MENINOS, EU VI
Uma das coisas mais sensacionais desta vida é que a toda hora estamos tendo surpresas, recebendo notícias e amigos que nos fazem feliz nesta curta caminhada na terra, em busca da casa do Pai.
Eu era apenas um jovem de vinte anos e Santarém, na época, era minúscula. Todo mundo sabia de tudo.
Começou a correr a notícia pelas ruas: Eles pegaram um comunista. Estão levando para a cadeia.
Saí de casa ainda em tempo de ver Benedicto Monteiro desfilar em público, algemado, sujo, maltrapilho sob os olhares curiosos das pessoas.
Elas olhavam para ele com um misto de curiosidade e de espanto. Alguns chegaram até a ensaiar uma vaia.
Afinal de contas, naqueles tempos comunistas devoravam criancinhas.
A primeira idéia que me saiu foi a da figura do Barrabás, naqueles antigos filmes da vida de Cristo, em preto e branco.
Quando ele foi trancafiado na velha delegacia de Polícia, na Siqueira Campos com Travessa Dos Mártires, próximo à igreja Matriz, fui visitá-lo umas duas ou três vezes. Aquele cidadão exercia sobre as pessoas um fascínio diferente, semelhante ao que o Che Guevara causava nas pessoas.
Ele tinha estado escondido por alguns meses, com dois fiéis caboclos, no meio da mata até que – como sempre acontece em ocasiões tais – surgiu um dedo duro e o delatou.
Na terceira vez em que lá estive ele me olhou e apenas sorriu.
Bené pertencia e pertence àquela estirpe de sonhadores que movimentam a história. Seu crime, na época, era simplesmente ser patriota, amar sua pátria de maneira diferente daqueles que estavam no poder.
Os anos se passaram e nos encontramos outra vez na Academia Paraense de Letras.
Ao me ver, após a minha posse perguntou:
Tu és mocorongo? Sim, eu sou aquele jovem que um dia foi te ver no cárcere, Bené.
Ele sorriu e sacudiu a cabeça como se relembrasse o episódio ocorrido há mais de trinta anos.
Vejam como é a vida. Tive a honra de sentar por muitos anos exatamente ao lado dele, nas solenidades da Academia.
Surgiu entre nós uma excelente amizade.
Ele não teve tempo de acabar o prefácio de um livro meu, sobre contos amazônicos.
Não faz mal, amigo. Você foi uma das pessoas mais extraordinárias que já conheci.
Segue em paz para a “outra margem”. Ficamos torcendo por ti neste nosso verde vago mundo”.
Até um dia, querendo Deus.
Uma das coisas mais sensacionais desta vida é que a toda hora estamos tendo surpresas, recebendo notícias e amigos que nos fazem feliz nesta curta caminhada na terra, em busca da casa do Pai.
Eu era apenas um jovem de vinte anos e Santarém, na época, era minúscula. Todo mundo sabia de tudo.
Começou a correr a notícia pelas ruas: Eles pegaram um comunista. Estão levando para a cadeia.
Saí de casa ainda em tempo de ver Benedicto Monteiro desfilar em público, algemado, sujo, maltrapilho sob os olhares curiosos das pessoas.
Elas olhavam para ele com um misto de curiosidade e de espanto. Alguns chegaram até a ensaiar uma vaia.
Afinal de contas, naqueles tempos comunistas devoravam criancinhas.
A primeira idéia que me saiu foi a da figura do Barrabás, naqueles antigos filmes da vida de Cristo, em preto e branco.
Quando ele foi trancafiado na velha delegacia de Polícia, na Siqueira Campos com Travessa Dos Mártires, próximo à igreja Matriz, fui visitá-lo umas duas ou três vezes. Aquele cidadão exercia sobre as pessoas um fascínio diferente, semelhante ao que o Che Guevara causava nas pessoas.
Ele tinha estado escondido por alguns meses, com dois fiéis caboclos, no meio da mata até que – como sempre acontece em ocasiões tais – surgiu um dedo duro e o delatou.
Na terceira vez em que lá estive ele me olhou e apenas sorriu.
Bené pertencia e pertence àquela estirpe de sonhadores que movimentam a história. Seu crime, na época, era simplesmente ser patriota, amar sua pátria de maneira diferente daqueles que estavam no poder.
Os anos se passaram e nos encontramos outra vez na Academia Paraense de Letras.
Ao me ver, após a minha posse perguntou:
Tu és mocorongo? Sim, eu sou aquele jovem que um dia foi te ver no cárcere, Bené.
Ele sorriu e sacudiu a cabeça como se relembrasse o episódio ocorrido há mais de trinta anos.
Vejam como é a vida. Tive a honra de sentar por muitos anos exatamente ao lado dele, nas solenidades da Academia.
Surgiu entre nós uma excelente amizade.
Ele não teve tempo de acabar o prefácio de um livro meu, sobre contos amazônicos.
Não faz mal, amigo. Você foi uma das pessoas mais extraordinárias que já conheci.
Segue em paz para a “outra margem”. Ficamos torcendo por ti neste nosso verde vago mundo”.
Até um dia, querendo Deus.
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jwmnalheiros@hotmail.com
jwmnalheiros@hotmail.com
Um comentário:
Que dupla, Monteiro e Malheiros!
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