Ser dono de restaurante não é fácil. Ainda mais quando se acumula compras, administração e cozinha. Em apenas dez dias de funcionamento, perdi seis quilos. Também pudera. Dormir uma e acordar às cinco! Mas não tenho do que me queixar. Graças aos amigos e conhecidos a casa vive cheia.
Desde a mais tenra idade, a culinária me atrai. Já nem lembro quando isso começou. Creio que foi no Rio, ao ver minha mãe preparar às pressas a merendeira pro colégio (naquele tempo era assim). Na primeira vez em que estive em Belém, me encantei com os sabores daqui. As frutas, os peixes, matizes, cheiros, cores... Tudo! Vim pra ficar uma temporada e jamais retornei. Quem leu 'A Montanha Mágica' (inesquecível narrativa de Thomas Mann) entenderá o que digo. Faço um breve interregno para provocar os leitores. Pago uma prenda pra quem adivinhar o rumo da prosa, o mote da crônica.
Falava sobre comida. Pois é. Segundo meu amigo Edson Salame, já tentei ser, fazer quase tudo. Bombeiro, médico, mascate, ourives, moveleiro, livreiro, cronista (creio que ainda sou) e agora, a duras penas, consegui realizar meu maior sonho: abrir meu próprio restaurante. Na verdade, um pequenino, acanhado, porém charmoso restaurante.
Como dizia Drummond: no caminho tinha uma pedra. No meu, pedreiras. Às vésperas da inauguração, a grana escasseando, a luz pifou. Em seguida, após uma chuvarada, a água descia aos borbotões pela parede recém pintada. Não bastasse tudo isso, o marceneiro fez forfait e não entregou todas as cadeiras. Na quinta, a maior zebra: a porta de blindex espatifou-se. Ëgua da pissica! Teimoso é quem teima comigo. Substitui o vidro por uma chapa de compensado, ameacei de morte o eletricista, o engenheiro, o marceneiro e convoquei a família para o teste drive. Na medida do possível, deu tudo certo. Cozinhar não tem mistério. Ingredientes de qualidade, ambiente aconchegante... E o principal: carinho e temperos na dose certa. Enquanto a família degustava um dos pratos do elaborado menu, um casal adentrou no recinto: está funcionando?
Surpreso, gaguejei: tá...
Entraram e se aboletaram. Como não tinha contratado garçom, fiz as honras da casa. -Vão beber o que? Eu estava com a geladeira, a adega, repleta de refrigerantes, vinhos, destilados, licores... Tudo! Quase tudo.
- Queremos água.
- Água? E não é que eu tinha esquecido de comprar o H2O? Marinheiro de primeira viagem é flórida! Foi um corre-corre danado. Antes mesmo que eu tomasse uma atitude, minha dileta gerente partiu célere até a padaria da esquina e adquiriu o precioso liquido. Passado o susto, assumi a cozinha. Crostines torrados, pasta de gorgonzola, azeitonas temperadas de entrada. Saladinha verdíssima, um suculento filé à moda do chefe, arroz maluco, torta de banana da Néia, cafezinho fresquinho. Acho que eles gostaram. Como eu sei? Simples, muito simples. Os pratos retornaram sem um bago de arroz. Beleza.
Ao entregar a dolorosa me desculpei e indaguei o nome do meu primeiro freguês.
- Tava tudo ótimo! Chamo-me Gilberto Cavalcante Guimarães.
Uau! Meu primeiro cliente era homônimo do meu amado primo Gilberto Guimarães, brilhante advogado, precocemente desaparecido. Pensei com meus botões: é muita coincidência.
Do dia em que abri as portas até o dia de hoje, todas as 12 mesas estiveram repletas. Na sexta passada, aconteceu a missa de 3 meses do meu primo. Para minha surpresa, levado pelo tio Mauro, surgiu um adolescente tímido – era o Gilbertinho. Tomou uma coca-cola, traçou uns pastéis e enfurnou-se na livraria.
Tem coisa melhor?
Desde a mais tenra idade, a culinária me atrai. Já nem lembro quando isso começou. Creio que foi no Rio, ao ver minha mãe preparar às pressas a merendeira pro colégio (naquele tempo era assim). Na primeira vez em que estive em Belém, me encantei com os sabores daqui. As frutas, os peixes, matizes, cheiros, cores... Tudo! Vim pra ficar uma temporada e jamais retornei. Quem leu 'A Montanha Mágica' (inesquecível narrativa de Thomas Mann) entenderá o que digo. Faço um breve interregno para provocar os leitores. Pago uma prenda pra quem adivinhar o rumo da prosa, o mote da crônica.
Falava sobre comida. Pois é. Segundo meu amigo Edson Salame, já tentei ser, fazer quase tudo. Bombeiro, médico, mascate, ourives, moveleiro, livreiro, cronista (creio que ainda sou) e agora, a duras penas, consegui realizar meu maior sonho: abrir meu próprio restaurante. Na verdade, um pequenino, acanhado, porém charmoso restaurante.
Como dizia Drummond: no caminho tinha uma pedra. No meu, pedreiras. Às vésperas da inauguração, a grana escasseando, a luz pifou. Em seguida, após uma chuvarada, a água descia aos borbotões pela parede recém pintada. Não bastasse tudo isso, o marceneiro fez forfait e não entregou todas as cadeiras. Na quinta, a maior zebra: a porta de blindex espatifou-se. Ëgua da pissica! Teimoso é quem teima comigo. Substitui o vidro por uma chapa de compensado, ameacei de morte o eletricista, o engenheiro, o marceneiro e convoquei a família para o teste drive. Na medida do possível, deu tudo certo. Cozinhar não tem mistério. Ingredientes de qualidade, ambiente aconchegante... E o principal: carinho e temperos na dose certa. Enquanto a família degustava um dos pratos do elaborado menu, um casal adentrou no recinto: está funcionando?
Surpreso, gaguejei: tá...
Entraram e se aboletaram. Como não tinha contratado garçom, fiz as honras da casa. -Vão beber o que? Eu estava com a geladeira, a adega, repleta de refrigerantes, vinhos, destilados, licores... Tudo! Quase tudo.
- Queremos água.
- Água? E não é que eu tinha esquecido de comprar o H2O? Marinheiro de primeira viagem é flórida! Foi um corre-corre danado. Antes mesmo que eu tomasse uma atitude, minha dileta gerente partiu célere até a padaria da esquina e adquiriu o precioso liquido. Passado o susto, assumi a cozinha. Crostines torrados, pasta de gorgonzola, azeitonas temperadas de entrada. Saladinha verdíssima, um suculento filé à moda do chefe, arroz maluco, torta de banana da Néia, cafezinho fresquinho. Acho que eles gostaram. Como eu sei? Simples, muito simples. Os pratos retornaram sem um bago de arroz. Beleza.
Ao entregar a dolorosa me desculpei e indaguei o nome do meu primeiro freguês.
- Tava tudo ótimo! Chamo-me Gilberto Cavalcante Guimarães.
Uau! Meu primeiro cliente era homônimo do meu amado primo Gilberto Guimarães, brilhante advogado, precocemente desaparecido. Pensei com meus botões: é muita coincidência.
Do dia em que abri as portas até o dia de hoje, todas as 12 mesas estiveram repletas. Na sexta passada, aconteceu a missa de 3 meses do meu primo. Para minha surpresa, levado pelo tio Mauro, surgiu um adolescente tímido – era o Gilbertinho. Tomou uma coca-cola, traçou uns pastéis e enfurnou-se na livraria.
Tem coisa melhor?
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