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1/26/2009

Cláudio Barradas, 17 anos de sacerdócio



O meu querido amigo e irmão Cláudio de Souza Barradas, completou ontem, dia 25 de janeiro, 17 anos de vida sacerdotal. Acho que vale a pena falar um pouco desse padre. Para tanto, peço – usando o pronome na primeira pessoa - a devida vênia aos leitores deste espaço.
Desde muito jovem acompanho os passos de Cláudio de Souza Barradas. Esse ator e diretor consagrado – com prêmios nacionais e internacionais e um dos principais elementos representativos da arte cênica do Pará – eu o vi pela primeira vez no palco do Teatro da Paz, interpretando o príncipe Omar, da peça Branca de Neves e os Sete Anões, adaptada por Maria Clara Machado, com música e arranjos da professora Maria Luísa Vella Alves, há quase 60 anos.
Quando estava na Folha do Norte, nos primórdios do jornalismo, estive várias vezes em casa de Barradas – ele morava na Rua Tiradentes, próximo da travessa Piedade – em companhia do poeta e ficcionista Eliston Altmann, que dirigia a página literária da Folha, publicada aos domingos na capa do 2º caderno.
Anos mais tarde, dirigindo a ATESC – Associação Teatro-Escola Santa Cruz, entidade ligada à Paróquia de Santa Cruz (Marco), que funcionava ao lado do prédio do antigo Hospital Juliano Moreira – onde hoje está erigido o prédio da Faculdade de Medicina do Estado, - eis que me vejo diante do diretor Cláudio Barradas.
Minha entidade estava participando do planejamento, ensaios, montagem e realização da peça Cristo Total, da irmã Benedita Idefelt (OSC), encenada em pleno regime de exceção, por duas vezes, no Estádio Francisco Vasques, da Tuna Luso Brasileira – por gentileza do diretor Manoel Chipello, de saudosa memória -, e que reuniu mais de cem mil pessoas – um sucesso total – sob os auspícios do Círculo Operário Belenense, e do inesquecível padre Thiago Way. Cláudio, àquela época no SESI, era o responsável pela direção geral.
Daí que a amizade com esse moço admirável frutificou. Tornei-me guru do ator e diretor Cláudio Barradas.
Noviciado - Muito antes disso, Cláudio Barradas já havia freqüentado seminário. Ele tinha 13 anos (atualmente tem 79) quando ingressou na antiga casa de formação da Arquidiocese de Belém – Seminário Nossa Senhora da Conceição – levado por D. Alberto Ramos, que à época era apenas um padre diocesano. Após oito anos, no finalzinho do curso de filosofia, Cláudio Barradas deixou o seminário para o desagrado, não apenas de D. Alberto Ramos, do padre Nelson Soares – que se tornou seu amigo e confessor – como de D. Mário de Miranda Villas Boas, que o tinha escolhido para os estudos complementares de Filosofia e Teologia em Roma, na Universidade Gregoriana.
Cláudio Barradas pintou, bordou, virou, mexeu... andou muito pelas “bocadas” da Rua 13 de Maio, nos anos 60!!!; fez Letras Clássicas, inaugurando a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Pará, sonho do professor Antônio Gomes Moreira Jr., falecido no início de 2000.
Foi o primeiro lugar da turma... também... pudera... sabia Latim de trás pra frente e de frente pra trás! Em seguida abraçou de corpo e alma o teatro, sendo um dos primeiros alunos da Escola de Teatro da UFPa.
Mas nem Deus e nem D. Alberto se esqueceram do brilhante e irrequieto – e já irreverente - seminarista.
