lembrando Simone de Beauvoir (que em suas vastas memórias, disse-nos: “como todos os outros, eu sou para os outros um outro”), acrescentamos que o senso de autocrítica é fundamental. E o desprezo às futilidades das pompas e badalações, que desservem à literatura; ou ao genus irritable (na expressão do latino Horácio, décadas a.C) dos poetas,críticos ou literatos em geral. E, Erasmo de Roterdã,em uma semana de 1509, quando convalescia na casa campestre de Thomas Morus, a quem dedicou a obra (publicada em Paris,em 1511),balançou o coreto com seu imortal “O Elogio da Loucura”. (Há quem prefira a prata da casa: Erasmo Carlos,etc). Só um pedacinho do livro, quando fala sobre os gramáticos, ou sejam, os pedantes: “não estão eles sujeitos apenas as cinco pragas e flagelos do epigrama grego, mas ainda a 600 outros: sempre famélicos e sujos nmas escolas, ou melhor, nas suas cadeias ou lugares de suplícios e de tormentos, no meio de um rebanho de meninos, envelhecem de fadiga, tornam-se surdos com o barulho, ficam tísicos com o fedor e a imundície, mas se julgam os primeiros homens do mundo; não podeis imaginar o prazer que experimentam azendo tremer seus tímidos súditos, com ar ameaçador e voz altissonante; armados de chicotes, de vara, de correia, não fazem senão decidir o castigo, sendo ao mesmo tempo partes, juízes e carrascos, e sua imundície afigura-se-lhes asseio, e fedor serve-lhes de perfume, acreditando-se reis em meio à sua miserabilíssima escravidão”. Eta, pua !
Aqui é bom (e é hora de) pararmos e refletirmos:
para que servem as confrarias ?
Recentemente, dois paraenses, que não participam de igrejinhas, nem panelinhas, fizeram e editaram dois grandes romances. São eles: Amaury Braga Dantas, com Anjos da Escuridão (1998,365 págs.): e, Nicodemus Sena, com A Espera do Nunca Mais, uma saga amazônica (1999,e 740 págs.). Ambos foram lançados no stand da A.P.E, durante a III Feira Panamazônica do Livro,de 29.10 a 07.11.1999, no CENTUR).
Então, o que escrever ? Para quem escrever ? Como escrever ? E, por que escrever? E, nessa novela , Orlando Carneiro, sem salientar a sátira, com enfoque regional (sempre digo: regionalidades, sim; regionalismos,não!; e estão aí a Iugoslávia e a Albânia, que não nos deixam mentir),de um problema global, convida-nos (malditos escritores), a esta pública reflexão, e mostra, aos não escritores, as agruras de sê-lo !
LUIZ LIMA BARREIROS (05.10.2007)
O personagem Juvenal Cardoso (Jucá) é um escritor amazônida (paraense) que reflete sobre o ato de escrever, em todas as suas dimensões: dos esboços solitários até à dificuldade de editar-se e comunicar-se com os prováveis leitores. Refleti sobre isto, em meu conto “Esboço para “Imagens de uma Tarde de Verão” (publicado em 1988,e escrito bem antes): uma ligeira reflexão sobre a criação artística, através de um neoconto,e pelo método descritivo.
“Jucá- Um Escritor Amazônida” (1991), novela de Orlando Carneiro (autor também dos seguintes livros: Paragueses (80), Novelário (84), Canto de Página (88), Histórias do Tio Orlando (91), A Obra-Prima (93), O Suicídio Perfeito (93, e traduzido para o alemão), Do Interior ao Exterior (96, com agradabilíssimas crônicas curtas de viagens,o que raramente paraenses fazem: viajam,mas não escrevem), e ,o inédito “O Tríptico”), o fato literário na Amazônia é muito bem analisado, provocando uma analepsia em nossos parcos e esparsos debates, tendentes à louvaminhices.
