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3/07/2009



Seu sexo cheirava a rosas e sua pele tinha a contextura de seda chinesa do século dezenove. Sua boca era grande e estava sempre sorrindo, um riso jovem e cristalino, como só as ninfetas mais puras podem emitir, e o início da noite era um rio de perspectivas.


Há um momento em que, aparentemente, perdemos tudo, e nos sentimos cair no vazio, que, além de vazio, é pegajoso. Tentamos nos agarrar nas paredes do vazio até compreendermos que não há paredes. Mas se compreendemos que a queda é um paradoxo paramos de nos debater e respiramos.


As possibilidades, no Conjunto Nacional, são infinitas, ainda mais em março, quando o ano começa. Passo sempre na Livraria Sodiler. O La Selva, grupo que comprou a Sodiler, deverá distribuir meu livro O casulo exposto às suas 60 livrarias, em março. As livrarias Leitura de Brasília já o têm. Vi-o na Leitura do Conjunto Nacional. Almoço no restaurante Viva Brasília! A tarde chega como o pulsar da música de Mozart, trazendo perfume e tênue cheiro de maresia, embora estejamos tão longe do mar. Contudo a dimensão da tarde, não importa aonde chegue a tarde, contém o mar.


Este conto foi extraído do meu último livro, O casulo exposto, composto de 17 histórias curtas ambientadas no submundo de Brasília, inclusive político. Se você o procurou na sua livraria predileta e não o encontrou, avise ao seu livreiro que pedidos devem ser feitos à LGE Editora (www.lgeeditora.com.br), ao editor Antonio Carlos Navarro (55-61) 3362-0008/lgeeditora@lgeeditora.com.br. Em Brasília, O casulo exposto já está à venda na rede de livrarias Leitura.


Meu posto ficava a meia dúzia de metros dela, permitindo-me percorrer com o olhar a jovem mulher impunemente e sem pressa. Já disse que seus olhos eram como o Atlântico e o Pacífico, e sua pele, rosada, tinha a contextura das pétalas das rosas ao orvalho e ao sol.


A Rodoviária do Plano Piloto, o coração de Brasília, é tratado pelo governo do Distrito Federal como uma pocilga. Mesmo assim, é infinitamente melhor do que a Rodoferroviária, que recebe e despacha ônibus interestaduais. Na Rodoferroviária, os banheiros fedem a podre e o prédio lembra ruínas, e seu subsolo é uma câmara de gás, pois a fumaça de velhos ônibus é excessiva e os exaustores não funcionam.


A Hiléia é como a menina de Abaetetuba, atirada em uma cela com dezenas de bandidos perigosos, durante um mês, estuprada e torturada dia após dia. Delegados, inclusive uma delegada, até uma juíza de direito, e toda a cidade, sabiam da ignomínia que se cometia naquele pântano humano. No fim, os policiais justificaram sua loucura alegando que a criança se oferecia aos presos, e que era débil mental. A governadora do Pará, Ana Júlia Carepa, achou tudo natural.


Nós, brasileiros, somos mesmo colonizados, até hoje. No Congresso Nacional, sede do parlamento brasileiro, em Brasília, o uniforme é o do velho colonizador - paletó e gravata. Nossas Havaianas, bermudas e camisetas só imperam nas cidades de praias. A propósito, apesar de possuirmos as melhores praias do planeta, muita gente sonha com os pedregulhos e areia grossa da Grécia, ou com os balneários frios, mas badalados, do Mediterrâneo e da Península Ibérica.


Acordo, às vezes, de madrugada, o coração disparado, pois no sonho fui atacado por um leão, ou perdi a mulher amada. O melhor de tudo é quando sonho com rosas vermelhas colombianas. Sei, então, que o dia seguinte será ensolarado, e que a mulher amada dirá que me ama.


Nem os ratos que te conspurcam os seios, que te assaltam, que te depredam, que te estupram, te derrotarão. Não derrotarão tua beleza, nem emporcalharão tua dignidade, nem tua história de guerras, nem diminuirão tua glória, Belém. O amor que tantos sentem por ti te eterniza.

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