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9/22/2012

RAY CUNHA


O ano de Portugal no paiz petelho


BRASÍLIA, 22 de setembro de 2012 – O Ano de Portugal no Brasil começou no dia 7 de setembro, com o objetivo de promover a pátria lusitana junto aos brasileiros e intensificar as relações entre os dois países. Os portugueses sempre estiveram grudados no Brasil, inicialmente com interesses coloniais e a partir de 15 de novembro de 1889, marco da verdadeira independência do Brasil, com interesses puramente financeiros, agora de mercado. Recentemente, uma patacada içou à tona a relação Brasil-Portugal: o novo Acordo Ortográfico, decretado com o objetivo de “unificar” os idiomas lusitano e brasileiro. O argumento para mudanças ortográficas na língua portuguesa é que a alegada unificação da escrita no Brasil e em Portugal tornaria o português língua oficial da Organização das Nações Unidas (ONU).
Em 29 de setembro de 2008, na Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro, durante homenagem ao escritor Machado de Assis, que completava cem anos de morto (1839-1908), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que sente azia ao tentar ler, assinou quatro decretos de promulgação do novo Acordo Ortográfico no âmbito da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), esta, outra inutilidade. “Com esses atos, Machado de Assis será duplamente exaltado: de um lado, a Academia lhe rende a mais expressiva homenagem neste ano em que celebramos o centenário de sua morte. E, de outro, a assinatura pelo presidente Lula dos decretos que promulgam o Acordo Ortográfico dos sete países lusófonos" – sambou o presidente da ABL, Cícero Sandroni.
Segundo Cícero Sandroni, a promulgação do Acordo Ortográfico concretizava uma antiga aspiração de Machado de Assis, manifestada num de seus discursos, em 1897. “A Academia buscará ser a guardiã de nosso idioma, fundado em suas legítimas fontes - o povo e os escritores, todos os falantes de língua portuguesa” - disse, na altura, o autor de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Machado de Assis estava certo; profeticamente certo.
Por que a língua inglesa é a comercialmente mais falada no mundo? Porque a Grã-Bretanha e os Estados Unidos dão as cartas no planeta desde o século 18. Então, se a questão é inserir a língua portuguesa na ONU, é só levar em consideração apenas o Brasil. O português de Portugal se esgotou, não incorpora mais nada, enquanto o português do Brasil foi enriquecido pelo índio, pela África e pelo trópico, e é aberto. Além disso, o país é a sexta economia do planeta, e Portugal é do tamanho da ilha de Marajó, no Pará, e seu PIB é um terço do PIB do estado de São Paulo. Considerando-se o Brasil isoladamente, passamos à frente de Portugal da mesma forma que os Estados Unidos superaram a Grã-Bretanha.
Assim, a reforma ortográfica tudo muda para nada mudar, como diz uma personagem do romance O Leopardo, de Giuseppe Tomasi Di Lampedusa, referindo-se à monarquia italiana, então com as ventosas no erário, como ocorre hoje e sempre no Brasil chavista de Lula e patrimonialista de Zé Sarney. A célebre frase literária se ajusta à nomenklatura lulapetista, embora o destino do Brasil, a província aquífera, agrícola, florestal e mineral mais rica do planeta, seja o de se transformar numa potência mundial, o que só poderá conquistar por meio da democracia. E a democracia dorme no idioma. Só então, a língua brasileira será respeitada, procurada e aprendida. E depois, grandes escritores deste continente chamado Brasil são tradutores da nossa mestiçagem mulata, cafuza e mameluca, e das nossas cores, cheiros e alegria tropicais.
