Belém do Pará é uma festa para sempre
Segundo noticiou o jornal O Estado de S. Paulo, na sua edição de 2 de agosto, já se encontra nas livrarias americanas uma nova edição, desfigurada, do livro de memórias de Ernest Hemingway (1899-1961), Paris é uma festa, publicado pela primeira vez em 1964, pela Scribner.
A mesma editora põe agora o livro no mercado em edição organizada por Sean Hemingway, neto de Hemingway, que nunca gostou da maneira como sua avó, a jornalista Pauline Pfeiffer, segunda mulher de Hemingway, é tratada no livro. Sean retirou vários trechos do capítulo final e os substituiu por outros escritos de Papa, que retratariam Pauline de maneira mais simpática. Dez outros capítulos foram apenas registrados em um apêndice, resultando, segundo Sean, em “uma representação mais real do livro que meu avô pretendia publicar”.
“Mas é o envolvimento da Scribner com esta versão censurada que deve ser examinado à luz da verdadeira gênese do livro - e da conduta ética da editora” – adverte o Estadão.
Não seria melhor a editora publicar um novo livro, tipo “Capítulos inéditos de Paris é uma festa”, organizado pelo saudosista Sean? Isso tudo cheira a dinheiro. Parentes de celebridades estão sempre atentos para arrancar dinheiro do defunto, de uma forma ou de outra. Esse negócio me lembrou do caso da biografia Sinfonia Minas Gerais: A vida e a literatura de João Guimarães Rosa, tomo de 388 páginas, posto no mercado em 2007, escrito pelo romancista e ensaísta Alaor Barbosa. A filha do grande sertanejo, Vilma Guimarães Rosa, e a Editora Civilização Brasileira, entraram com ação na Justiça do Rio de Janeiro. O juiz Marcelo Almeida de Moraes Marinho, da 24a. Vara Cível do Rio de Janeiro, mandou, em setembro de 2008, a LGE Editora, de Brasília, retirar das livrarias brasileiras, em 24 horas, a primeira biografia publicada sobre o gênio mineiro. O juiz considerou que para alguém publicar algo sobre Guimarães Rosa é necessário obter permissão de Vilma e da Nova Fronteira.
Óbvio ululante que se trata de esperteza.
Alaor Barbosa afirma na sua defesa que as autoras da ação querem garantir reserva de mercado para faturar em cima de Guimarães Rosa. Para o bom entendedor meia palavra basta: “A Editora Nova Fronteira acaba de relançar obra de autoria de Vilma Guimarães Rosa, intitulada Relembramentos: João Guimarães Rosa, meu pai; livro publicado em 1983, com pouco sucesso comercial e que não se configura tecnicamente uma biografia, mas sim um livro que procura mostrar, em sua visão de filha de Guimarães Rosa, quem seria o seu pai, principalmente por meio da transcrição de cartas escritas e recebidas por Rosa ao longo de sua vida.
“Evidente que as autoras da ação se aproveitam do ano de centenário de morte de Guimarães Rosa para, absurdamente, tentarem obter vantagens econômicas; sendo certo que buscam o Poder Judiciário visando a uma espécie de exclusividade em relação à história de um dos maiores escritores brasileiros; história esta cuja importância em muito transcende os laços de parentesco.
“Trata-se, como restará demonstrado, de uma evidente pretensão de apropriação da figura, da vida e da obra de João Guimarães Rosa por parte de uma sociedade editorial de grande porte, que, repita-se, tenta se utilizar do Poder Judiciário para potencializar o seu já notável poderio econômico; buscando, absurdamente, vedar a concorrência.”
Galeno Amorim informou, em maio, no seu blog, que “estava tudo pronto para a Lei das Biografias entrar na pauta da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados, mas os membros da CCJC resolveram adiar por mais cinco sessões a votação do projeto de lei que dá mais liberdade à publicação de biografias de pessoas de interesse público no país, sem riscos de ter que pagar indenizações milionárias para os herdeiros e mesmo serem retiradas de circulação pela Justiça”.
Continua Galeno Amorim: “A proposta, de autoria do deputado federal Antônio Palocci (PT/SP), já tem o voto favorável do relator, José Eduardo Cardozo (PT/SP), e deve ser votada em caráter conclusivo (sem a necessidade de ir a plenário). Se aprovada, segue direto para o Senado, onde também será apreciada em uma única comissão. O projeto nasceu aqui no blog (www.brasilquele.com.br/), no calor da proibição da biografia Roberto Carlos em Detalhes, do jornalista Paulo Cesar de Araújo. Palocci propôs a modificação no Código Civil. O adiamento foi pedido pelo deputado Antônio Carlos Biscaia (PT/RJ), para analisar melhor o projeto”.
Voltando a Paris é uma festa, como toda obra-prima, não importa mais o que se faça com ela, pois tem vida própria. É como certas personagens de ficção, que, de tão nítidas, se tornam de carne e osso e passam a conviver ao nosso lado.
Paris é uma festa é um daqueles livros que abrem incontáveis portas. Uma dessas portas me remete a Belém do Pará. Belém é uma festa permanente, e esse é outro capítulo.
