Olga Borelli não é um nome conhecido do grande público. Somente quem se interessa pela biografia de Clarice Lispector sabe de quem se trata. Ela foi uma das amigas mais fiéis que Clarice teve nesta vida. E tudo começou por acaso. Olga estava à frente de uma promoção beneficente e um dos itens a ser vendido eram livros de Clarice. Para valorizar o produto, venceu a timidez e ligou para a autora, perguntando se podia autografar os exemplares. Clarice topou e, se não me engano, deixou os livros na portaria do prédio onde morava. A promoção foi um sucesso e, quando Olga voltou à casa de Clarice para deixar umas flores, em agradecimento à gentileza, foi recebida com um cartão, no qual a escritora pedia àquela desconhecida que fosse sua amiga. Quando Clarice morreu, em 1977, Olga era a mais querida e dedicada das amigas que alguém poderia querer ter. Histórias assim, claramente escritas, dão à amizade um gosto especial de bem-querer. Minha amizade com o Denis Cavalcante não começou com um gesto dessa natureza, mas eu consigo pontuá-la direitinho.
Era inverno no Rio e estávamos, com nossas famílias, no Rio Sul. Em julho, os paraenses se encontram no Rio. Eu identificava o Denis, mas a figura ignorava minha existência. Ele estava em frente de uma loja finíssima, quando me aproximei e o cumprimentei. Ele fez aquela cara de Denis-que-fala-por-educação. Até hoje, jura que eu inventei esse encontro. Como do Denis vale a pena ser amigo e com ele jamais discutir pontos de vista, nem naquele, como em outro qualquer outro instante, pedi para sermos amigos. Ele também não acenou com um sinal relevante, mas isso é o de menos. Quando alguma coisa tem que acontecer, ninguém duvide: acontece.
Aos poucos, aquele cara de Belém foi deixando de ser estranho ao carioca de Botafogo, que veio parar aqui e nunca mais foi embora. Um dia, quando os dois perceberam, já tinham deixado para trás as terras da amizade e passaram a habitar o território da fraternidade. De repente, já me sentia 'fratello' do Denis. Tal como foi um dia o querido Luís Roberto Meira, que também gostava dele como se ama um irmão. Assim como eu, o Luís Roberto era uma pessoa que vivia a subjetividade ao extremo. Ao contrário de nós dois, o Denis é a própria exterioridade. E tão estranho como duas pessoas tão diferentes terem tantas afinidades, é o fato de se quererem tão bem. Amizade não precisa de permissão para acontecer e, principalmente, para se solidificar. Vai nascendo, criando raízes e, quando se percebe, já é cumplicidade. É uma loteria na qual se ganha todos os dias. Do Denis, ou se gosta, ou não se gosta. Não há meio termo. Eu gosto muito, muito dele, porque conheço, como pouca gente, sua alma boa.
Tirando o caso de Clarice, só vivi uma experiência de poder escolher uma pessoa para ser amiga e com ela, há três décadas, repartir o melhor afeto de seu coração. Como escrevi há muito tempo, aqui mesmo, em O Liberal, seu nome não digo porque está escrito em cada palavra desta crônica-quase-balada'. Mas quando a amizade acontece, é possível até que ela vire uma história. A minha amizade com o Denis acabou virando mais do que uma história. Ela se transformou em livro. O livro se chama 'Rio Memória' e vamos autografá-lo hoje à noite, na AP da Presidente Vargas. Considero o Denis um cronista de verdade. Como amigo, ele também é extraordinário. Ninguém se arrisca a dividir um livro com uma pessoa que, no mínimo, não seja especial. Para mim, o Denis é mais do que especial. É um irmão.
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Era inverno no Rio e estávamos, com nossas famílias, no Rio Sul. Em julho, os paraenses se encontram no Rio. Eu identificava o Denis, mas a figura ignorava minha existência. Ele estava em frente de uma loja finíssima, quando me aproximei e o cumprimentei. Ele fez aquela cara de Denis-que-fala-por-educação. Até hoje, jura que eu inventei esse encontro. Como do Denis vale a pena ser amigo e com ele jamais discutir pontos de vista, nem naquele, como em outro qualquer outro instante, pedi para sermos amigos. Ele também não acenou com um sinal relevante, mas isso é o de menos. Quando alguma coisa tem que acontecer, ninguém duvide: acontece.
Aos poucos, aquele cara de Belém foi deixando de ser estranho ao carioca de Botafogo, que veio parar aqui e nunca mais foi embora. Um dia, quando os dois perceberam, já tinham deixado para trás as terras da amizade e passaram a habitar o território da fraternidade. De repente, já me sentia 'fratello' do Denis. Tal como foi um dia o querido Luís Roberto Meira, que também gostava dele como se ama um irmão. Assim como eu, o Luís Roberto era uma pessoa que vivia a subjetividade ao extremo. Ao contrário de nós dois, o Denis é a própria exterioridade. E tão estranho como duas pessoas tão diferentes terem tantas afinidades, é o fato de se quererem tão bem. Amizade não precisa de permissão para acontecer e, principalmente, para se solidificar. Vai nascendo, criando raízes e, quando se percebe, já é cumplicidade. É uma loteria na qual se ganha todos os dias. Do Denis, ou se gosta, ou não se gosta. Não há meio termo. Eu gosto muito, muito dele, porque conheço, como pouca gente, sua alma boa.
Tirando o caso de Clarice, só vivi uma experiência de poder escolher uma pessoa para ser amiga e com ela, há três décadas, repartir o melhor afeto de seu coração. Como escrevi há muito tempo, aqui mesmo, em O Liberal, seu nome não digo porque está escrito em cada palavra desta crônica-quase-balada'. Mas quando a amizade acontece, é possível até que ela vire uma história. A minha amizade com o Denis acabou virando mais do que uma história. Ela se transformou em livro. O livro se chama 'Rio Memória' e vamos autografá-lo hoje à noite, na AP da Presidente Vargas. Considero o Denis um cronista de verdade. Como amigo, ele também é extraordinário. Ninguém se arrisca a dividir um livro com uma pessoa que, no mínimo, não seja especial. Para mim, o Denis é mais do que especial. É um irmão.
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João Carlos Pereira
● Transcrito de “O Liberal” - 15.12.08
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