O escritor (como antena da raça, no dizer semifasc istóide de Ezra Pound) procura , no livro, refletir nossa situação: o desânimo literário (o tal de branco, que às vezes aparece – e, é bom ter dúvidas! até de musas cabeludas); a solidão e a sede de comunicação; os temas de interesse local, regional, nacional e universal (sem esquecermos a questão do democrático e do popular); o conhecimento da terra, do meio-ambiente, das pessoas e de nossos problemas (o mais detalhado possível: temos que falar, com profundidade, da nossa aldeia, para tornarmo-nos universais). Jucá , psicografando Orlando (metempsicose? Intertextualidade?),analisa criticamente a devastação da flora e da fauna, a violência contra os povos da floresta; a política mineral e a praga do mercúrio, a ganância selvagem,etc.
Prezados leitores de orelhas, se os seus problemas são vagas em academias, não liguem para Jucá ! E mais, muito mais: os falsos progressos que podem nos destruir definitivamente, se não soubermos , conscientemente nos opor a eles. E contrapropor outras verdadeiras soluções. Aborda os problemas das estradas demagógicas, quase sempre atoleiros incompletos; os grandes projetos sem planejamentos conseqüentes, forjados em gabinetes alienígenas, molhados por dólares, e esquecendo-se da bela realidade das chuvas.
Enfoca as literárias desilusões (quando o livro pronto) com lançamentos esvaziados pela crise econômica e os exorbitantes preços para edição e venda dos mil exemplares.
Como bem diz nosso espelho Jucá: “ser escritor é estudar, ler (permanentemente), observar, criar. O aprimoramento dos textos (aos que não conhecem o assunto)é um trabalho árduo e cansativo, onde não cabem esmorecimentos. Cada palavra, cada frase têm de ser analisadas cuidadosamente , nos seus detalhes”.
Lembrando Simone de Beauvoir (que em suas vastas memórias, disse-nos: “como todos os outros, eu sou para os outros um outro”), acrescentamos que o senso de autocrítica é fundamental. E o desprezo às futilidades das pompas e badalações, que desservem à literatura; ou ao genus irritable (na expressão do latino Horácio, décadas a.C) dos poetas,críticos ou literatos em geral. E, Erasmo de Roterdã,em uma semana de 1509, quando convalescia na casa campestre de Thomas Morus, a quem dedicou a obra (publicada em Paris,em 1511),balançou o coreto com seu imortal “O Elogio da Loucura”. (Há quem prefira a prata da casa: Erasmo Carlos,etc). Só um pedacinho do livro, quando fala sobre os gramáticos, ou sejam, os pedantes: “não estão eles sujeitos apenas as cinco pragas e flagelos do epigrama grego, mas ainda a 600 outros: sempre famélicos e sujos nmas escolas, ou melhor, nas suas cadeias ou lugares de suplícios e de tormentos, no meio de um rebanho de meninos, envelhecem de fadiga, tornam-se surdos com o barulho, ficam tísicos com o fedor e a imundície, mas se julgam os primeiros homens do mundo; não podeis imaginar o prazer que experimentam azendo tremer seus tímidos súditos, com ar ameaçador e voz altissonante; armados de chicotes, de vara, de correia, não fazem senão decidir o castigo, sendo ao mesmo tempo partes, juízes e carrascos, e sua imundície afigura-se-lhes asseio, e fedor serve-lhes de perfume, acreditando-se reis em meio à sua miserabilíssima escravidão”. Eta, pua !
Aqui é bom (e é hora de) pararmos e refletirmos:
para que servem as confrarias ?
Recentemente, dois paraenses, que não participam de igrejinhas, nem panelinhas, fizeram e editaram dois grandes romances. São eles: Amaury Braga Dantas, com Anjos da Escuridão (1998,365 págs.): e, Nicodemus Sena, com A Espera do Nunca Mais, uma saga amazônica (1999,e 740 págs.). Ambos foram lançados no stand da A.P.E, durante a III Feira Panamazônica do Livro,de 29.10 a 07.11.1999, no CENTUR).
Então, o que escrever ? Para quem escrever ? Como escrever ? E, por que escrever? E, nessa novela , Orlando Carneiro, sem salientar a sátira, com enfoque regional (sempre digo: regionalidades, sim; regionalismos,não!; e estão aí a Iugoslávia e a Albânia, que não nos deixam mentir),de um problema global, convida-nos (malditos escritores), a esta pública reflexão, e mostra, aos não escritores, as agruras de sê-lo !
LUIZ LIMA BARREIROS (05.10.2007)
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