Segundo noticiou o jornal O Estado de S. Paulo, na sua edição de 2 de agosto, já se encontra nas livrarias americanas uma nova edição, desfigurada, do livro de memórias de Ernest Hemingway (1899-1961), Paris é uma festa, publicado pela primeira vez em 1964, pela Scribner.
A mesma editora põe agora o livro no mercado em edição organizada por Sean Hemingway, neto de Hemingway, que nunca gostou da maneira como sua avó, a jornalista Pauline Pfeiffer, segunda mulher de Hemingway, é tratada no livro. Sean retirou vários trechos do capítulo final e os substituiu por outros escritos de Papa, que retratariam Pauline de maneira mais simpática. Dez outros capítulos foram apenas registrados em um apêndice, resultando, segundo Sean, em “uma representação mais real do livro que meu avô pretendia publicar”.
“Mas é o envolvimento da Scribner com esta versão censurada que deve ser examinado à luz da verdadeira gênese do livro - e da conduta ética da editora” – adverte o Estadão.
Não seria melhor a editora publicar um novo livro, tipo “Capítulos inéditos de Paris é uma festa”, organizado pelo saudosista Sean? Isso tudo cheira a dinheiro. Parentes de celebridades estão sempre atentos para arrancar dinheiro do defunto, de uma forma ou de outra. Esse negócio me lembrou do caso da biografia Sinfonia Minas Gerais: A vida e a literatura de João Guimarães Rosa, tomo de 388 páginas, posto no mercado em 2007, escrito pelo romancista e ensaísta Alaor Barbosa. A filha do grande sertanejo, Vilma Guimarães Rosa, e a Editora Civilização Brasileira, entraram com ação na Justiça do Rio de Janeiro. O juiz Marcelo Almeida de Moraes Marinho, da 24a. Vara Cível do Rio de Janeiro, mandou, em setembro de 2008, a LGE Editora, de Brasília, retirar das livrarias brasileiras, em 24 horas, a primeira biografia publicada sobre o gênio mineiro. O juiz considerou que para alguém publicar algo sobre Guimarães Rosa é necessário obter permissão de Vilma e da Nova Fronteira.
Óbvio ululante que se trata de esperteza.
Alaor Barbosa afirma na sua defesa que as autoras da ação querem garantir reserva de mercado para faturar em cima de Guimarães Rosa. Para o bom entendedor meia palavra basta: “A Editora Nova Fronteira acaba de relançar obra de autoria de Vilma Guimarães Rosa, intitulada Relembramentos: João Guimarães Rosa, meu pai; livro publicado em 1983, com pouco sucesso comercial e que não se configura tecnicamente uma biografia, mas sim um livro que procura mostrar, em sua visão de filha de Guimarães Rosa, quem seria o seu pai, principalmente por meio da transcrição de cartas escritas e recebidas por Rosa ao longo de sua vida.
“Evidente que as autoras da ação se aproveitam do ano de centenário de morte de Guimarães Rosa para, absurdamente, tentarem obter vantagens econômicas; sendo certo que buscam o Poder Judiciário visando a uma espécie de exclusividade em relação à história de um dos maiores escritores brasileiros; história esta cuja importância em muito transcende os laços de parentesco.
“Trata-se, como restará demonstrado, de uma evidente pretensão de apropriação da figura, da vida e da obra de João Guimarães Rosa por parte de uma sociedade editorial de grande porte, que, repita-se, tenta se utilizar do Poder Judiciário para potencializar o seu já notável poderio econômico; buscando, absurdamente, vedar a concorrência.”
Galeno Amorim informou, em maio, no seu blog, que “estava tudo pronto para a Lei das Biografias entrar na pauta da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados, mas os membros da CCJC resolveram adiar por mais cinco sessões a votação do projeto de lei que dá mais liberdade à publicação de biografias de pessoas de interesse público no país, sem riscos de ter que pagar indenizações milionárias para os herdeiros e mesmo serem retiradas de circulação pela Justiça”.
Continua Galeno Amorim: “A proposta, de autoria do deputado federal Antônio Palocci (PT/SP), já tem o voto favorável do relator, José Eduardo Cardozo (PT/SP), e deve ser votada em caráter conclusivo (sem a necessidade de ir a plenário). Se aprovada, segue direto para o Senado, onde também será apreciada em uma única comissão. O projeto nasceu aqui no blog (www.brasilquele.com.br/), no calor da proibição da biografia Roberto Carlos em Detalhes, do jornalista Paulo Cesar de Araújo. Palocci propôs a modificação no Código Civil. O adiamento foi pedido pelo deputado Antônio Carlos Biscaia (PT/RJ), para analisar melhor o projeto”.
Voltando a Paris é uma festa, como toda obra-prima, não importa mais o que se faça com ela, pois tem vida própria. É como certas personagens de ficção, que, de tão nítidas, se tornam de carne e osso e passam a conviver ao nosso lado.
Paris é uma festa é um daqueles livros que abrem incontáveis portas. Uma dessas portas me remete a Belém do Pará. Belém é uma festa permanente, e esse é outro capítulo.
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