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12/20/2008

Morre ISAAC SOARES. Orm estão de luto


Família Mariorana lamenta morte e anuncia continuidade da coluna

Belém amanheceu de luto. Morreu ontem às 18h30, vítima de uma infecção generalizada, o colunista Isaac Soares, de 84 anos. Ele estava internada havia dez dias no hospital da Beneficente Portuguesa, em Nazaré. 'Tigrão', como era conhecido, se foi deixando para uma legião de amigos e familiares saudosos. Por ser Judeu não haverá velório. O corpo ficará na Comunal Israelita, uma sinagoga localizada na travessa 9 de Janeiro, de onde sairá, no domingo às 10 horas, em direção ao cemitério judeu do Tapanã.
Ao ser informado sobre a morte de Isaac Soares, o presidente-executivo das ORM, jornalista Romulo Maiorana Júnior, manifestou seu pesar sobre a 'perda do ícone do colunismo social' e informou que a coluna continuará a ser publicada no jornal O Liberal, mas com novo nome de 'Coluna do Tigrão' em homenagem ao colunista. 'Isaac Soares era um homem simples, carinhoso, sincero e extremamente bondoso. Ele nunca usou o espaço de sua coluna para falar mal de alguém, em sua coluna só há espaço para fazer o bem. Sua perda deixa um enorme vazio em nossos corações. Nos corações de toda a família das ORM, pois todos que o conheceram sabiam o homem íntegro e correto que nunca deixou de ser', destacou.
Romulo Maiorana Júnior se emocionou ao lembrar da participação de Isaac Soares nos bailes de carnaval. 'Isaac foi o responsável pelos melhores bailes de carnaval dessa cidade: Baile do Tigre, Baile da Tigresa, Inferno Verde, sem esquecer é claro no concurso Rainha das Rainhas, até hoje uma marca única de nossa sociedade. Outra particularidade de Isaac era a facilidade em colocar apelidos nas pessoas. Foi ele quem começou a chamar carinhosamente as moças por nomes de frutas como ‘moranguinho’. O que hoje é imitado por todo mundo. Enfim, a perda de Isaac Soares é algo para se lamentar por muito tempo, pois o colunismo social não terá jamais alguém como ele', concluiu.
Ainda surpreso com a notícia Ronaldo Maiorana não encontrava palavras para qualificar o colunista. 'Todos têm qualidades e defeitos, mas Isaac Soares era uma pessoa difícil de se achar defeito em meio as inúmeras qualidades. Sua conduta de vida foi pautada pelo bem. Ele não fazia um colunismo de ‘panelinhas’, Isaac circulava e era bem recebido em todos os meios. Para ele a sociedade de Belém era um todo e não só determinados nichos. Acho pouco provável que alguém vá substitui-lo', disse com pesar.
Irmãos choram a perda e pontuam bondade
O jornalista e advogado Isaac Soares era o mais velho de uma família de seis irmãos, hoje somente três estão vivos: Marcos Soares, Salomão Soares e José Soares, que mora no Rio de Janeiro. Segundo Salomão, o irmão que está no Rio não virá ao enterro de Isaac. O colunista conhecido pelo seu requinte e boa educação é lembrado por todos como uma pessoa bondosa e sempre disposta a ajudar. Salomão precisa se esforçar para não chorar quando fala sobre o irmão.
'Ele não casou com uma mulher, mas casou com a profissão, com seu trabalho. Desde cedo ele se dedicou à política e depois ao jornalismo e ao colunismo social. Ele era um ótimo filho e um grande irmão, que sempre estava disposto a ajudar os mais necessitados. Uma pena não termos podido ajudar muito em sua luta contra a artrose, o diabetes e outras doenças que começaram a aparecer nos últimos seis anos
