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8/02/2009

EVANDRO BONNA. Icoaraci e Outeiro não o esquecerão


No domingo passado após a celebração da Missa das sete horas aqui na Matriz de São João Batista e Nossa Senhora das Graças, fui à sacristia para saber alguma novidade sobre a sucessão episcopal de Belém, junto ao Monsenhor Raimundo Possidônio Carreira da Mata – meu irmão, meu pastor e amigo fiel.
Ao me atender disse-me com o semblante carregado: “Hei cara, qual é tua? Tua sabes que o ex-agente distrital, Dr. Bonna, faleceu e tu não destes nada no teu blog? Era não era teu amigo? Tu o endeusavas? Qual é a tua?”
Confesso que fiquei sem graça.
Na verdade - estou com 61 anos - já não estou suficiente preparado para grandes emoções.
Sabia, sim... mas cadê inspiração para escrever? Meus dedos, estavam trêmulos... como digitar?
Mais e-mails pintaram cobrando-me alguma manifestação.
Para falar do Dr. Bonna o espaço do blog não daria.
Ele fez muita coisa por Icoaraci e por Outeiro.
Praticamente deu um novo colorido, uma nova roupagem para a Vila que apelidei de Sorriso... com a sua aprovação.
É bom que se diga.
Tudo bem, vamos lá.

O engenheiro rodoviário EVANDRO SIMÕES BONNA, 78, era casado com a senhora Mízar Klautau Bonna, tinha seis filhos. Um deles, o mais velho, é Mauro César Klautau Bonna, administrador e jornalista. Do Diário do Pará, que todos conhecem.
Era Diretor Benemérito do Círio de Nazaré 2009, juntamente com Arnaldo Pinheiro. Gelson Silva, Gleidson Dias de Figueiredo, Oswaldo Diniz Mendes - cuja festividade serviu por muitos anos.
Bonna – pertencia aos quadros do Serviço Municipal de Estradas de Rodagem (SMER), e foi o seu último diretor. Em sua gestão, o SMER transformou-se no Departamento Municipal de Estrada de Rodagem (DMER) graças à Reforma Administrativa planejada pelo engenheiro civil Fernando Leão Guilhon, do Quadro de Funcionários do DER/PA. Essa reestruturação foi aprovada pelo Decreto no. 4385, de 27 de novembro de 1959, sancionado pelo Prefeito Municipal, em exercício, advogada e professora Alice Antunes.
O DMER existiu até a gestão do prefeito Sahid Xerfan quando foi transformado na Secretaria Municipal de Saneamento/Sesan) - 31 de dezembro de 1989 - durante a administração o engenheiro civil Luís Roberto Horácio Freire
Icoaraci

A ligação de Evandro Bonna com Icoaraci vêm desde 1968, quando o médico e ex-deputado federal Stélio Maroja, escolhido pelo Governo Revolucionário para a Prefeitura de Belém, o indicou para a Agência Distrital de Icoaraci. O nosso grande desaparecido substituiu o “subprefeito” Fernando Ferreira Braga, oficial do Exército da Reserva.
Bonna estudioso, idealista, empreendedor por natureza, de senso muito prático disse para algumas pessoas iria mudar Icoaraci. Empossado em meio a uma grande festa, reuniu-se com todas as lideranças para uma “conversa informal” e traçar um planejamento de trabalho; além de manter contato com as lideranças dos bairros e distritos para conhecer de perto os problemas dessas comunidades.
Nessas alturas a Agência Distrital estava instalada em duas salas nos altos do mercado municipal.

Iº Centenário
Em maio surgiram rumores de que no ano seguinte – 1969 -, no dia 8 de outubro, Icoaraci completaria 100 anos de existência. Evandro Bonna mandou apurar direitinha a estória.
Tão logo tomou posse do cargo sua primeira atitude foi procurar saber quem era quem na Vila Cidade. De posse dos nomes criou a Comissão Coordenadora do I Centenário de Icoaraci e convidou algumas pessoas para dela fazerem arte. A Comissão foi constituída por Alfredo Coimbra, Bento Castro (falecido), Evandro Cunha, Helio Amanajás (falecido), Holderman Rodrigues, Ivo Araújo (falecido), Orlando Cunha, Rodolfo Tourinho (falecido), Salustiano Vilhena Filho, “Chefe Salú” (falecido), e este repórter que à época, assinava uma página dominical na Folha do Norte, - “O Liberal” da época, ou seja, o jornal de maior circulação em todo o Estado, norte/nordeste, com uma tiragem comprovada de 40 mil exemplares/dia e 60/80 aos domingos.
A Comissão foi tornada oficial por ato do prefeito Stélio Maroja; e começou a funcionar a partir de 17 de outubro de 1968. Sua função era, juntamente com o agente distrital, Evandro Bonna, o presidente - organizar um ano de comemorações dos 100 anos de Icoaraci.
Reunia-se todas as quartas-feiras, à noite, na residência oficial, do “subprefeito” de Icoaraci que funcionava no prédio onde hoje a Funpapa mantém um abrigo para jovens delinqüentes, retirados das ruas, em vias de recuperação, na Rua Manoel Barata, em frente à Vara Distrital de Icoaraci.
É o Abrigo Ronaldo Araújo.

