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5/01/2008

José Wilson Malheiros


ÉCOS DA MISÉRIA

Recentemente bispos católicos denunciaram na mídia fatos deprimentes que, segundo eles, estão acontecendo em nossa sociedade.
Os denunciantes têm, notoriamente, enorme credibilidade.
Creio que estamos diante de um verdadeiro “J”Accuse” ( Eu Acuso!), situação em que Emile Zola verberou, na França, contra injustiças gritantes do regime político então ali vigente.
Só esperamos que os ilustres sacerdotes não recebam, como o escritor francês, uma condenação criminal nem sejam molestados pelo crime organizado em virtude da grave acusação que fazem, de peito aberto.
Eles denunciam o tráfico de adolescentes e mulheres na Amazônia, principalmente no Marajó (Portel, Melgaço, Breves etc).
Digo desde já que os fatos em questão não são privilégio de nosso Pará, pois se alastram, e não é de hoje, pelo país inteiro.
Crianças e adolescentes, muitas vezes levados e “vendidos” pelos próprios pais, são obrigados a negociar seus corpos a troco de um prato de comida!
Meninos e meninas perambulam pelas beiras de estrada, pelas horas da noite e até mesmo nas prosaicas igarités, na ânsia de um prato de comida, mesmo que isso implique em vender a dignidade e a inocência.
Segundo o bispo que vi dando entrevista, uma menina de Portel foi presa no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, quando se preparava para embarcar no rumo da Espanha.
Ao ser apanhada a pobre criatura falou que muitas meninas, antes dela foram parar nas garras do monstro da prostituição em plagas européias e que depois dela iriam embarcar muitas e muitas outras, verdadeiras escravas da miséria, da falta de valores familiares positivos entre outros fatores.
A sociedade, como um todo, só tem a ganhar quando religiosos saem dos templos suntuosos, das cerimônias, dos cultos exteriores, dos supostos milagres a troco de dinheiro, das posturas piegas e apocalípticas e vão para as ruas, com o enorme poder que detêm sobre as massas, para conduzi-las a um paraíso que deve começar aqui mesmo na Terra, com mais atenção à saúde, à educação, a salários mais justos, enfim, a melhores condições para o povo sofrido, que, afinal de contas, é a maior parte do rebanho do – verdadeiro – Cristo.
Pobreza, por si só, não é sinal de virtude. Mas os valores morais e cristãos são mais bem praticados e assimilados quando se tem a barriga cheia e a dignidade resgatada, inclusive para que se possa pagar os impostos sem faltar o pão nosso de cada dia na mesa.



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jwmalheiros@hotmail.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Senhor Feio, este artigo do José Wilson Malheiros foi uma das coisas mais lúcidas que já vi publicadas aí no Pará sobre assuntos sociais. Parabéns a todos.
Paulo Maduro, Rio de Janeiro