Salomão não estava no hospital quando o irmão faleceu, ele recebeu a notícia através de um telefonema de seu irmão mais velho Marcos. 'Eu estava em casa quando o Marcos me ligou. Eu tinha passado a manhã aqui (no hospital) ao lado dele e às 16 horas fui pra minha casa. Aproximadamente duas horas e meia depois disso o Marcos me telefonou dando a notícia', lembra. O aposentado disse também que o estado de saúde em que o irmão se encontrava nos últimos dias fez com que a família se preparasse para receber esta notícia a qualquer momento. 'Ele já estava muito mal e por isso já esperava que ele não vivesse mais muito tempo entre nós, mas mesmo não sendo uma surpresa, a notícia de sua perda foi um tremendo choque para todos nós', garantiu Salomão.
Aparentemente mais calmo, Marcos Soares, tomava a frente das decisões com relação ao sepultamento do corpo de seu irmão e falava simpaticamente com a imprensa, amigos e familiares que chegavam ao hospital. 'Antes de mais nada quero externar publicamente meus sinceros agradecimentos à família Maiorana pelo apoio prestado'.
Personalidade do 'tigre' é comentada por amigos da redação
'O Liberal era Isaac Soares. E Isaac Soares era O Liberal. A definição do colunista Ismaelino Pinto para o colega de redação mostra em poucas palavras o que significa o nome Isaac Soares para o jornalismo paraense. Ele, que também foi político, advogado e corretor de câmbio, deixou um lugar insubstituível no colunismo social do Estado, no início da noite de ontem.
Para Ismaelino Pinto, Isaac Soares era uma marca.'Eu me tornei colunista depois dele e enxergo Isaac Soares como um exemplo. Apesar da nossa relação ser apenas na redação de O Liberal, tenho um respeito muito grande pelo profissional que ele foi', conta. Mesmo com Isaac Soares afastado há bastante tempo da coluna social, segundo Ismaelino era impossível desassociar a imagem dele do jornal O Liberal.
Apesar da diferença de idade, Isaac Soares também foi muito amigo de Bernardino Santos. A amizade, que começou ainda nos anos 50, foi marcada por muitas histórias. Eles namoravam duas irmãs, na época em que Isaac ainda exercia a função de advogado. Para Bernardino, foi uma amizade muito boa e tranqüila que mesmo as posições políticas antagônicas não conseguiram abalar. Mais tarde, eles se encontraram na imprensa. No começo, Isaac trabalhou no jornal O Flash e assinava uma coluna com o pseudônimo 'Fred’s'. Ele não podia utilizar sua verdadeira identidade, pois tinha sido político. Logo depois, com o regime militar mais brando, ele foi contratado pela Folha do Norte, onde passou a assinar o seu nome.
Ele ficou no jornal até 1978, quando a publicação foi extinta. E, em seguida, ingressou em O Liberal, onde permaneceu até o resto de sua vida. Isaac Soares, segundo Bernardino Santos, tinha um texto voltado para o mundano, que falava sobre o dia-a-dia da população belenense, de festas e acontecimentos da sociedade. Inventou termos como 'Moranguinho', 'Tigresa', 'Tigrão', que viraram suas marcas registradas. 'O 'Tigrão', inclusive, chegou a virar o nome de um baile de Carnaval do Pará Clube, que existe até hoje. Já o 'Tigresa' deu nome a um baile da Assembléia Paraense', diz Bernardino Santos.
De acordo com Bernardino Santos, Isaac Soares também foi um solteirão convicto, apesar dos vários romances vividos. Ele nunca casou, mas teve uma vida profissional brilhante. Foi advogado, corretor de câmbio e, hoje, e unânimidade do colunismo social paraense. 'A morte do Isaac Soares com certeza vai abalar a sociedade, pois ele era aquele profissional que, mesmo trabalhando em uma coluna social, atendia todos as classes. Talvez isso tenha acontecido pelo fato de ter sido político. Ele tinha uma legião de amigos, que era desde o flanelinha até o governador do Estado. Além disso, ele também criou eventos, como o famoso concurso de beleza ‘Garota Verão’, conta.
Também colega de redação de Isaac Soares, o colunista do Amazônia jornal, Pierre Beltrand disse que ele era uma pessoa que multiplicava a sociedade e que, com certeza, irá fazer muita falta ao jornalismo paraense.
Botafogo era o time do coração e motivo de agradáveis conversas.