Hino do Iº Centenário

No início de dezembro, a Comissão foi procurada pelo empresário Francisco Pires Cavalcante que era proprietário da Empresa de Águas Nossa Senhora Nazaré, em Maracacuéra, atual Indaiá; compositor, oficial de marinha reformado, músico (tocava requinta, uma espécie de flauta, nas bandas de música das unidades onde serviu), natural de São José das Piranhas, sertão da Paraíba - mas apaixonado pela "Cidade das Mangueiras" havia muitos anos -, e que embora morasse em Belém, possuía uma bela residência na Travessa Souza Franco, próximo à Rua Siqueira Mendes, 1ª rua de Icoaraci.
Na época era famoso por ser o criador do Hino do Payssandu Sport Clube (Uma listra azul, outra listra azul...) que todos conhecem.
Pires apresentou a todos uma partitura com a letra de um hino que havia criado para o Iº Centenário de Icoaraci; e cantou dedilhando um violão.
Os membros da Comissão acharam-na interessante e pediram que retornasse em janeiro com o hino gravado com letra e música, etc.
Ele assim o fez.
Trouxe o hino gravado em cassete. Todos aprovaram. Pires Cavalcante disse que não queria nada em troca. Apenas que a sua criação se tornasse o Hino Oficial do Iº Centenário, além de uma ajuda da Prefeitura para a produção do disco. As demais despesas, editoria, intérprete, pagamentos de direitos de execução, conexão, etc, ficariam por sua conta.
Era o seu presente para Icoaraci.
A Prefeitura de Belém bancou parte da produção. Eu, juntamente com Ivo Araújo, fui designado para acompanhar as diversas fases de produção.

Compacto simples
As gravadoras do Rio e São Paulo, além de botarem dificuldades na gravação e prensagem do compacto simples (era o chique da época) cobraram muito caro.
Pires Cavalcante descobriu uma gravadora de jingles em Belo Horizonte (a Bemol) que, mesmo com o equipamento inferior ao das grandes gravadoras, se ofereceu para produzir o disco.
Todas as atenções se voltaram para Belo Horizonte e, em 40 dias, exatamente no dia 15 de marco, saiu o disquinho com duas musicas. De um lado, o Hino de Icoaraci; e do outro, Vila Modesta – um sambossa que enaltece Icoaraci - do próprio Pires Cavalcante e de Clodomir Colino, radialista famoso na época, professor e ex-vereador, já falecido.
Foram prensadas 2000 copias. Mil por conta da Prefeitura. As outras mil por conta do Pires. O cantor Luiz Olavo (falecido há cinco anos) foi o intérprete do hino.
Pires Cavalcante, sempre modesto, não quis festa de lançamento; todavia, o seu pedido não foi atendido. O lançamento oficial ocorreu em meio a um coquetel na sede do Pinheirense, com a presença do Conjunto de Guilherme Coutinho (falecido), e um dos mais importantes da época.
Pires Cavalcante ainda vive, graças a Deus. Aos 83 anos, lúcido, inteligente e bom papo, ainda compõe.
De tanto rodar nas rádios o Hino de Icoaraci ficou famoso. Rodou até n’A Voz da América, graças ao empenho de Roberto Rodrigues – jornalista e radialista, já falecido, e correspondente daquela emissora americana, durante o programa Tributo a Icoaraci, produzido pelo próprio RR e apresentado pelo locutor Pedro Américo. O programa foi ao ar pelas ondas curtas d´A Voz da América, (25 metros) no dia 04 de julho de 1969, às 22 horas.

Trabalho

Bonna pediu à equipe escolhida que apresentasse sugestões e um planejamento de trabalho para Icoaraci, cuja jurisdição, ia da corrente da Base Aérea - que não mais existe - até quase ao Tapanã e São Clemente e áreas conhecidas. Elas atualmente integram o Distrito Administrativo do Benguí -, além de Cotijuba, ilhas próximas e Outeiro, onde havia um supervisor indicado pelo agente distrital e nomeado pelo prefeito.
Realmente, naquele ano (1969) todos os meses havia algum evento. Em fevereiro o Carnaval (ainda na Rua Dr. Manoel Barata, em frente a Agencia Distrital) foi o mais deslumbrante de todos os tempos.
Além das agremiações locais, contou com a presença da Escola de Samba Quem São Eles e do Rancho Não Posso Me Amofina; em março foi lançado o compacto simples como o Hino do I Centenário; Em abril foi inaugurado o serviço de travessia em balsas para o Outeiro (que antes era feito por barquinhos) com a construção de uma rampa na Rua 2 de dezembro; em maio deu-se o Baile das Debutantes do I Centenário na sede social do Pinheirense Sport Clube; Em junho foi inaugurado o Serviço Autônomo de Água e Esgotos de Icoaraci. Há dois meses o SAAEB completou 40 anos. A cerimônia teve presença do Dr. Evandro Bonna. Foi a última vez que a oportunidade de rever e abraçar o amigo. Ainda em junho a quadra junina atingiu toda Icoaraci e Outeiro e revelou o Boi Bumba Pingo de Ouro – que infelizmente não mais existe) e o Grupo Leão Dourado, do Km. 23, da rodovia Augusto Montenegro; em julho ocorreu a Operação Especial Icoaraci-Outeiro do Projeto Rondon – com a minha participação como Acadêmico de Direito - que praticamente redescobriu as ilhas de Caratateua e Cotijuba.