As nações mais desenvolvidas do planeta, como Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Japão, não mexem na etimologia do seu idioma. No nosso caso, viemos de um dos idiomas mais sofisticados da história da humanidade, que é o latim, que, em Portugal, sofreu misturas do gótico e do árabe, desembocando na língua brasileira, oriunda do português de Portugal, tupi-guarani, línguas africanas, palavras estrangeiras incorporadas ao nosso idioma, verbetes pós-modernos, neologismos e nossa maravilhosa cultura mestiça e tropical.
O novo Acordo Ortográfico é o Mensalão cultural. Só beneficia editoras, principalmente as que integram a panelinha do Ministério da Educação. Alguém está enchendo mais ainda a burra, vendendo milhões de novos dicionários, gramáticas normativas e livros em geral ajustados às novas regras, uma das quais extinguiu a palavra “acreano” e criou “acriano”. Os acreanos ficaram furiosos. Mas o que se há de fazer num momento de tanta mediocridade política e intelectual? O PTMDB só foca no faturamento de bilhões. Gosta de sentir o peso do dinheiro na cueca. Quanto ao ensino público e à pesquisa no Brasil foram despejados no vaso sanitário.
Em vez desse estelionato não seria melhor investir maciçamente no ensino básico? E depois o Brasil tem mais com que se preocupar. Enquanto Lula levava seu palanque para a Academia Brasileira de Letras, o Correio Braziliense, maior jornal da capital do país, publicava uma série de reportagens sobre crianças – meninas e meninos – que embarcavam em carros de luxo, no coração de Brasília, para serem estupradas a troco de comida. A propósito, exploração sexual de crianças e escravidão sexual são comuns na província potencialmente mais rica do planeta, mas onde a miséria humana, a escravidão, o assassinato, campeiam: a Amazônia.
A grande tragédia brasileira é a escola pública. O senador Cristovam Buarque (PDT/DF) costuma comparar as escolas públicas brasileiras, regidas por orientação federal, com o Banco do Brasil. Se as agências do BB em Brasília contam com a mesma estrutura das agências nos grotões brasileiros, como, por exemplo, o sertão do Maranhão que Zé Sarney e família providenciaram para o povo maranhense, uma escola pública do Plano Piloto não é a mesma na hinterlândia da Amazônia. O Acordo Ortográfico é mais uma peça de marketing do governo lulapetista, em um país de esmagadora maioria de alfabetizados funcionais – que leem mas não entendem o que leem -, com pelo menos 20 milhões de pessoas que vivem na Idade da Pedra – não sabem escrever e, muitíssimos deles, não têm sequer certidão de nascimento; outros, são escravos mesmo, principalmente nos medievais estados da Amazônia.
No Brasil, não precisamos de reforma ortográfica. Precisamos de reforma política, de reforma fiscal, de reforma educacional, de reforma do Judiciário, de reforma administrativa, de reforma previdenciária, de reforma do estado brasileiro, de pacto federativo, e, sobretudo, de jogar os ladrões de colarinho branco, especialmente mensaleiros, na cadeia, e fazê-los pagar tudo o que roubaram, e também acabar com a indecência da imunidade parlamentar. Faz-se necessário passar a limpo este “paiz” corrupto.
O Brasil não precisa de mudanças na língua. Nenhum povo precisa. O que potencializa a utilização de um idioma é o avanço do seu país, ou países. Fala-se inglês no mundo todo por causa do Império Inglês e, depois, dos Estados Unidos. Aos 5 anos de idade, quando aprendi a ler, lia Walter Disney, Edgar Rice Burroughs, Al Capp, e, a partir de 14 anos, Ernest Hemingway, Franz Scott Fitzgerald, John Steinbeck, Somerset Maugham, via John Ford, Francis Ford Coppola, ouvia os Beatles e, atualmente, utilizo-me da informática. Tudo porque Tio Sam influía até na Macapá de 1959 – minha cidade natal, ribeirinha, perdida na boca do rio Amazonas.
O Brasil não precisa de mudanças ortográficas. Precisa investir maciça e continuamente, de forma nunca desestimulada, em educação, pesquisa e tecnologia. Precisa reduzir o fosso social: de um lado, as Delta da vida ganham bilhões de reais, enquanto indiozinhos e caboclinhos morrem de fome, ou comidos por vermes, giárdia, ameba, protozoário, bactéria e vírus. Muitos dirão: são apenas indiozinhos e caboquinhos. Pois o Brasil só é rico porque tem, também, riqueza étnica.
