“Se a Academia se desvia desse movimento regenerador, se a Academia não se renova, morra a Academia”
GRAÇA ARANHA (in “O Espírito Moderno” , 1922 )
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Na enquete literária (com 36 participantes) que realizei para o extinto Suplemento Cultural da Imprensa Oficial do Estado,em 1986, nº47 (março/abril) e nº48 (maio/junho),e na entrevista que concedi para a Revista da A.P.E nº3,de dezembro de 1989,e noutra, em junho,para o extinto Setrentião nº1 (editado por Lucinerges Couto e Ivanilda Góes),emiti minha opinião sobre as academias de letras, ampliando a explanação para também as associações de escritores (inclusas as seccionais da União Brasileira de Escritores – UBEs),dos sindicatos,etc. Sou a favor de todas as organizações culturais,mas em diversos graus.
Acho (como a grande maioria das pessoas de minha geração) que as academias são entidades paradas, conservadoras, e às vezes,muito atreladas ao Estado, sem ao menos definir uma política cultural, e preocupando-se muito com discursos de posses ou homenagens louvaminheiras. Incentivando coquetalarias, pompas e badalações que desservem à literatura, como também lembrei no prefácio que fiz para a novela do Orlando Carneiro, “JUCÁ-Um Escritor Amazônida”(Cejup,1991). Existem, é claro, louváveis exceções,principalmente entre alguns acadêmicos,que tentam agilizá-las e dinamizá-las, deselitizando-as... Exemplos: Jorge Amado, Antonio Houaiss, Barbosa Lima Sobrinho,etc. (O acadêmico e senador José Sarney declarou em 1993,que a maioria de seus pares ,era a favor do impeachment de Collor).
Mas, aqui, até hoje, não vimos nenhum, seminário ou um ciclo de palestras, um fórum de debates para os problemas culturais e literários amazônidas,por exemplo (e, não me refiro a minipalestras para ginasianos),aproveitando uma confortável infra-estrutura,existente desde 1979. Creio ser estas minhas observações elegantes e justas.
Por volta de 1629, alguns burgueses letrados, na França,revezavam-se em reuniões caseiras, para se entreterem com literatura e lerem suas próprias produções,ou nos salões das madames cultas, até que o Cardeal de Richelieu,em 1635, solicitou-lhes que, sob sua proteção, se organizassem numa corporação,e se reunissem com regularidade,e um regimento,e que foi a Academia Francesa (registrada no parlamento,em 1637), a princípio com nove, depois doze, 28 e 40 membros,e que serviu de modelo para o resto do mundo. Nessa época, René Descartes trabalhava solitariamente, longe de badalações, para influenciar gerações. Mais de um século depois, a Academia de Dijon, chegou a premiar Jean-Jacques Rousseau !
Quem o premiou ? Quem era o alcaide de Dublin, na época de Swift, ou o de Stratford-upon-Avon, na época de Shakespeare ? Quem eram os vereadores das cidades-estados na época de Aristófanes, Sócrates, Platão e Aristóteles ? Bom lembrar que desde sua fundação, a Academia Francesa foi palco de brigas, dissenções ou expulsões, por motivos culturais e políticos,hoje risíveis. Acho estranho, o mórbido processo de entrada nessas instituições. Por isto, as academias são entidades que estão sempre em pequenas sístoles e diástoles, nivelando-se pelo peso do tradicional,e aí podem se tornar tumbas. Compreendo-as...
E, como intelectuais participantes, temos a obrigação de analisarmos a nossa realidade ! Poucos sabem que a fundação da Academia Paraense de Letras não foi um mar de rosas. Depois da fundação no dia 3 de maio de 1900, por desavenças,ela só vai tentar se reorganizar em agosto de 1913,e com novos problemas. Somente em 1928 (e já com 40 membros) com a arrancada de Eustáquio de Azevedo (dos raros com obra que ficou), Martinho Pinto, Rocha Moreira, Djard de Mendonça, Luiz Barreiros, Elmano Queiroz e Severino Silva, é que ela vai começar a vingar, sempre atrelada ao poder de plantão. Isso não quer dizer que, atualmente (1994),ela não esteja sendo bem administrada pelo Dr.Hilmo Moreira.
