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4/07/2012

RAY CUNHA




Foto: Drika Bourquim
A cantora amapaense Juliele: voz azul 


Levanto-me às 5 horas. No banheiro, perscruto, ao espelho, meu rosto, cheio de rugas e cicatrizes. Gosto do que vejo, pois meus olhos guardam a eternidade dos 21 anos. “Todos os dias, sob todos os aspectos, vou cada vez melhor!” – penso. Olho minha gata; procuro ouvir sua respiração, divisando suas curvas, sempre misteriosas, sob o fino lençol, à luz mortiça do abajur. Saio para o corredor. Ouço o amanhecer. Os sons da casa se confundem com o latejar do sangue nos tímpanos, marés longínquas. Avanço para a cozinha. Preparo meu café, 3 Corações, gourmet, passado em coador Melita. Bebo três xícaras de 100 ml com leite em pó e duas fatias de pão com passas. Quando há cuscuz, tapioquinha amanteigada, doces ou tortas, bebo café puro. Então estou preparado para o melhor do meu dia.
Crio ao computador. Passaria o dia todo escrevendo, se fosse possível, mas se posso escrever durante pelo menos uma hora o dia será esplêndido. Faço a barba, e enquanto me visto namoro minha gata. Pego o circular na Entrequadra 510/511 Sul, desço defronte ao Pátio Brasil e atravesso o Setor Comercial Sul com destino à Rodoviária do Plano Piloto. Essa travessia é sempre uma aventura, porque cruzo com as mulheres mais bonitas do mundo, recém-saídas do banho, iluminando-me com o cio de virgens ruivas. São 21 graus centígrados. A temperatura perfeita.
Da Rodoviária do Plano Piloto até o meu trabalho dá uma hora de ônibus. Trabalho com afinco até o almoço. Às vezes, volto mais cedo para o Plano Piloto, almoço no Conjunto Nacional ou no Venâncio 2000, e dou uma volta na Livraria Leitura. A do Pátio Brasil é a melhor. Ontem, estava lá quando ouvi uma canção do Fernando Canto, uma que fala no Laguinho, na doce voz da Juliele. Larguei o livro que estava folheando e olhei para o grande monitor da livraria. Não era DVD; era CD. Olhei para o local onde os discos são postos para tocar e avistei meu velho amigo, o radialista Carlos Lobato, de Macapá. Ele estava divulgando o mais recente CD da Juliele, sua esposa.
Abraçamo-nos. Certa vez, quando éramos jovens, em Belém, fizemos uma farra, juntamente com duas gatinhas, de meter medo. Lembramo-nos disso, e de tudo. É interessante como num segundo que seja cabe a eternidade. Conversamos sobre a Juliele. Ela tem potencial para ascender ao show bizz nacional e internacional: sabe cantar, é jovem, bonita, e tem apresentação no palco. Só precisa soltar a voz. Se fizer a coisa certa vai se tornar o primeiro artista amapaense de nome nacional e internacional, a embaixadora de fato do Amapá. 


Brasília, 27 de março de 2012

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