CRÔNICA
Em 2008, só nos resta relaxar e gozar
Brasília (12 de fevereiro) – Diz-se que o ano recomeça depois do Carnaval. Na semana seguinte, estudantes enfeitam as ruas e o movimento na Rodoviária do Plano Piloto aumenta visivelmente, quando 400 mil brasilienses transitam por ali, todos os dias. É verão no Hemisfério Sul, mas já não chove em Brasília. A temperatura oscila em torno de 25 graus; o calor parece maior devido à secura do ar.
Brasília (12 de fevereiro) – Diz-se que o ano recomeça depois do Carnaval. Na semana seguinte, estudantes enfeitam as ruas e o movimento na Rodoviária do Plano Piloto aumenta visivelmente, quando 400 mil brasilienses transitam por ali, todos os dias. É verão no Hemisfério Sul, mas já não chove em Brasília. A temperatura oscila em torno de 25 graus; o calor parece maior devido à secura do ar.
À caminho do Congresso, paro no Conjunto Nacional, um shopping, com esse nome horroroso, ao lado da Rodoviária do Plano Piloto e defronte ao Teatro Nacional. À noite, a fachada do Conjunto Nacional remete-me ao filme O Caçador de Andróides, de Ridley Scott. Almoço no restaurante Torre de Pisa, onde se pode comer peixe frito em conta e decente. É cedo e a praça de alimentação do shopping ainda não lotou. O jornalista Arthur Herdy, grande conhecedor da fauna brasiliense, chama a essa praça de alimentação, à noite, de “praça do pau mole”, pois fica cheia de aposentados, muitos dos quais, militares, que suspiram relembrando seus bons tempos de ditadura.
Às vezes, tomo meu habitual espresso (com ésse mesmo) no Café Doce Café, situado no átrio central do shopping. O espresso de lá é horrível, de puro robusta, de modo que peço um curto, mais encorpado e fácil de ser tragado. O bom do Café Doce Café é que se trata do melhor posto de observação. Brasília é uma cidade cheia de mulheres estonteantes e seus shoppings, passarelas delas. Do meu posto, observo-as, lindas e inacessíveis, como algumas mulheres que só vemos nos grandes aeroportos, de madrugada. São, para mim, um exercício ao escritor. Aquela é da Amazônia – farejo, sentindo no coração, de repente, a brisa de jasmim em noite tórrida e maresia que as antecedem.
Às vezes, encontro conhecidos. Outro dia, encontrei o Danúbio Rodrigues, tradutor para a Editora Record do romance Ninguém Escreve ao Coronel, de Gabriel García Márques. Danúbio é um jornalista veterano, leitor ávido, um bom papo. Estendo a estada no café. Outro que já encontrei foi o escritor Áureo Mello, que trata uma personagem que criei, no conto Inferno Verde, o sinistro Cara de Catarro, como se fosse alguém vivo. Do Café Doce Café estico até a Livraria Sódiler, para ver os últimos best-sellers.
Chega um momento em que a vagabundagem, que me ajuda a carregar as baterias da criação, precisa ser encerrada. Sigo, então, para a Comissão de Meio Ambiente da Câmara, para quem presto, no momento, assessoria de imprensa. Os corredores e subterrâneos do Congresso Nacional estão quase vazios. A farsa, este ano, ainda não começou, embora há uma semana do Carnaval.
Falar em Carnaval, aos amapaenses ainda eufóricos com os quinze minutos de fama nas asas da Escola de Samba Beija-Flor, que cantou as bacabas do Amapá no Sambódromo, resta pagar a dinheirama que o governador do Amapá, Waldez Góes (PDT), e o prefeito de Macapá, João Henrique Pimental (ex-PT), ambos atolados em uma piscina de corrupção, deram ao bicheiro Aniz Abrahão David, presidente da escola bicampeã do Carnaval carioca.
De modo geral, a nós, amazônidas, 2008, como 2009 e 2010, nos reserva Lula, que não coaxa sério, e a Amazônia continuará sendo arrasada. Assim, só nos restará seguir a orientação da ministra do Turismo, Marta Suplicy: relaxar e gozar.
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