A QUESTÃO COIMBRÃ
Depois de 1860, acontece uma profunda transformação na vida mental portuguesa: o romantismo estava exausto.
A cidade universitária de Coimbra serve de trincheira para os revolucionários, influenciados por Proudhon, Taine, Renan, Hegel, Darwin,etc. Em 1861, Antero de Quental funda a “Sociedade do Raio”, associação secreta que congrega cerca de 200 estudantes, e em outubro de 1862, escolhido para saudar o príncipe Humberto da Itália, Antero exalta esse país livre e a Garibaldi. Em 1863, esta sociedade seqüestra o reitor Basílio Alberto, obrigando-o a demitir-se. Antero combate ao mestre Antonio de Castilho, num opúsculo que recebeu o nome de “Bom Senso e Bom Gosto” (1865), onde diz “a futilidade num velho desgosta-me tanto quanto a gravidade numa criança: V.Exª precisa menos de 50 anos de idade, ou então mais cinqüenta anos de reflexão”.
Esta nova geração é antimonárquica, e portanto republicana e socialista, anticlerical e antiburguesa. Estava armada a polêmica, que passou a chamar-se de “Questão Coimbrã”, início do realismo, em Portugal. De um lado , os tradicionalistas Antonio de Castilho, seu filho Júlio, Camilo Castelo Branco (com o folheto “Vaidades Irritadas e Irritantes”), Ramalho Ortigão (com “Literatura de Hoje”, contra Antero de Quental, que o desafia para um duelo, e com ele bate-se em fevereiro de 1866),etc. Em 1860, em Oxford, numa reunião da British Association for Advancement of Ciences, o bispo Samuel Wilbefore, resolver esmagar o conferencista Thomas Huxley (avô do romancista Aldous Huxley) que defendia o livro de Charles DARWIN, “A Origem das Espécies” (que ano que vem fará 150 anos), e perguntou-lhe , no auge dos debates, se Huxley descendia de macacos, por parte de avô ou de avó. Huxley respondeu-lhe que vergonhoso seria se descendesse dos pais do bispo, e tiveram também que ir a duelo. Pois bem, do lado oposto a Castilho, estavam Antero de Quental,Eça de Queirós, Ramalho Ortigão , Oliveira Martins, e outros , que se reuniam em Lisboa, no grupo do Cenáculo, e em 1871, resolveram organizar uma série de conferências públicas, alugando para isto o Cassino Lisboense, onde se reunia a boemia intelectualizada da época. Podemos dizer que este fato antecede , em Portugal, a nossa Semana de Arte Moderna de 1922, na capital paulistana !
AS CONFERÊNCIAS LISBOETAS - No Cassino Lisboense (22.05.1871), Antero de Quental abre o ciclo de palestras, falando acerca de “O Espírito das Conferências. A segunda, em 25.05.1871, também é de Antero,de título “Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três Séculos”, onde disse: “ o cristianismo foi a Revolução no mundo antigo, e a Revolução não é mais do que o cristianismo no mundo moderno”. A terceira conferência foi efetuada em 05.06.71, por Augusto Seramenho, e intitulada de “A Literatura Portuguesa”, que o autor acha-a decadente e sem originalidade, e para remediar essa situação, aponta o caminho do Cristianismo, que seria o inverso do Catolicismo.
Éça de Queirós, em 6 de junho, proferiu a quarta conferência, sob o título “A Literatura Nova: o Realismo como Nova Expressão de Arte” , e diz que Couberta na pintura, e Flaubert na ficção, servem-lhe de exemplo. A quinta, acerca de “A Questão do Ensino”!, é proferida em 19 de junho, por Adolfo Coelho, afirmando que a decadência do ensino portguês , deve-se a aliança entre a Igreja e o Estado, entende que deve-se separar a ambos, para promover a liberdade de pensamento. (Observem que, em 1999, o Conselho de Educação de Kansas (EUA) retroage , proibindo o lecionamento da ciência evolucionista nas escolas públicas ,deste estado norte-americano, pois o certo seria o mito do tal criacionismo).
A sexta conferência, seria realizada por Salomão Saraga, de título , “Os Historiadores Críticos de Jesus”, mas, não foi realizada. Pois, este ciclo de palestras foi definitivamente suspenso, por proibição real: “por abuso do direito de reunião, pregando doutrinas que atacam a religião, e as instituições políticas do Estado”, conforme a portaria do Marquês d’Ávila, afixada nas portas do Cassino Lisboense, nesta triste noite de 1871. E, ficaram, sem efeito, outras que seriam realizadas: “O Socialismo “ (por Batalha Reais), “A República” (por Antero), ‘A Instrução Primária” (Adolfo Coelho),e “A Dedução Positiva da Idéia Democrática (Augusto Fuschini)). Porém , o espírito modificador que as animava não morreu: ganhou fôrça de coisa proibida, e atraiu mais adeptos. E, dá-nos prazer, relembrá-las, para todos que amam a liberdade de expressão.
As idéias realistas em Portugal estavam se consolidando. E,em 1875, Eça de Queirós publica seu célebre romance “O CRIME DO PADRE AMARO”, onde disseca a pieguice, a carolice e o provincianismo lusitano.
Tenho dito.
E-mail: clicluizlima@yahoo.com.br
Depois de 1860, acontece uma profunda transformação na vida mental portuguesa: o romantismo estava exausto.