Antonio Carlos Pimentel Jr.

O jornalista Antônio Carlos Pimentel Jr, editor executivo do Jornal Amazônia, também lembra do amigo e das rodadas de futebol do Campeonato Brasileiro, que eram transmitidas aos domingos e quartas-feiras, na década de 90. Ele conta que, nesse época, descobriu um Isaac Soares que não aparecia nas colunas sociais: o Isaac apaixonado pelo Botafogo. 'Ficamos amigos, porque o Isaac Soares era botafoguense fiel, como eu e uns outros tantos na Redação daquela época - Sérgio Canhoto, Euclides Farias, Ítalo Gouvêa, Nildo Lima, para ficar só nos mais fervorosos. Isaac torcia e sofria', conta Pimentel.
Antônio Carlos diz o grupo de amigos fazia análises sobre a situação do Alvinegro nas competições que disputava. Assim que chegava para trabalhar, o jornalista logo ouvia de Isaac Soares: 'Tigre (Isaac costumava chamar todo mundo de Tigre), como está o nosso Botafogo?'.
Em 1995, Antônio Carlos conta que a nata alvinegra se reuniu em um bar do Umarizal para festejar a conquista do Campeonato Brasileiro sobre o Santos. 'Isaac marcou presença. Tomou uma dose de uísque com guaraná e comeu peixe assado na brasa, nossa provocação para tripudiar sobre o adversário abatido', conta o jornalista.
Segundo Antônio Carlos, com o passar dos anos a idade pesou e Isaac se afastou de seu convívio diário. 'Jamais da coluna, jamais do Botafogo. Mas valeu, Tigrão. Qua a estrela solitária te conduza', diz.
Políticos contemporâneos reconhecem humildade como marca.
O ex-governador do Estado Aurélio do Carmo recebeu com muita tristeza a notícia sobre a morte de Isaac Soares. Companheiros correligionários desde os tempos do Movimento Baratista, eles se conheceram nas lutas políticas que enfrentaram. Para Aurélio do Carmo, Isaac Soares foi um exemplo de dignidade e honestidade. 'Ele sempre olhou os necessitados e conseguiu cumprir as carreiras política e de jornalista de formas brilhantes. Eu e nossos amigos do Partido Liberal estamos muito triste com esta notícia', diz.
Já o ex-senador Jarbas Passarinho diz que teve uma ligação superficial com Isaac Soares, mas lembra que ele sempre o tratou com muito gentileza, apesar dos conflitos políticos que marcaram o ano de 1964, quando Isaac Soares foi vítima da cassação. Passarinho conta que nunca tinha visto alguém tratar um acontecimento tão grave com tanta serenidade. 'Isaac sempre foi muito simpático e me recebia de uma forma bastante fraternal. Ele era bastante criterioso na maneira que escrevia e é um exemplo muito grande para O LIBERAL', comenta Passarinho.
Amizades sinceras e respeito pela notícia faziam toda diferença
O colunista Adenirson Lage, além de amigo de Isaac Soares, tinha grande apreço pela família do jornalista. 'Ele freqüentava muito a minha casa e eu a dele. Principalmente, quando a mãe do Isaac, a dona Alegria, ainda era viva. Nós tínhamos uma relação muito fraternal, quase de irmão, nunca nos desentendemos. E essa amizade já estava completando quarenta anos'.
Adenirson Lage lembra que o amigo de redação sempre brincava com os outros colunistas. Como tinha muito ciúme da coluna que tinha em O Liberal, Isaac Soares não aceitava opiniões e que outras pessoas a fizessem. Ele dizia: 'já vieram pegar minhas notícias?'. Mesmo parecendo brincadeira, Adenirson conta que sabia que isso tinha um fundo de verdade, pois ele se dedicava muito aquele trabalho.
Gilda Medeiros, também colunista de O Liberal, conta que era amiga de Isaac Soares desde jovem. Para ela, o colunista sempre foi muito gentil e lembra que ele já namorou muitas de suas colegas. 'Nunca vi o Isaac Soares cometer um deslize. Eu tenho um sentimento de muita ternura por ele. Mas agora ele descansou, já estava com a saúde muito debilitada', lamenta.
