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4/12/2008

BELÉM
Três pré-candidatos lideram corrida para maior cidade da Amazônia

Brasília - Três pré-candidatos lideram em consultas informais, encomendadas por partidos, para prefeito de Belém, a maior cidade da Amazônia: o atual prefeito, Duciomar Costa (PTB), o Dudu; o ex-prefeito Edmilson Rodrigues (Psol), que administrou a capital paraense de 1997 a 2004; e o ex-governador tucano Simão Jatene. Contra Dudu e Edmilson Rodrigues pesa o fato de que, nas mãos deles, Belém piorou. Está mais fedorenta e poluída. Obras como o Hangar, a Estação das Docas e o Mangal das Garças foram assinadas pelos tucanos, que ocuparam o governo do estado de 1994 a 2006 e o tiraram da Idade Média.

Só para se ter uma idéia, antes do PSDB, menos da metade dos municípios contava com luz elétrica; os tucanos eletrificaram todos os 143 municípios do estado. Quando chegaram ao poder, Manaus, a capital do Amazonas, tornara-se mais cintilante que Belém; os tucanos corrigiram o desvio e devolveram a Belém seu destino histórico de porta de entrada da Amazônia. No PSDB, é grande a pressão sobre Simão Jatene, pois a prefeitura de Belém é estratégica para a retomada de poder dos tucanos, em 2010.
A petista Ana Júlia Carepa, que sucedeu o ex-governador Simão Jatene, logo suscitou, nos paraenses, saudades dos tucanos. Para não ir longe e pinçar apenas a questão mais recente, a incompetência do governo petista no caso de Tailândia é inacreditável. Sitiada por forças federais e estaduais, cerca de 8 mil madeireiros ficaram desempregados da noite para o dia, numa cidade que vive da madeira, tudo porque o governo do estado não desengaveta centenas de projetos de manejo e não fiscaliza, obrigando os madeireiros a trabalhar na clandestinidade. Tailândia é um três por quatro do Pará atual.
CAVALO MORTO NA CHUVA - Quanto a Belém, a grande obra que a cidade exige é seu saneamento, basicamente redes de esgoto e de águas pluviais, matas ciliares e limpeza dos igarapés, e usina de tratamento de lixo. Isso é possível, e necessário. Decente, porém.
Amanhece na península belenense, banhada pelo rio Guamá. No Ver-O-Peso, a maior feira da Amazônia Continental, o formigueiro humano vai se assanhando, à medida que o sol incendeia Belém. Uma mendiga, obesa, dorme ainda num banco de praça, inteiramente nua. O trânsito, nem bem a manhã começa, já é incontrolável. Quase todo mundo buzina, xinga, com palavrões impublicáveis, as mães dos outros motoristas, enquanto automóveis importados seguem fora da faixa. Os pedestres precisam ter muito cuidado, pois, ao desviar-se de um carro, pode-se ser atropelado por ciclistas, que são muitos, silenciosos e andam na contramão.
Se é dezembro, mangas caem nos calçadões esburacados, no teto dos automóveis e na cabeça dos pedestres. Mangueiras também caem. Algumas são podadas só de um lado. Carregadas de mangas nos galhos do outro lado e açoitadas pela chuva não resistem às tempestades que vergastam a cidade e tombam, como gigantes caídos.
Ao meio-dia, a urbe imerge num caldeirão fervente. As sarjetas exalam o odor mefítico de esgotos estrangulados, expelindo fezes, que escorrem ao lado das bancas de tacacá, maniçoba e picadinho. Alguns trechos do calçadão da Avenida Presidente Vargas fervem, literalmente. Então, chove. Chuva do Trópico Úmido. Grossa, interminável, chicoteada por correntes de vento. A cidade se afoga. Lembra um cavalo morto na chuva. Na manhã seguinte, o cavalo apodrece ao sol de 40 graus e à chuva da tarde, que, como o sol, cumpre seu ciclo diário na linha imaginária do Equador. O cavalo morto incha. Sua barriga ameaça explodir, exibindo as vísceras.
Numa madrugada qualquer, num subúrbio qualquer, um automóvel com três homens e duas mulheres chocou-se contra uma passarela. As mulheres morreram. Uma delas estava grávida e agonizou durante algum tempo. Enquanto agonizava, o carro foi depenado. Há ruas, em Belém, onde, se um carro der prego, à noite, os passageiros serão mortos e pilhados. A vida, na periferia, logra sobreviver apenas por instinto. Não há escopo moral, não há dignidade, não há redenção, mas somente fome, estupro, assassinato - a escuridão da miséria e da ignorância.
E, assim, a Cidade das Mangueiras, a mais inchada das cidades da Amazônia, exala, na canícula, o odor adocicado e pútrido de cavalo morto na chuva, estourando de inchado, devorado por bactérias, vermes e urubus. Os portugueses criaram a cultura do privilégio (sou amigo do rei); os africanos, da magia (o pai-de-santo resolve); e os índios são preguiçosos – afinal, peixe salgado, pirão de açaí, chibé, calor e Skol pesam no bucho. Mas, a partir de primeiro de janeiro de 2009, tudo mudará para nada mudar.

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