A cidade universitária de Coimbra serve de trincheira para os revolucionários, influenciados por Proudhon, Taine, Renan, Hegel, Darwin,etc. Em 1861, Antero de Quental funda a “Sociedade do Raio”, associação secreta que congrega cerca de 200 estudantes, e em outubro de 1862, escolhido para saudar o príncipe Humberto da Itália, Antero exalta esse país livre e a Garibaldi. Em 1863, esta sociedade seqüestra o reitor Basílio Alberto, obrigando-o a demitir-se. Antero combate ao mestre Antonio de Castilho, num opúsculo que recebeu o nome de “Bom Senso e Bom Gosto” (1865), onde diz “a futilidade num velho desgosta-me tanto quanto a gravidade numa criança: V.Exª precisa menos de 50 anos de idade, ou então mais cinqüenta anos de reflexão”.
Esta nova geração é antimonárquica, e portanto republicana e socialista, anticlerical e antiburguesa. Estava armada a polêmica, que passou a chamar-se de “Questão Coimbrã”, início do realismo, em Portugal. De um lado , os tradicionalistas Antonio de Castilho, seu filho Júlio, Camilo Castelo Branco (com o folheto “Vaidades Irritadas e Irritantes”), Ramalho Ortigão (com “Literatura de Hoje”, contra Antero de Quental, que o desafia para um duelo, e com ele bate-se em fevereiro de 1866),etc. Em 1860, em Oxford, numa reunião da British Association for Advancement of Ciences, o bispo Samuel Wilbefore, resolver esmagar o conferencista Thomas Huxley (avô do romancista Aldous Huxley) que defendia o livro de Charles DARWIN, “A Origem das Espécies” (que ano que vem fará 150 anos), e perguntou-lhe , no auge dos debates, se Huxley descendia de macacos, por parte de avô ou de avó. Huxley respondeu-lhe que vergonhoso seria se descendesse dos pais do bispo, e tiveram também que ir a duelo. Pois bem, do lado oposto a Castilho, estavam Antero de Quental,Eça de Queirós, Ramalho Ortigão , Oliveira Martins, e outros , que se reuniam em Lisboa, no grupo do Cenáculo, e em 1871, resolveram organizar uma série de conferências públicas, alugando para isto o Cassino Lisboense, onde se reunia a boemia intelectualizada da época. Podemos dizer que este fato antecede , em Portugal, a nossa Semana de Arte Moderna de 1922, na capital paulistana !
AS CONFERÊNCIAS LISBOETAS - No Cassino Lisboense (22.05.1871), Antero de Quental abre o ciclo de palestras, falando acerca de “O Espírito das Conferências. A segunda, em 25.05.1871, também é de Antero,de título “Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos Últimos Três Séculos”, onde disse: “ o cristianismo foi a Revolução no mundo antigo, e a Revolução não é mais do que o cristianismo no mundo moderno”. A terceira conferência foi efetuada em 05.06.71, por Augusto Seramenho, e intitulada de “A Literatura Portuguesa”, que o autor acha-a decadente e sem originalidade, e para remediar essa situação, aponta o caminho do Cristianismo, que seria o inverso do Catolicismo.
Éça de Queirós, em 6 de junho, proferiu a quarta conferência, sob o título “A Literatura Nova: o Realismo como Nova Expressão de Arte” , e diz que Couberta na pintura, e Flaubert na ficção, servem-lhe de exemplo. A quinta, acerca de “A Questão do Ensino”!, é proferida em 19 de junho, por Adolfo Coelho, afirmando que a decadência do ensino portguês , deve-se a aliança entre a Igreja e o Estado, entende que deve-se separar a ambos, para promover a liberdade de pensamento. (Observem que, em 1999, o Conselho de Educação de Kansas (EUA) retroage , proibindo o lecionamento da ciência evolucionista nas escolas públicas ,deste estado norte-americano, pois o certo seria o mito do tal criacionismo).
A sexta conferência, seria realizada por Salomão Saraga, de título , “Os Historiadores Críticos de Jesus”, mas, não foi realizada. Pois, este ciclo de palestras foi definitivamente suspenso, por proibição real: “por abuso do direito de reunião, pregando doutrinas que atacam a religião, e as instituições políticas do Estado”, conforme a portaria do Marquês d’Ávila, afixada nas portas do Cassino Lisboense, nesta triste noite de 1871. E, ficaram, sem efeito, outras que seriam realizadas: “O Socialismo “ (por Batalha Reais), “A República” (por Antero), ‘A Instrução Primária” (Adolfo Coelho),e “A Dedução Positiva da Idéia Democrática (Augusto Fuschini)). Porém , o espírito modificador que as animava não morreu: ganhou fôrça de coisa proibida, e atraiu mais adeptos. E, dá-nos prazer, relembrá-las, para todos que amam a liberdade de expressão.
As idéias realistas em Portugal estavam se consolidando. E,em 1875, Eça de Queirós publica seu célebre romance “O CRIME DO PADRE AMARO”, onde disseca a pieguice, a carolice e o provincianismo lusitano.
Tenho dito.
E-mail: clicluizlima@yahoo.com.br
Um comentário:
Só tenho a te parabenizar pela presença. Cortázaer está guardado esperando uma viagem pro centro histórico. As crônicas portenhas estão sendo gestadas.
dompedro2@hotmail.com
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