O Brasil não precisa gastar dinheiro com reforma ortográfica. Precisa tirar das ruas crianças que estão morrendo de fome, de estupro, de drogas, à faca e à bala, o tempo todo. Enquanto essas crianças vagarem nas ruas brasileiras, como pedrada na cara, falastrões como Lula serão apenas perigosíssimos palhaços stalinistas, como Fidel Castro e Hugo Chávez.
O espantoso é que neste “paiz” petelho o Ministério da Educação (MEC) fez apologia da burrice; chegou a distribuir nas escolas públicas um livro, Por uma vida feliz, de autoria da professora (?) Heloísa Campos, com erros propositais de gramática, como “nós vai pescar”. Febeapá petelho em estado bruto. Em tempo, febeapá significa: “festival de besteiras que assola o país”, expressão criada pelo cronista carioca Sérgio Porto, ou, como era conhecido, Stanislaw Ponte Preta. Cheguei a escrever matéria, neste blog, sobre a apologia da burrice e fui acusado de preconceito, e, pasmem, por jornalistas e pessoas que me enviaram até títulos acadêmicos.
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Qualquer pessoa com curso superior feito numa universidade federal supõe-se saber que há linguagem falada e linguagem escrita. Conforme a linguística, que estuda o homem do ponto de vista da comunicação, se alguém disser “nós vai lá na doviária e compra 5 real de pão de quejim” e o outro entender o recado, tudo bem, fez-se a comunicação. Mas a linguagem escrita é outra coisa. Trata-se da mais complexa invenção humana, uma série de códigos, amadurecidos durante milhares de anos, capaz de registrar permanentemente e transmitir uma ideia, ou todo um sistema, ou a cultura inteira. Transgredir esse sistema é regredir à Pré-História.
Toda a cultura humana está registrada nos livros, ou na escrita, incluindo os parcos conhecimentos que temos do mundo espiritual, conhecimentos que nos foram passados por mestres como Jesus Cristo e registrados por seguidores. Jesus Cristo, por exemplo, falava em aramaico. Por meio da engenharia da tradução, suas palavras foram grafadas, na Idade Clássica, em grego e em latim, e ganhou o Ocidente por meio da língua inglesa, chegando a nós, brasileiros, pela língua portuguesa.
Voltando ao livro Por uma vida melhor, há um claro contexto que o cerca. Desde quando Lula chegou ao poder, em 2003, foi instalada no Brasil o que o jornalista Augusto Nunes chama de “era da mediocridade”. Lula, que não é burro, mas é esperto e medíocre, nivela tudo por baixo, porque é o que ele conhece. Estimulou um mar de burrice perversa. Inclusive estimulou estudantes a não aspirarem graduação superior. Não se enganem, Lula continua no poder, manipulando sua títere. Por trás de Lula há aquele discurso bandido dos comunistas: Deus não existe, ou melhor, Deus é o politburo, e o politburo sabe o que é melhor para todo mundo, de modo que a vida de todos passa a ter regras comuns e todos serão monitorados. A massa terá que aprender a balir. Todo mundo, menos o politburo, vai virar ovelha. Isso ocorreu na União Soviética e ocorre na China, na Coreia do Norte, em Cuba, na Venezuela, e em todas as ditaduras carniceiras da Ásia e da África, todas elas cortejadas por Lula.
Sabemos que os países desenvolvidos investem maciçamente, de forma nunca desestimulada e nunca descontinuada, em educação, em leitura, no aprendizado cada vez mais sofisticado do maior número de palavras possíveis e de várias línguas, ou culturas. Isso leva para o campo prático todo o saber humano, tanto filosófico quanto tecnológico. No caso do Brasil, a politicalha está se lixando para a Educação, preocupada apenas em roubar.
Simples assim.

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RAY CUNHA – Escritor e Jornalista baseado em Brasília-DF, Brasil

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