Vamos lembrar alguns fatos históricos/literários incontestáveis
Aqui, uma associação literária de importância para a época foi a Mina Literária , organizada por Eustáquio de Azevedo (Belém, 1867 / 1943),em sua própria casa, situada na confluência, ainda hoje, e que precisa ser tombada,da Trav.Padre Prudêncio com a Rua Silva Santos, a um quarteirão do Largo da Trindade. E, em 1895 (1ºde janeiro) é que se faz uma sessão solene no Teatro da Paz, que precedeu a fundação da Academia Brasileira de Letras (15.12.1896). Depois de extinta, a Mina Literária,em 1899, Álvaro da Costa, Enéas Martins e Arthur Lemos, reunidos no Clube Euterpe, pensaram em fundar uma academia de letras, déia que foi combatida pelos jornais, por Eustáquio. A 24 de janeiro de 1900, o jornalista João Marques de Carvalho (autor do romance naturalista “Hortência” e de “Contos Paraenses”),e outros, tiveram a mesma idéia, e no já citado clube, fizeram uma diretoria provisória, indicando 30 membros para esta academia. Reuniram-se em pontos variados: no Clube Euterpe (na Rua Dr.Moraes), na Escola Prática de Comércio, no Salão Ciel da antiga “A Província do Pará” (onde é o IEP), “onde calhava”, como diziam. E, no dia 3 de maio de 1900, fundaram a Academia Paraense de Letras, no Teatro da Paz, juntamente com o Instituto Histórico e Geográfico do Pará (onde presume-se haver pouquíssimos historiadores ou geógrafos). Pois bem, um belo dia, após três ou quatro sessões,como bem nos narra Eustáquio de Azevedo, no seu livro “Literatura Paraense” (1ª edição,1922; 2ªedição:1943 e 3ªedição,1990: FCPTN/Secult/CVRD: “a academia desaparecera e ninguém dela mais falou”.
Treze anos depois, , em 1º de janeiro de 1913, Martinho Pinto e Rocha Moreira (uma dinâmica dupla,sempre reorganizando), distribuem convites e publicam notícias na imprensa, e fazem nova reunião na sede do “Ateneu Paraense”. Passou a presidi-la o Dr.Luiz Barreiros,e tendo como 1º e 2º séc retários, Martinho Pinto e Manoel Lobato. E foi oferecida a sede da Associação de Imprensa (fundada por Eustáquio, em 1912), para as reuniões acadêmicas, agora, com 40 membros, três dos quais renunciaram suas cadeiras, no início da primeira sessão (Manuel Barata, Eustáquio de Azevedo e Alfredo Souza). Esta segunda fase da APL,também tem vida efêmera. Na revista “A Semana”, de 09.10.1920, Rocha Moreira escreveu sobre o fato:
“A desídia dos acadêmicos matou a Academia, cujo único brilho consistiu na sua sessão de instalação, realizada no recinto da Câmara dos Deputados. Depois, a apatia reinou em torno da agremiação. E, na verdade, nada mais fizeram por ela os 40 acadêmicos”.
Em 1928, quinze anos depois, a 3ª fase: a academia ressurge pelos esforços de Martinho Pinto, Rocha Moreira, auxiliados por Djard de Mendonça, Elmano Queiroz e, então,por Eustáquio de Azevedo, que aceita novamente a cadeira que recusara quinze anos antes !
Em 1931, o silogeu eclipa-se de novo, para reaparecer em janeiro de 1936. Mas, “de agosto de 1937 a agosto de 1940, a nossa academia meteu-se de novo em copas”, no dizer de Eustáquio. Só em dezembro de 1941, re-elege-se (antes, só figuração) nova diretoria, reformando seus estatutos,e aderindo à FALB (Federação das Academias de Letras do Brasil),em nova sessão solene no Teatro da Paz, por ocasião da leitura de um discurso do ditador Vargas à intelectualidade paraense ! Diz-nos Eustáquio de Azevedo, na página 108, de sua “Literatura Paraense”: “A APL é vítima de constantes colapsos, de desfalecimentos periódicos, que não a deixam viver desassombradamente, mas, consta-nos que esse mal ataca também as suas irmãs do norte e do sul do país. É um mal sem cura, infelizmente”.