Concurso
Ainda em agosto foi lançado entre as escolas icoaracienses o concurso de desenhos e motivos para o futuro monumento do centenário; em setembro, a parada escolar foi uma das maiores que se tem noticia na Vila Sorriso, com a participação de todos os estabelecimentos de ensino da Icoaraci, Outeiro e arredores; mais, as bandas marciais dos Colégios Augusto Meira, Paes de Carvalho e Magalhães Barata e do Instituto Lauro Sodré,
Monumento/Baile

No dia 8 de outubro -, há 40 anos atrás, a festa começou cedo. Após a Missa celebrada pelo Monsenhor Jose Maria Azevedo, às 10 horas Stélio Maroja, Evandro Bonna e os componentes da Comissão Coordeadora do Centenário inauguraram o monumento do Iº Centenário de Icoaraci no inicio da Praça Paes de Carvalho, ao lado da Igreja de São João Batista. Concebido e desenvolvido pelo próprio Evandro Bonna - era um obelisco de 30 metros de altura em forma ogival recortado - como se fora duas mãos postas em direção ao céu, numa atitude de oração.
No alto havia a marca do evento em concreto reforçado: duas rodas dentadas acopladas e cortadas por uma linha horizontal. No centro da primeira havia uma linha vertical simbolizando o numero 1 – do primeiro centenário – estilizado, e duas rodas perfazendo o número 100. O desenho – aprovado pela Comissão, após concurso realizado nas escolas icoaracienses – foi de autoria de um estudante do 3º ano ginasial do Colégio Estadual Avertano Rocha.
No rodapé do monumento havia a seguinte inscrição em bronze: "Aos que nos antecederam agrademos o trabalho; à posteridade, com orgulho entregamos os alicerces da grande Icoaraci do futuro”. Frase de autoria de Evandro Bonna – sem duvida, o maior ”subprefeito”, ou melhor, agente distrital que Icoaraci já teve nesses últimos 40 anos.
O aludido monumento foi deslocado para a Praça Paes de Carvalho, diminuído de tamanho, e foi esquecido. Infelizmente..
À noite, do dia 8 de outubro de 1969, ocorreu o grande Baile de Gala do I Centenário de Icoaraci, no Salão Paroquial Padre Theodoro Kokke, atrás da Matriz de São João Batista – gentilmente cedido pelo monsenhor José Maria Azevedo – com o Conjunto de Guilherme Coutinho, também falecido - e um dos mais importantes da época, ao lado do conjunto Sayonara – tendo como atração a cantora Joelma - sucesso da época - que arrasou; além da apresentação da Rainha do Iº Centenário, a senhorita Antinéia Kátia dos Reis Puga.
Conclusão
Os festejos do centenário prolongaram-se. O Círio de Nossa Senhora das Graças de 1969 teve a presença do prefeito Stélio Maroja que o acompanhou em toda sua totalidade, do arcebispo D. Alberto Ramos e do governador Fernando José de Leão Guilhon (falecido) que recebeu a imagem da Santa no final do préstito junto com monsenhor Azevedo e D. Alberto Ramos.
No dia 28 de dezembro de 1969, o prefeito Stélio Maroja - por sugestão de Evandro Bonna - e condecorou os membros da Comissão Coordenadora do Iº Centenário com a Medalha dos 350 anos de Belém.
Em novembro Bonna negociou com o Pinheirense a aquisição pela Municipalidade de uma área na Rua Manoel Barata, Ele projetou e deu início à construção do prédio da Agência Distrital. O prédio foi concluído dois anos após (1971) na administração do major/aviador Rolando Chalu Pacheco, sendo prefeito Nélio Dacier Lobato.
Os festejos do Iº Centenário foram encerrados com uma grande festa popular na Praça da Matriz, no dia 31 de dezembro de 1969.
Evandro Simões Bonna não mais existe; mas o povo de Icoaraci e Outeiro lhe devem muito. Pelo seu trabalho, pela sua inteligência e criatividade e pelas iniciativas arrojadas que tornaram Icoaraci... a minha/nossa (não é Dr. Bonna?) Vila Sorriso, mais alegre e feliz.
Que falta ele fará nos 140 anos de Icoaraci.

Desculpe-me atraso, amigo...

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