Nas horas vagas, Cláudio ajudava às paróquias. Colaborou em São José de Queluz, quando por lá passou o padre David Sá, atualmente afastado do ministério; São Francisco de Assis (Capuchinhos), participando do antigo Grêmio Bento XV – que revelou, entre outros, Assis Filho, advogado, poeta, escritor e ensaísta; e Sant’Ana, do monsenhor Nelson Brandão Soares (aposentado), onde aprendeu tudo sobre música, regência etc, além de integrar a famosa Schola Cantorum e, de quebra, fazia teatro na Igreja duas vezes por ano, na Semana Santa e no Natal.
Quando Nelson foi para a catedral, Cláudio Barradas o acompanhou. Tinha tudo a ver. Naquela Igreja ele foi batizado; onde aprendeu o catecismo; recebeu a primeira eucaristia (ou primeira comunhão, como se dizia até a pouco tempo); foi cruzado e recebeu o sacramento da Crisma de D. Mário. Já aposentado da UFPa. e com o tempo livre, passou a exercer um monte de atividades no Curato da Sé.
O Chamado - Num belo domingo de Páscoa, D. Alberto logo após a celebração do Pontifical, ao desfazer-se dos paramentos sacros, com a ajuda de Cláudio, dirigiu um olhar firme e ao mesmo tempo sereno e paternal ao acólito, e perguntou: “Cláudio, você aceita ser ordenado? Já é tempo, não acha?... Você começaria de baixo, leitor, diácono e depois viriam às demais funções do presbitério até a Ordem, propriamente dita. Não sou eu quero, é Deus que O chama". A pergunta soou para Cláudio Barradas, segundo as suas próprias palavras, como um “chute no saco”. Ele não titubeou, e em lágrimas, disse SIM.
A partir daquele momento tudo mudou na vida desse homem. Deixou de lado a vaidade e os seus muitos títulos mundanos e foi para o Seminário São Pio X, como qualquer outro postulante ao sacerdócio. Como já tinha praticamente todos os créditos necessários, concluiu a parte que faltava de Filosofia e estudou Teologia. Fez o tirocínio na Catedral auxiliando (ainda mais) monsenhor Nelson Soares nas atividades paroquiais.
No dia 25 de janeiro de 1992 foi ordenado lá mesmo na Catedral, sendo nomeado vigário auxiliar. No dia 2 de fevereiro de 1993, D. Zico o designou para a Paróquia de Santa Isabel de Portugal, onde realizou um trabalho pastoral, dos mais edificantes e maravilhosos.
Cláudio Barradas não perdeu tempo e logo no início montou uma equipe de tca. Suas missas eram belíssimas e muito participativas. Tão contagiante foi o seu trabalho que muitos crentes se converteram ou retornaram à fé católica.
Eu estive lá num sábado e posso dar o meu testemunho.
Na ocasião Cláudio confessou que preferia estar junto ao povo humilde do interior, sentindo o cheiro de mato. “Essa gente é mais autêntica.“ Todos o queriam bem, não obstante o seu gênio explosivo... uma das suas características! Mas é inofensivo. É doce,
Atualmente dirige a Paróquia de Cristo Ressuscitado, no bairro Atalaia. E é muito querido.
E nesse domingo , 25 de janeiro, dia da conversão de Paulo de Tarso no caminho de Damasco, dia escolhido por Cláudio Barradas, para a sua ordenação, o meu irmão e amigo completou 17 anos de padre. Oxalá que as palavras de Melchisedeque o acompanhem para todo o sempre, e que ele possa, através das suas virtudes, com o seu valor com a sua inteligência, com o seu teatro e a humildade, trazer muitos servos para a Messe que tanto necessita.
Como disse - Deus e D. Alberto não o perderam de vista.
Detalhe - Cláudio de Souza Barradas teve casa, uma vida sem problemas, fez teatro, e um monte de coisas bonitas que só ele sabe fazer, no campo da cultura e na arte cênica do Pará.
E mais importante : continua sendo um grande amigo de Icoaraci. Muitos atores locais o tiveram como professor na Escola de Teatro da UFPa.
E honram os ensinamentos do Mestre.

Que Deus continue LHE abençoando, meu irmão Claúdio Barradas.

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