Após revelar estas manifestações da realidade, digo que as associações de escritores (que se equivalem a sindicatos com a Constituição Brasileira de 1988) são mais descompromissadas com o conservadorismo. Tentam organizar a individualista categoria, lutam pelos direitos autorais, pelos contratos nas edições, pelas amplas liberdades democráticas,etc. São entidades mais arejadas. Aceito-as...
E, desde 1981, talvez antes (em 1977) com, a idéia de cooperativa, estou nesta luta organizacional,e filiei à UBE-SP, dois terços dos paraenses que são sócios. Após fundarmos a seccional paraense , em abril de 1985, da UBE, durante a realização do I Congresso Paraense de Escritores, organizado na sua parte de infra-estrutura pela SECDET, gestão de Acyr Castro (Governo Jáder Barbalho), no Teatro da Paz (2 e 3 de abril mde 1985) quando a categoria lançou publicamente a Carta dos Escritores Paraenses (ver número 7,da Revista da APE, pág.21), quando numa série de cinco artigos, recaptulei mais cinco outros importantes manifestos literários de nosso Estado, e também os publiquei no Diário do Pará,em 1992).
Participei, logo depois,com mais doze colegas, do V Congresso Brasileiro de Escritores, realizado de 17 a 21 de abril, em São Paulo. E, somente em fevereiro de 1986, após um pequeno recesso (no qual se fez poucas reuniões e duas feiras de livros) é que transformamos , de certa forma, e também no Teatro da Paz (após uma ampla reunião na SEMEC,em janeiro quando se instituiu uma comissão para elaborar o antiprojeto estatutário, composta por mim, Ruy Barata, Ronaldo Bandeira, Salomão Laredo e João Carlos Pereira), com 65 escritores presentes, com direito a voz e voto, a UBE-PA, em Associação Paraense de Escritores (A.P.E), na noite de 26.02.1986; registrada legalmente por mim e pelo Agildo Monteiro,em 20.03.1986.
Muitos acham que as associações estaduais descentralizam mais. Mas, esquecem-se do problema pernicioso do bairrismo e do provincianismo. Das quais as seccionais não estão livres, é certo,e muito menos as academias. As associações têm vasto intercâmbio entre si, procurando a vinculação nacional (e, não me preocupo se o centro está em São Paulo – é uma realidade objetiva que faz este eixo cultural – absurdo seria se fosse em Aracaju), atentas ao combate ao caipirismo, ou ao besteirol carioca, ou de qualquer outro lugar, inclusive os daqui da terrinha ! Somente quando aumentar o movimento editorial é que questões mais complexas aflorarão entre os escritores ce os editores, por exemplo. E, uma boa associação deve exigir de seus quadros (de saída, os diretivos) participação mais ativa e constante trabalho intelectual, para estarmos preparados e treinados, com os nossos democráticos debates. Fui filiado ao Sindicato dos Escritores do RJ,desde 1985. Fui eleito três vezes secretário-geral da A.P.E; três vezes, presidente da entidade, a que dei projeção nacional, por vontade dos companheiros, que me viram como bom coordenador, sendo um parlamentarista republicano convicto. Nossa administração fez modernização, desburocratização e mais interiorização da entidade. E, com parcos recursos, levamos o barco !
Creio ter colocado, desta maneira, uma série de questões para um amplo debate cultural. E, expresso-me como cidadão livre e consciente, exercendo sagrado direito, contra os falsos moralismos dos sepulcros caiados da incultura. Lastimando que o jequismo reinante, composto de espertalhões da surdina e bocozinhos, tenha se amuado, e como de praxe, se utilizado de “cortes” nos bastidores... por falta de argumentos: AD PERPETUAM REI MEMORIA
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Luiz Lima Barreiros ( 28.11.2007)
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