Amigos e eternas rainhas do carnaval
O médico Rui Éleres de Souza era amigo de juventude de Isaac Soares. Conheceu o colunista quando jogava em um time de futebol amador e tinha 15 anos quando Isaac começou a ajudar os meninos doando camisas para o time. 'O Isaac sempre foi uma pessoa espetacular; sujeito amigo, educado e atencioso, sempre nos brindou com notas em sua coluna'. A amizade só fez estreitar quando a filha do médico, Rúbia Rocha, disputou o concurso Rainha das Rainhas do Carnaval pelo Pará Clube. 'Nós lamentamos profundamente a morte do Isaac. Ele vai deixar uma lacuna muito grande nos meios sociais de Belém e será muito difícil substituí-lo', diz o coronel médico da PM e professor da UFPA. Sócio do Pará Clube, onde o colunista realizava o famoso Baile do Tigre, Rui Éleres destaca que sempre manteve contato com Isaac, mesmo quando o colunista estava muito doente. 'Ele, mesmo doente, não deixava de freqüentar o clube e nós o recebíamos sempre com muita distinção e carinho. Deixará muita saudade'.
Uma das mais famosas Rainha das Rainhas do Carnaval, a socialyte Edna Azevedo, hoje diretora social da Assembléia Paraense, não esconde a comoção ao falar do 'Tigre'. 'Pessoa maravilhosa e determinada, ele ia para o clube mesmo quando já estava doente', conta Edna. 'Ele era um bom amigo, de quem gostava muito', afirma a ex-rainha. Foi da mãe, Luiza Azevedo, que herdou a amizade do velho colunista. 'Minha mãe era muito amiga dele e gostava demais do Isaac. Lamento muito o seu falecimento', declarou Edna Azevedo.
Outra diretora da Assembléia, clube onde o 'tigre' sempre prestigiava o famoso Baile das Debutantes, Edila Santos, chora ao falar do amigo. 'Gostava muito dele; era uma pessoa carismática, de alma generosa e totalmente desprovido de vaidades pessoais'. O jeito coloquial de escrever sobre o dia-a-dia das personalidades de destaque do mundo social paraense, agradava a todos, conta Edila. 'Ele fazia uma coluna muito boa. Era, de fato, uma pessoa muito especial, simples e de alma bondosa', destaca. 'É uma perda muito grande, porque mesmo distante por conta da doença, ele tava sempre presente'. Tem certos eventos que a gente continua fazendo que é são a cara dele, como o Baile das debutantes. E ele não perdia um. Mesmo com dificuldade de locomoção, fazia questão de prestigiar', lembra. A generosidade e o respeito com o ser humano, são traços marcantes da personalidade do colunista destacados pela diretora da Assembléia. 'A maior generosidade dele era com o ser humano. Ele dava carinho, dava atenção e não negava um sorriso', completa.
A empresária Izabel Cristina Rodrigues Rezende, outra que se destacou como Rainha das Rainhas do Carnaval, pela Assembléia Paraense, também refere-se à 'retidão de caráter' presente em Isaac Soares. 'Ele não gostava de ganhar presentes. Quando alguém insistia com ele, ficava até bravo', lembra, acrescentando que admirava o fato de Isaac ser extremamente ético e profissional. 'Era uma das pessoas mais éticas que já conheci em toda a minha vida', declara. Sobre o profissional, ela resume: 'Ele adorava o que fazia. Por isso que fazia tão bem. Foi um marco no colunismo social em Belém'. Para definir o colunista, de quem era amiga há anos, Izabel Rezende resume: 'era uma pessoa muito especial e amiga e as pessoas que tiveram a oportunidade de conhecê-lo mais de perto, podem testemunhar a grande figura humana que ele era'.

Transcrito do Amazônia - 20.12.2008

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Com essa transcrição rendo as minhas homenagens póstumas ao colega Isaac Soares, com minhas condolências à família.

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